Capítulo 5

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O sol ainda não havia ido completamente embora então o clima era de finalzinho de tarde com aquele friozinho gostoso.

Agora, eu e Alex estávamos dentro do carro. Voltando alguns minutos atrás ainda estávamos em pé na calçada do meu prédio quando ele disse que eu estava incrível e não tive palavras para dizer algo além de "obrigada!" e sorrir. Georgia teria me chamado de tapada, aposto, eu também me achei um pouco. Admito.

Paramos em um sinal vermelho e percebi que Alex me olhou de canto, pelo menos, duas vezes. Talvez estivesse esperando que eu falasse algo. Não queria parecer chata – já estou parecendo – eu apenas não sei o que dizer.

-Então, quantos dias na semana você trabalha? – pergunto quebrando o silêncio.

-Trabalho durante a semana inteira, tenho folga aos sábados e domingos. – diz.

-Deve ser difícil conciliar trabalho e faculdade. – olho para ele, prestando atenção em sua expressão.

-É muito. – suspira – mas o trabalho me dá boa parte do dinheiro para pagar a faculdade. Então, não estou reclamando mas, às vezes, me pergunto por que não nasci herdeiro. – rimos.

Meu riso foi mais de nervoso, porque eu jamais poderia fazer essa piadinha já que, de fato, sou herdeira.

-Nossa, você consegue sustentar a faculdade de medicina com o salário do restaurante? – ele balança a cabeça. O sinal abre e ele continua ao volante.

-Não. Eu também faço alguns trabalhos por fora. Por exemplo, aprendi um pouco de jardinagem com minha mãe, então eu sei podar plantas e algumas outras coisas. – diz.

Ele, a cada minuto que passa, se torna mais interessante. Sinto um medo tomar meu pescoço em forma de arrepio, tenho receio de dizer para ele que, aquela noite no restaurante, foi uma das primeiras em que feri minha mão por algum vidro de utensílio, no caso garrafa, já que nunca quebrei um prato na mão, isso porque nunca lavei um.

As suas palavras em relação ao dinheiro que ganha fazendo algumas outras coisas ou apenas trabalhando no restaurante me fizeram pensar em algo que eu considerei um tanto quanto ponderável, mas que não perguntaria porque seria invasivo demais: como eu estava com ele dentro de um BMW?

Franzi a testa. Percebi que não havia respondido sua última fala e voltei a atenção para o seu rosto.

-Ah, é? – pergunto – já aprendeu a fazer aquelas esculturas com arbustos então – ele me olha de soslaio.

-Aquilo é um terror – fala levando uma das mãos à testa dramaticamente. – juro, foi pior do que aprender a suturar na faculdade.

-Ah, mas se você aprendeu a suturar tão perfeitamente, duvido que nunca conseguiu fazer um coelho em um arbusto da mesma forma. – sorrio.

Chegamos ao restaurante e ele estacionou o carro, me olhando em seguida. Encaro cada parte do seu rosto e fico mais admirada. Seus olhos parecem comportar um oceano inteiro dentro deles. Seu rosto é todo na medida certa daquilo que me traria problemas. Seu cabelo, perfeitamente arrumado em um coque, me da muita vontade de passar a mão e saber se é tão macio quanto eu penso que seja. O perfume amadeirado toma conta de todo o carro e eu sinto ele se misturar ao cheiro do meu um pouco doce.

Ele em olha em silêncio, assim como eu. Vejo o canto de seus olhos se enrugarem e me pergunto por que.

-O que foi? – agora eu pergunto a ele.

-Não sei, você ficou tão calada me olhando que penso estar fazendo um rastreio de meu perfil na sua cabeça. – fala, agora soltando o riso que antes estava prendendo.

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