Marco pt 2

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Agora eu estava em casa limpando as mãos feridas enquanto ando de um lado para o outro tentando assimilar o que aconteceu e o que pode acontecer a partir de agora. Bebo de uma vez um copo de uísque, preciso pensar rápido. Mas não tiro aquela cena da cabeça.

O que eu fiz?

2 horas antes

Por várias vezes eu já tinha dito ao meu terapeuta que estava conseguindo controlar boa parte dos meus sentimentos, mas não estes que eu sinto no meu mais íntimo. Ele havia me dito que isso é teste de paciência e que demoraria um pouco para que eu chegasse até a cura desses sentimentos mais aflorados.

Alicia não estava ajudando.

Não que eu quisesse culpar ela por tudo – a maior parte da culpa era dela, óbvio. – mas ela não estava ajudando com coisas mais simples como: respeitar o final do relacionamento. Ao contrário, já estava se esfregando com qualquer pé rapado que achou durante o caminho. Enquanto eu parecia estar sofrendo por dois.

Alicia adiantou os passos, vindo em minha direção, sorri incrédulo.

-O que você está fazendo aqui, Marco? – disparou, parecia furiosa. Ela estava.

-Eu vim buscar as minhas coisas no escritório, como tenho tentado fazer há um mês e você não está em casa nunca. – retruquei.

-Você poderia ter me avisado e eu deixaria na portaria.

-Eu tentei falar com você, mas não tive resposta. – cambaleei um pouco no mesmo lugar.

-Está bêbado. – ela disse e sorriu incrédula em seguida – não acredito que veio para frente do meu prédio fazer alvoroço. Sabia que estava sob efeito de álcool, acho melhor ir embora. – ela disse dando as costas.

-Não vou embora. – afirmo.

-Você não tem o que fazer aqui, Marco. – ela entona mais a voz, se mantendo de costas.

-Vim buscar o resto das minhas coisas.

-Eu vou deixar com o porteiro. Já disse.

O homem olhava tudo sem pronunciar uma palavra, estava imóvel, mas não o deixei assim por muito tempo. Cerrei meus punhos e senti toda a raiva correr pelas minhas veias até chegar a minha mão fechada, o sangue bombeava forte ali e, antes que ele pudesse dar meia volta e entrar no carro, acerto seu rosto, fazendo-o cair no chão.

-MARCO! – Alicia dispara, se joga ao chão e pega o rosto do homem para olhar o estrago. – o que você pensa que está fazendo? – ela vira a cabeça para mim.

-Alicia, me deixe. Eu consigo me levantar, não se preocupe. – o homem pede e se levanta com mais facilidade do que eu pensei que seria. Ele chega até mim com três passos largos e me olha no fundo dos olhos.

– Você tem muita sorte de estar lidando com uma pessoa que sabe exatamente onde está com a cabeça. Se você me pegasse alguns minutos antes, talvez estivesse saindo daqui com ajuda de uma cadeira de rodas. Vou te dizer uma coisa apenas: você está falando com uma pessoa relativamente calma agora porque Alicia consegue puxar as melhores coisas de dentro de mim e aflorá-las. Você é uma pessoa tão ruim e patética que nem isso ela conseguiu fazer com você e precisou destruí-la para dar importância agora? – ele me atinge com suas palavras.

Eu estava ficando de saco cheio do falatório daquele cara. Ele está com a minha ex. Achando que tem o total direito de levantar a voz para mim e desferir aquele tanto de baboseira.

Agora não era meus punhos que tinham a raiva acumulada, era o meu corpo inteiro. O que vem em seguida são alguns flashes dos quais não consigo ter clareza suficiente. Mas o empurrei. O empurrei tão forte que ele acaba se esbarrando em Alicia que está logo atrás, sendo protegida pelo seu corpo segundos antes.

Vejo seus cabelos vermelhos voarem como em câmera lenta e ela se desequilibra do meio fio, indo em direção à pista. Levando em consideração que aquela era uma pista de relativo alto rolamento, os carros correm a 70km. Não da muito tempo do homem se virar para pegá-la e então ouço um impacto forte. O barulho dos saltos de suas botas batendo no asfalto, enquanto seu corpo rola sobre ele, é alto demais agora. O homem corre em direção a ela e eu fico parado.

Parece que levei um banho com balde cheio de gelo e meu corpo todo esfria. O homem grita. Grita para que chamem uma ambulância, mas todos estão consideravelmente chocados que nem saem do lugar. Ele mesmo pega o celular e liga. Já estou próximo a Alicia. Ela está desacordada e sua testa sangra bastante.

-Tire as mãos dela! – ouço um grito ecoar do outro lado da rua. Era Georgia.

Ela correu em direção à amiga no chão e suas lágrimas pingam no asfalto.

-O que aconteceu? – Georgia passa a mão com delicadeza no rosto de Alicia. – o que você fez com ela? – ela agora espalma as mãos no meu peito. – o que você fez, porra? O que você fez, Marco? – ela me perguntava, mas eu não tinha forças para responder. Eu não sabia o que responder, porque nem eu sabia o que tinha feito afinal.

-Eu vou ligar para a polícia. – ela dispara.

O quê?

Tento pegar o celular da mão dela.

-Eu não fiz por querer. – retruco.

-Mas você fez. – persiste. – e eu vou ligar com ou sem você aqui, Marco. Você tentou mata-la.

-Não foi proposital. – digo e repito isso várias vezes comigo mesmo até pegar o carro e dirigir para longe dali. As lágrimas correm no meu rosto na mesma velocidade que o carro na estrada. Mordo o lábio inferior e ligo para a mãe de Alicia, dizendo que ela sofreu um acidente. Angelle se desespera do outro lado do telefone. Digo que não tem necessidade dela vir para Copenhagen, que estou resolvendo tudo, que estou com ela.

Minto.

Ela insiste. Eu digo que não precisa. Ela insiste mais uma vez e eu me exalto. Ela pergunta o que eu fiz com a filha dela e eu desligo assim que ouço a voz do pai de Alicia perguntar o que aconteceu.

Eu precisaria dar um jeito nisso. Eu não tinha feito por querer e teoricamente o corpo de Alex que se esbarrou em Alicia. Ela não deveria estar atrás dele. Não deveria confiar a sua segurança a um cara como aquele.

Momento atual

A culpa não foi minha.

Penso.

Eu estava chateado.

Afirmo para mim mesmo.

Ela estava no lugar errado.

Concluo.

Convenço-me das minhas palavras e isso me acalma.


Olá, meus amores, espero que estejam gostando até aqui. Está me dando muito trabalho escrever o Marco porque eu sempre vejo ele como um bebê na vida real KKKK imagine fazer um marido assim, mas é só ficção, ele é o melhor do mundo no real, aposto. Até o próximo <3

Escrevi o capítulo ouvindo essa música, amo muito. O Justin sempre me ajuda a aflorar a criatividade.

All of usOnde histórias criam vida. Descubra agora