Capítulo 4

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Algumas noites eu dormia em casa, algumas outras dormia na casa de Georgia. Eu fico muito feliz que a minha rede de apoio esteja sendo tão grande. Algumas pessoas no trabalho me abraçavam e nem diziam nada, mas eu entendia o porquê. Algumas vezes eu recebia olhares um tanto quanto duvidosos e, nesses momentos, era doloroso.

Hoje eu estou na casa de Georgia. Estamos tomando vinho e vendo a final da copa do mundo. Ela diz que Mbappe é muito lindo e que ficaria feliz se um dia pudesse conhecer ele, que admira o seu futebol. Para falar bem a verdade isso foi a única coisa que eu consegui ouvir, porque de resto eu só estava olhando para o telefone do delivery que Alex mandou pelo colega na outra noite.

Uma pontada de curiosidade me toma porque eu fico me perguntando se, de fato, o telefone era do restaurante ou o seu. Tenho medo de me relacionar agora. Não tenho mais nada com Marco e, por vezes, Georgia diz que eu mereço me entregar novamente a um novo amor.

Mas como fazer isso se eu fui casada durante dois anos e só conheci a parte tóxica de um relacionamento?

Tenho medo de Marco me seguir nos lugares. Tenho receio dele estar me observando e acabar criando alguma confusão. Não tive filhos, em partes, por isso. Não que as pessoas devessem começar um relacionamento pensando em quando iriam terminar, mas fico me perguntando e me sinto aliviada por não ter que lidar com a dor da separação e ter de explicar a uma criancinha o porquê disso ter acontecido. É doloroso demais para eles, sei porque passei por isso com meus pais.

Olho mais algumas vezes o telefone e me levanto em seguida, abrindo a parte das chamadas em meu celular, começando a digitar o número.

-GOL DA FRANÇA! – estremeço porque penso que, por algum motivo, Georgia estava gritando porque finalmente tive coragem de discar o número. Ainda bem que não é por isso.

-Vou até a cozinha, você quer alguma coisa? – pergunto.

-Você consegue trazer o Mbappe para mim? – ela pergunta focada na TV.

Reviro os olhos e sigo em direção da cozinha.

Disco o telefone e espero chamar. Desligo no segundo "tum" que ouço.

Qual é, Alicia, vai logo! Você parece uma adolescente apaixonada. O que pensa que vai acontecer quando ligar? Ele vai te pedir em casamento pelo telefone?

Suspiro. Volto a discar o telefone e agora espero chamar, até que a voz dele soa na ligação.

-Alô? Quem fala?

-Alô. Eu.

-Eu quem? – percebo o riso pelo nariz que ele dá. Ele sabia que era eu.

-Eu, Alicia. - digo por fim.

-Pois não, Alicia? Como posso ajuda-la? – pergunta.

-Primeiro, uma dúvida: esse telefone é seu ou do restaurante mesmo? – ouço ele rir.

-Você acha mesmo que eu te daria o telefone do restaurante? – pergunta.

Sigo em silencio.

-É meu, se você ligasse para o restaurante, com certeza, teria 0,1% de chance em 100% de falar comigo. – sigo em silêncio – alô? Você ainda está aí?

-Sim, estou. É só que eu não sei o que dizer agora. – respondo sem jeito.

-Podemos começar com coisa pouca. Primeiro quero perguntar uma coisa também. – ele silencia me deixando permitir.

-Sim?

-Você se incomodou por eu ter te mandado meu número ou achou uma atitude exagerada? – pergunto.

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