Alex

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Segurei tão firme a bancada que as juntas dos meus dedos agora estavam brancas, nenhum sangue passava ali – acho que nem no meu cérebro, porque comecei a ficar completamente tonto e sem noção de espaço, só conseguia me aproximar mais dela.

Alicia segurou meus ombros dando impulso, isso me fez ir para frente, achei que nossos lábios fossem se encontrar, mas isso não aconteceu, ela virou o rosto e desceu da bancada.

-Preciso ir ao banheiro. – ela disse se afastando. Não se afastou rapidamente, fez isso de forma cautelosa. Vi quando passou as mãos pelos cabelos e suspirou fundo.

Ela sente tanto quanto eu.

Voltei minha atenção para a chaleira que agora já derramava um pouco de água no fogão de tanto ferver. Abri o pote e coloquei um sachê de camomila dentro da chaleira, desliguei e deixei em cima da bancada, esperando que esfriasse.

Hoje eu teria de ir ao restaurante, estava escalado para trabalhar, teria um jantar de pessoas influentes e precisariam de todos os garçons da casa. Não queria deixar Alicia sozinha, então resolvi pergunta-la se ela queria ficar na casa de Georgia, mas sua resposta me surpreendeu mais.

-Não, eu quero ir para o meu apartamento. – disparou.

-Você tem certeza disso? – pergunto.

-Sim.

Ficamos em silêncio.

Quebro o silêncio.

-Quando eu sair do trabalho, você quer que eu te busque?

-Não. – ela suspira puxando uma cadeira da mesa e aponta para a cadeira a frente dela, sento ali. – Alex, você tem sido uma pessoa incrível. Tem me ajudado bastante, cuidado de mim, de nós. – olha para a barriga e da um sorriso amarelo. – mas eu acho que está na hora de eu encarar a minha realidade. Sou uma recém-divorciada, com a descoberta de uma gravidez, meu emocional não está me ajudando nem um pouco e eu não quero te confundir ou depositar expectativas em você que, até então, não podem ser alcançadas. Eu agradeço o tempo que você me deixou ficar aqui. Foram dois meses, isso é demais para duas pessoas que nem tem um status de relacionamento definido.

-Mas eu não me importo de te ajudar, Alicia. – retruco.

-Você não está entendendo que está fazendo por mim além do que deveria estar?

-Porque é isso que as pessoas fazem, sejam amigos, namorados, vizinhos ou família, as pessoas se ajudam. – digo puxando a cadeira um pouco mais para frente, ficando mais perto dela. Pego uma de suas mãos com a minha mão e acaricio. – Eu me sinto bem ajudando você desde a primeira noite em que nos conhecemos.

-Alex... – ela me olha de relance e depois desvia os olhos. – eu já me decidi.

Aquilo termina toda a conversa. Ela não iria ceder. Ligo para Georgia e digo que Alicia está voltando para o apartamento. Peço para ela não dizer que eu liguei, apenas chegar de surpresa na casa de Alicia e perguntar se ela precisa de alguma coisa.

Não sei onde errei. Eu errei? Onde eu poderia ser melhor? Eu poderia ter ajudado mais?

Não sei. Talvez não, ela tem os motivos dela.

Alicia desce as escadas em silêncio. Tomo a mala que está em suas mãos e coloco no carro. Abro a porta para que ela entre no banco do passageiro e me dirijo para o motorista. Ficamos em silêncio todo momento, durante todo o trajeto. Chegamos à frente do seu apartamento, ela abre a porta do passageiro e desce, antes mesmo que eu possa ajuda-la. Pego sua mala no banco de trás e caminhamos em silêncio até a recepção.

-Dona Alicia! – o porteiro fala com animação e surpresa. Olha para a barriga dela e depois me olha de relance, estranhando talvez a nova cara que acompanhava Alicia. Isso me fez lembrar a animação da médica ao dizer "Parabéns, papai" dois meses antes no hospital.

-Olá, Ronald. – ela sorri gentilmente. – cartas para mim?

-Diversas! – ele se apressa em pegar algumas cartas no armário atrás de si.

Alicia recebe as cartas e olha os nomes dos remetentes. De relance, vejo que o porteiro não para de me encarar, me olhando de cima abaixo e olhando a mala de Alicia.

Porteiros e suas habilidades fofoqueiras.

Alicia tira os olhos da carta e volta eles para o porteiro.

-Alguém veio me procurar, Ronald?

-Sim, dona Alicia.

-Quem?

-O seu Marco. – a adrenalina corre as minhas veias e eu solto um ar de riso pelo nariz. Alicia engole em seco e balança a cabeça para o porteiro.

-Certo... obrigada. – ela anda até o elevador e a porta se abre, entramos em silêncio.

Andamos pelo corredor da mesma forma que viemos pelo elevador.

Eu preciso dizer algo. Eu quero dizer algo.

-Não é seguro para você aqui. – disparo.

Ela balança a cabeça.

-Também não é seguro para mim na sua casa, Alex.

-Claro que é, ele não sabe onde te encontrar.

-Ele vai descobrir, ele descobre tudo, Alex.

-Não importa, eu sei como você está quando você está por perto, aqui eu não sei.

-Alex... – ela chama meu nome em um pedido de que eu pare de falar.

Eu me calo. Ela põe a digital na porta que logo se abre. Passamos para dentro do apartamento. Está com as cortinas fechadas e aparentemente intacto. Faz frio porque a temperatura caiu bastante e eles moram na cobertura – ela mora na cobertura, melhor dizendo.

Permaneço na sala enquanto ela anda por todo o apartamento. Logo ela volta para sala.

-Ele não esteve aqui. As coisas estão todas no lugar. – diz.

Isso me faz ter uma breve sensação de alívio, penso que ele tenha superado talvez.

Balanço a cabeça e coloco as mãos nos bolsos.

-Bom, está entregue. Preciso ir porque daqui a pouco preciso entrar no serviço. – ela assente com a cabeça. Me viro e abro a porta. Estou quase com o corpo para o lado de fora quando ouço Alicia me chamar.

-Alex.

-Sim?

Ela anda até mim com rapidez, se põe na ponta dos pés e segura meu rosto com as duas mãos, olha nos meus olhos e me dá um selinho demorado, muito demorado. Envolvo sua cintura com um de meus braços e com o outro empurro a porta, fechando-a atrás de nós. Seu beijo é cheio de um pedido como "não vá embora, fique comigo."

Alicia, você me confunde tanto...


Olá, meus amores! espero que vocês estejam gostando <3 muito obrigada por estarem aqui comigo. Até o próximo capítulo.


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