Casamento Esquecido - Wong Yukhei

Beijo roubado

— S/n? — Yukhei chamou-a quando entrou no quarto depois de tomar banho e ela tirou os olhos do livro.

— Diz.

— Ando há dias para te perguntar se sabes o significado do meu leão. — apontou para a tatuagem nas costelas.

— Sei, explicaste-me quando a escolheste. Deixa ver se me lembro. — ele foi sentar-se ao lado dela na cama — Acho que era símbolo de poder, luxúria, autoridade e mais uma ou duas coisas, mas ao mesmo tempo de... compaixão e generosidade. Seria? Acho que é algo assim. Resumidamente, combina contigo.

— Hm, parece-me bem. — puxou a t-shirt que estava ao fundo da cama e vestiu-a.

— Yukhei, posso fazer-te uma pergunta?

— Sim, acho que é justo.

— Porque é que dormes vestido?

— Tu dormes despida?

— Não, mas tu sim. Costumavas dormir de boxers, andar pela casa de boxers ou com uns calções, ias ao jardim com um roupão porque a vizinha parece o vídeo árbitro, repara nos pormenores todos...

— Tens ciúmes da vizinha?

— Sim! Porque ela tem idade para ser tua mãe e não parece perceber que tu és casado. — fez uma pausa entre cada sílaba da última palavra e o marido riu-se — O foco não é a vizinha que te come com os olhos. Estava a perguntar porque costumavas não gostar de dormir com camisolas e isso, então se estiveres a fazê-lo por te sentires desconfortável comigo... não sintas. E, se preferires, eu posso ir para o outro quarto e ficas à vontade. — os olhos negros dele encontraram os dela e foi abraçá-la.

— Obrigado. — ela suspirou como se estivesse à espera daquilo há muito tempo, se calhar até estava.

— Yukhei, eu amo-te, mesmo que não te lembres. Quero que te lembres da nossa vida, mas que estejas confortável. Se quiseres sair, sais, se quiseres dormir sozinho, dormes, se quiseres andar nu, andas. Eu vou respeitar qualquer decisão tua, não precisas de ficar reticente ou ter vergonha ou qualquer coisa. Podes fazer as coisas à tua vontade, eu vou reclamar se não gostar.

— Parece que não estava errado quando dizia que eras perfeita.

— Oh! Não sejas tolinho. — beijou-lhe a bochecha e separaram-se — Queres que vá para o outro quarto?

— Não, deixa-te estar. Eu próprio me mudo se não estiver bem.

⁠♥

Já eram três da manhã e Yukhei ainda andava às voltas na cama sem conseguir dormir. Já tinha lido quase dois livros, os que pareciam os mais entediantes da estante, já tinha ouvido música de embalar, e nada.

Meteu o livro na mesinha de cabeceira e foi à cozinha aquecer uma caneca de leite, deixou arrefecer um pouco e bebeu tudo antes de voltar para o quarto.

Deitou-se debaixo do cobertor e virou-se para a esposa de quem ainda não recordava muita coisa.

— S/n? Estás a dormir? — tocou-lhe duas vezes na bochecha e ela não reagiu.

Tinham estado a estudar juntos como era costume, mas ela adormecera em cima dos livros, então o rapaz decidiu que era melhor deixá-la dormir na sua cama em vez de a levar para a casa do lado, porque ela iria acordar e seria difícil voltar a adormecer. Seria um problema, visto que já não tinha dormido na noite anterior.

Depois do jantar foi deitar-se também, porque já não tinha companhia para estudar e não gostava de o fazer sozinho.