Coisar a gravata

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- Este ar fresco faz mesmo bem. Sinto-me três meses mais nova. - o marido riu-se quando a viu abrir os braços e respirar fundo.

Estavam no parque à frente das casas da infância de ambos a prepararem-se mentalmente para o casamento que teria início daí a uma hora. Era o casamento de Kun e Daiyu, mas o deles tinha sido ali também.

Tinha muitas árvores, mas também tinha muito espaço livre delas onde dava para ver perfeitamente o céu claro e agora estava ocupado, parte dele, com cadeiras para os convidados e um altar improvisado.

- Quando é que vais lembrar-te do nosso casamento? - S/n meteu-se debaixo do braço dele e abraçou-lhe a cintura.

- Não sei, amor. Se dependesse de mim não o tinha esquecido sequer. - deu-lhe um beijo depois de a ouvir suspirar.

- Queres ver a nossa árvore?

- Temos uma árvore aqui?

- Mais ou menos. - empurraram o carrinho do bebé até à ponta do parque de onde se viam as casas - É esta! Ainda cá está. - apontou para uma delas - Lembras-te disto? - passou os dedos por cima de uma marca no tronco e ele aproximou-se mais.

- São as nossas iniciais!?

- Sim, foste tu que as puseste cá quando éramos miúdos.

- Vê se encontras uma pedrinha. - ele pediu-lhe e S/n revistou o chão relvado como ele.

- Encontrei. Esta dá? É para quê?

- Vou fazer um desenho na árvore. - pegou na pedra que ela tinha e riscou o tronco da árvore mais próxima - Quando formos grandes vamos ser namorados! - o menino disse animado enquanto marcava as iniciais de ambos dentro de um coração - E depois vamos casar e ter bebés e a tua Cookie e um hamster.

- Prometes?

- Prometo. - deitou a pedra fora e entrelaçaram os dedos pequeninos.

- Acho que já só nos falta o hamster.

- Queres um hamster? - olhou para o marido confusa - De onde surgiu isso agora?

- Afinal tu é que não te lembras. Eu disse "vamos casar e ter bebés e a tua Cookie e um hamster". Já casámos, temos um bebé e o Cookie, falta o hamster.

- Bom, podemos adotar um hamster se quiseres mesmo.

- Acho que não é preciso, já temos o Cookie.

- Ótimo, está a promessa cumprida nesse caso. - deu-lhe um beijo e ele abraçou-a - Um dia - riu-se ao recordar - Um dia os teus pais perguntaram-nos o que queríamos ser quando fôssemos grandes, eu disse que queria ser professora como a nossa professora e tu, na maior inocência e cheio de certezas, disseste "quando for grande quero ser namorado da S/n" - riu-se da cara dele - e depois ficaste todo vermelho.

- Olha, pelo menos atingi o meu objetivo, até tenho o doutoramento e não foi preciso matar-me a estudar. - riu-se envergonhado e coçou a nuca.

- Eras tão engraçadinho naquela altura, sempre envergonhado e vermelho.

- Para, não me deixes envergonhado! - escondeu a cara no pescoço dela.

- Pronto, está bem. - riu-se e acariciou-lhe a nuca - Vamos acabar de nos arranjar? Os padrinhos do noivo não se podem atrasar.

- Pois é. Vamos, Lulu, vamos pôr-te um homenzinho todo janota. - atravessaram a passadeira a empurrar o transporte do bebé e entraram na casa dos irmãos.

- Kun?

- S/n! - o homem apareceu à entrada já com o fato vestido, mas com a gravata na mão.

Os noivos não tinham pedido cores específicas, só exigiam que ninguém fosse de branco ou bege como eles.

As madrinhas combinaram ir de verde sálvia como as gravatas dos padrinhos, mas nada mais tinha sido conversado.

- Ajuda-me com a gravata.

- Já a gravata do Yukhei fui eu que lha pus. Faltava chamares a Daiyu.

- Ela é a noiva. Não posso vê-la antes do casamento.

- Podes, pois! Não podes ver o vestido, dá azar, mas a noiva podes. Eu vi a S/n antes do casamento e correu tudo bem, foi ela que me arranjou a gravata, antes de vestir o vestido, claro.

- Estes homens são todos a mesma coisa! Não vivem sem as mulheres. - meteu-lhe o acessório ao pescoço.

- Não. Nós não vivemos sem ti!

- Amor... - chamou-a quando atendeu.

- Estivemos juntos ainda agora, amor.

- Oh, eu sei, S/n, mas não consigo coisar a gravata. Podes vir... coisar-ma?

- Sabes qual é a tua sorte?

- Tu amares-me!

- Sim e ainda não ter o vestido.

- Não tens o vestido? Onde está?

- Eu tenho o vestido, Yukhei, só não o tenho... vestido. Tipo posto no corpo.

- Ah! Okay, pensei que havia algum problema. Então podes ajudar-me?

- Sim. Encontramo-nos no jardim. - saíram das casas ao lado uma da outra e encontraram-se entre as duas.

- Estás tão bonita! - roubou-lhe um beijo e entregou-lhe a gravata.

- Tu também! - deu-lhe o nó na gravata e apertou-a - Prontinho.

- Obrigado, és a melhor noiva do mundo. - deu-lhe um beijo na boca e outro na barriga pequena - Vai lá. Mal posso esperar por te ver. - levou a mão ao peito e suspirou apaixonado.

- Tonto.

- Estou nervoso. - o noivo tremelicou.

- Vai correr tudo bem, é um instantinho. - alisou-lhe a roupa com as mãos - O meu mano grande vai casar. E eu queria ser a menina das alianças e já sou crescida demais. - segurou as bochechas com as mãos.

- Não chores agora, senão também choro. - ela riu-se.

- Vês? É assim que tens que tratar o teu irmãozinho. - Yukhei falou com o filho depois de observar a esposa e o cunhado.

- Irmãozinho? Estás grávida?

- Não, é só o Yukhei a sonhar. - riu-se do marido, mas voltou-se para o irmão - Estás tão bonito! - abraçou-o e beijou-lhe a bochecha - Se não fosses meu irmão.

- Se não fosse teu irmão o quê? - Yukhei reclamou falsamente chateado - Tu és casada! E eu não te dou o divórcio, só para que saibas. - os outros gargalharam quando ele cruzou os braços.

- Eu vou indo, para receber os convidados e apanhar um bocado de ar. - pediu um abraço à irmã e foi fazer festas ao sobrinho antes de sair de casa.

- Vamos lá, mini eu, vamos vestir-te. - tirou o bebé do carro e foram acabar de se arranjar - Vês como estás bonito? - encaixou-lhe o chapéu na cabeça para o proteger do sol e pô-lo à frente do espelho.

- Fica tão fofinho com chapéu.

- Fica, não fica? - beijou o bebé - Estamos todos lindos, não é, raio de luz? Pois é!

Casamento Esquecido - Wong YukheiOnde histórias criam vida. Descubra agora