06 | uma obra neoclássica.

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Ao chegamos no cinema, Park Jimin desceu e fez um gesto para abrir a porta do carro para mim e fechá-la, como um cavaleiro. Mas eu neguei com a cabeça antes que ele o fizesse, fechando-a com as minhas próprias mãos.

Bom, ele não pareceu incomodar-se.

Haviam muitos casais ㅡ veja bem, com isso eu quero dizer homens e mulheres ㅡ juntos, o que causou alguns olhares sinuosos em nossa direção, por estarmos claramente apenas nós dois juntos. Mas simplesmente ignorei aquilo.

Nós compramos pipoca e refrigerantes, antes de entrarmos na sala de cinema.

E não havia mais ninguém.

Nos sentamos na última fileira e ali permanecemos, encarando a tela vazia em silêncio, já começando a devorarmos a pipoca.

ㅡ Percebe como a tela tem um retângulo perfeito? O único problema é o canto estar amassado pela lona. Provavelmente vai estragar a visão quando o projetor for ligado. ㅡ comentei, de repente após longos minutos, sequer olhando para Park.

Eu estava me sentindo tão nervoso e eufórico que ao menos conseguia olhá-lo direito, por mais que Jimin estivesse digno de ser apreciado por obras seguidas, como uma venusta obra de arte neoclássica.

Senti o homem me encarar de canto, e ele dei uma risadinha, concordando com a cabeça.

ㅡ De fato. Mas acredito que sequer notaremos quando começar o filme.

ㅡ Uma vez notado, difícil ser desvisto. ㅡ tomei coragem para observá-lo, enfiando mais pipoca na boca. ㅡ Posso saber como você descobriu o meu nome?

ㅡ Perguntei ao senhor da mercearia. E como você descobriu o meu? ㅡ Ele ergueu uma das sobrancelhas, com um sorriso ladino que, ao invés de provocador, saiu pulcro.

ㅡ Perguntei ao senhor da mercearia.

Nos encaramos em pleno silêncio. 

De repente, rimos juntos, ambos voltando a encarar a tela escura em nossa frente.

Jimin fazia qualquer um ter vontade de abraçá-lo, fazer carinho em suas madeixas e protegê-lo de qualquer mal do mundo. E eu queria tanto ser essa pessoa.

Eu sentia como se ele estivesse levando, a cada segundo perto de mim, cada insignificante átomo do meu ser.

1954 | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora