𝟎𝟑. 𝐆𝐚𝐛𝐫𝐢𝐞𝐥 𝐌𝐚𝐫𝐭𝐢𝐧𝐞𝐥𝐥𝐢 | 𝐀𝐜𝐨𝐧𝐭𝐞𝐜𝐞

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Respiro fundo e me olho no espelho mais uma vez, frustrada ao notar que nada me agrada, tiro a roupa e volto ao closet para tentar achar outra, pela décima vez. Observo o vestido vermelho que minha mãe havia me dado há uns dias atrás e resolvo que irei vestir ele. Coloco a peça no corpo e noto que pela primeira vez essa semana estou contente com o resultado. Quando meu uber chega eu já estou pronta e apenas tranco a porta da casa, indo em direção ao carro. Observo a rua tranquila e suspiro, com medo do que possa acontecer hoje. Minha melhor amiga, Camila, me chamou para uma festa na casa dela, o único problema é que ela é a irmã mais nova do meu ex, Gabriel. Havíamos terminado há pouco mais de quatro meses e eu ainda estava abalada com o término, ainda mais depois de saber que ele estava conhecendo uma nova garota. Chego na casa de minha amiga e logo desço do carro, analisando a quantidade enorme de pessoas dentro e fora da casa. Camila sempre deu muitas festas em sua casa mas essa se superou. Entro na casa e busco pela garota, a encontrando ao lado de seu namorado, Felipe e seu irmão, Gabriel, respiro fundo e me aproximo.
- Amiga, quanto tempo! - Ela vem até mim e me abraça calorosamente e eu sorrio.
- Cami, a gente se viu ontem. - Digo, rindo da expressão que a mesma faz.
- Continua sendo muito tempo. - Ela diz, dando de ombros.
- Oi, Felipe. - Me aproximo dele, dando um abraço rápido. - Como que a Mel está? - Pergunto, tentando evitar ao máximo a hora de encarar Gabriel.
- Ah, muito melhor, aqueles remédios que você passou para ela ajudaram bastante, creio que logo logo ela ficará melhor. - Ele afirma sorridente.
- Fico muito feliz em saber, quando ela melhorar leva ela lá em casa para brincar com o Oreo, ele vai adorar. - Digo e ele concorda.
Me viro para onde Gabriel está e faço uma análise rápida, ele com certeza está mais bonito desde a última vez que o vi, seu cabelo está bem aparado nas laterais mas ainda permanece com o topete que eu tanto gosto, ele deixou a barba crescer um pouco e com certeza está mais musculoso, talvez seja resultado dos treinos intensos que vem tendo ultimamente.
- Oi, Gabriel. - O cumprimento da mesma maneira que fiz com Felipe, porém dessa vez ficamos mais tempo do que o esperado e ouço Camila pigarrear, me afasto envergonhada e vejo um sorrisinho no rosto de minha amiga.
- Você está bonita. - Enrubesço.
- Obrigada, você também mudou bastante. - Afirmo, olhando em sua mão em busca de alguma aliança.
- Sim, é resultado dos treinos que eu tenho tido, eu venho treinando bastante nos últimos meses. - Ele afirma.
- Ah, eu vi que você foi convocado para a Copa, parabéns. - Digo um pouco desconcertada.
- Ah, obrigado. - Ele sorri levemente. - E como vai sua faculdade?
- Terminei a faculdade há dois meses.
- Ah. - Vejo um lampejo de dor passar por seus olhos, sei que ele sempre quis estar presente em minha formatura mas não faria sentido convidar ele após o término, além do mais, tenho certeza de que ele nem iria.
- Gabriel, vem aqui. - Camila o chama e ele segue a irmã, fazendo com que eu solte o ar que eu nem sabia que estava prendendo, procuro um lugar para me sentar e resolvo ir até a varanda, onde está menos movimentada para pensar um pouco.
Sei que já faz um tempo desde que terminei com Gabriel portanto eu já deveria ter superado, mas ficamos cinco anos juntos e eu o amei mais do que sou capaz de explicar. Eu não conhecia uma vida antes dele, ele foi minha primeira vez em tudo, meu primeiro amor, primeiro namorado, primeiro beijo, primeiro sexo, tudo foi ele. Nos conhecemos quando tínhamos quatorze anos e começamos a namorar aos dezesseis, temos apenas três dias de diferença de idade. Respiro fundo e tento afastar as lembranças mas é quase inevitável, sempre que o vejo rindo com seus amigos na cozinha me lembro de quando passávamos horas em frente ao fogão com ele tentando fazer alguma comida para mim e queimando tudo, ou quando ele me apoiava na bancada para me beijar. Resolvo afastar os pensamentos e me levanto, indo até a cozinha para buscar uma água, talvez não seja a melhor escolha já que o Martinelli mais velho está lá mas no momento é minha única opção, não quero ficar a noite toda pagando de ex amargurada que não superou. Caminho calmamente até a porta da cozinha e a abro, atraindo a atenção de Gabriel, que me encara por poucos segundos e logo desvia o olhar para um de seus amigos que conta uma piada, fazendo com que todos riam alto. Abro a geladeira por já estar familiarizada com a casa e pego um copo de água, pronta para voltar para meu lugar na varanda, já que eu havia me arrependido de sair de lá no momento em que botei os pés nessa cozinha. Caminho distraidamente até a porta até que esbarro em alguém, derrubando toda minha água, não preciso olhar para cima para saber que é Gabriel.
  - Mil perdões, Gabriel. - Digo, ainda segurando o copo e indo em direção a bancada para pegar um pano de prato.
  - Tudo bem, não precisa se preocupar. - Ele diz, pegando o pano de minha mão, nossas mãos se encontram por um momento mas eu logo me afasto. - Você só pode por favor ir pegar uma camisa no meu quarto? Não posso deixar os rapazes aqui nesse estado que eles estão.
  - Claro. - Digo e subo as escadas, indo em direção ao seu quarto, tão conhecido por mim. Adentro no cômodo e observo as paredes repletas de medalhas e prêmios, sorrio orgulhosamente ao ver tudo que ele conquistou. Entro no closet e pego uma das minhas camisas preferidas, ele sempre usava ela quando íamos sair. Estava prestes a sair do quarto quando vejo de relance um porta retratos que eu conheço muito bem, me viro novamente e observo o item em cima de sua escrivaninha, eu havia dado ele como presente em nosso primeiro aniversário de namoro, junto com algumas outras coisas, no porta retratos estava uma foto minha abraçada com Oreo, meu cachorro, e Gabriel me abraçava por trás, se agarrando em minha cintura, tínhamos dezessete anos quando minha mãe tirou essa foto, foi um dos dias mais felizes da minha vida pois foi quando eu e Gabriel tivemos nossa primeira vez. Muitas pessoas diz que a primeira vez é sempre a pior mas para mim não foi, Gabriel não poderia ter sido melhor, talvez eu não tenha muita credibilidade para falar já que ele foi o único cara com o qual já me relacionei mas sei que dentre todos os outros ele é o melhor. Desvio o pensamento e volto para a cozinha, entregando a camisa para ele que sorri levemente e vai até o banheiro trocar enquanto Felipe conversa com seus amigos. Por algum motivo que desconheço, permaneço parada ali onde Gabriel me deixou até que ele volte, usando a camiseta vermelha que eu tanto amava. Ele olha para os amigos e depois me encara, agradecendo por eu ter pegado a roupa em seu quarto e eu dispenso o agradecimento já que eu havia causado o acidente.
- Hm, eu vi em um site de notícias que você está com alguém, é verdade? - Confesso que não sei de onde tirei toda essa coragem para fazer uma pergunta assim mas sei que Gabriel irá me responder.
- Estamos nos conhecendo na verdade, ela é uma boa garota, vocês se dariam bem. - Ai. Essa doeu bem fundo.
- É, talvez, acho que agora terei que conviver com ela, né? Sua irmã quase me adotou depois que você se mudou, todo dia me chama para vir para cá. - Sorrio ao lembrar de Camila que deve estar em algum lugar por aí dançando.
- Camila sempre se sentiu sozinha por não ter uma irmã então agradeço que vocês desempenhem esse papel na vida da outra. - Aceno a cabeça em concordância.
- Sim, eu amo muito sua irmã e sua família, sei que pode parecer estranho por sermos ex-namorados mas espero que isso não te atrapalhe. - O encaro ele nega com a cabeça.
- Não mais, no início sim, hoje em dia não, por incrível que pareça eu já consegui te superar. - Ele dá de ombros e bebe mais um gole de sua cerveja. Suspiro e volto a olhar para seus amigos.
- Você ainda me ama? - Pergunto, após alguns minutos de silêncio.
- Não sei. - Seus olhos transparecem a mentira cortante, ele já não me ama mais.
- Ah. - Meus olhos se enchem. - Tudo bem, acho que já está na minha hora.
- Claro, quer que eu te leve até seu carro?
- Não, tudo bem, apenas avise para Camila que estou indo, foi bom revê-lo. - Aceno e saio, antes que ele me veja chorar. Peço o uber e me sento na calçada, aguardando. A escolha mais óbvia e inteligente realmente teria sido vir de carro mas pensei que conseguiria beber pelo menos um pouco e não queria arriscar.
O carro chega e eu adentro, esperando em silêncio até chegar em minha casa, onde poderei chorar enquanto observo a chuva que está por vir. Eu honestamente não esperava que ele ainda me amasse mas saber que isso se tornou uma realidade concreta faz com que meu coração se sinta pisoteado. Respiro fundo e ao chegar em casa, corro para o banho, para que eu possa desabar ali mesmo. Sei que a dor que eu estou sentindo vai passar mas por enquanto me permito sentir até o dia em que eu consiga superar meu primeiro e único amor.
Mas enfim, acontece.

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬 | 𝐟𝐮𝐭𝐞𝐛𝐨𝐥Onde histórias criam vida. Descubra agora