Após vários dias sem pegar nesse lápis para escrever por aqui, cá estou eu. Não sei nem por onde começar, já que aconteceram tantas coisas... Ainda estou me recuperando delas, inclusive.
Quanto à festa a qual fui convidada por Júlio, eu estive nela. Me arrumei escolhendo a roupa mais confortável que tenho no armário: uma camisa preta velha com uma letra da banda Plutão já foi Planeta 'Você quer ir embora de você, como se você não lhe fosse todos os destinos possíveis', short jeans, all star e minha mochila com os itens de sobrevivência. Já saí de casa usando meus earplugs da loop. Levei na mochila um stim toy, um mordedor em formato de donut, meu sapo Carlito, alguma safe food para o caso de não ter uma comida que eu possa comer na festa... A da vez foi um brownie de chocolate.
Com medo de não conseguir chegar na casa de Lucas sozinha resolvi ir de carro com Júlio. O pai dele nos levou até o lugar. Chegando lá fomos recebidos por Lucas que infelizmente estava bebendo, apesar de ser menor de idade. Todos os convidados estavam agrupados na sala. O local já parecia meio bagunçado, chegamos uma hora depois da hora do início da festa e todos já estavam bem à vontade. Júlio fez questão de me apresentar a todos os jogadores de vôlei, time do Lucas. E o Lucas fez de tudo para que eu me sentisse confortável, até não conseguir mais. Depois de meia hora na festa o som já tinha subido alguns decibéis, os meninos haviam colocado uma iluminação que fazia o ambiente parecer uma discoteca. As pessoas já se dividiam em subgrupos, cada um ocupando um espaço diferente.
Com o tempo, os meus protetores auriculares e nada passaram a ser a mesma coisa. Os sons do ambiente começaram a se misturar como se fosse uma grande massa só. Eu procurava fazer um esforço em escutar a conversa que se desenrolava na minha frente, sem sucesso. O grupo de garotos que estava curtindo a piscina se jogavam nela e eu escutava cada partícula da água que transbordava para fora no jardim. Os copos de quem estava brindando se encontravam e o barulho dos vidros ficava em looping na minha cabeça de forma atordoante. Tudo isso e mais um pouco foi me dando uma confusão mental. Apesar dela, consegui chegar ao banheiro do primeiro andar. Me separei de Júlio sem avisar para onde ia, nem mesmo eu sabia para onde estava indo. Meu instinto de sobrevivência só me fazia continuar seguindo em frente, subindo as escadas lentamente em busca de um lugar calmo para ficar. Algumas pessoas passavam por mim e me olhavam com estranheza, cochichavam sobre a minha roupa como se tivesse algo errado com ela e eu pensava que falavam um pouco mais. Pensamentos intrusivos vinham sem o meu controle e eu fiquei não-verbal. Para o 'boa noite' que alguém me deu eu simplesmente ignorei, pois não conseguia responder. Um pânico foi tomando conta de mim enquanto eu procurava uma porta que me levasse para um local vazio.
A primeira que abri me fez atrapalhar um amasso que estava acontecendo no que parecia ser o quarto dos pais de Lucas. Um casal hetero se pegava lá como se não houvesse amanhã. Fechei a porta rapidamente me sentindo constrangida e sem saber muito bem o que estava acontecendo. No corredor, depois de várias portas abertas sem que uma delas fosse um banheiro, um rapaz me parou perguntando se eu estava perdida. Respondi que estava e ele, por alguns segundos, me fez pensar se poderia me ajudar. Mas se passou algo estranho: depois de minha resposta ele simplesmente me puxou pela mão e me levou até a frente de uma porta que dava para outro quarto. Chegou perto, invadindo meu espaço pessoal, e me fazendo sentir um bafo de cerveja horrível, disse: então vamos ficar juntos aqui. Que tal?
Num piscar de olhos eu só vi um punho passando e o afastando de mim. Era Júlio atacando o rapaz. Ele se virou para mim e perguntou: como você não entendeu essa malícia?
E logo se voltou para o garoto lançando-lhe mais alguns socos. Foi então que eu perdi o total controle sobre o meu corpo. Me joguei no chão e comecei a balançar para a frente e para trás. Não conseguia parar de chorar e queria gritar. O grito logo veio. Júlio se aproximou de mim e me carregou para um banheiro. Outra garota que o acompanhava veio junto. Era Cecília Silva, uma menina que estudava conosco, mas que não era tão próxima de mim.
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O Diário de Louise Veras
Teen FictionEssa é uma fic original, sem relação com séries ou filmes. Aqui você encontra os escritos de uma adolescente neurodivergente, com suas dificuldades, amizades, relações familiares, mas também com um crush em sua psicóloga que a acompanha desde o fale...