E então, pessoal? Estão gostando dessa história? Tenho me empenhado nessa com certa frequência e procurado trazer um capítulo por dia. Vocês tem alguma dúvida sobre autismo que gostariam que fosse sanada? Fico à disposição para ler seus comentários a respeito e quem sabe aproveitar algum capítulo para responder de forma criativa sobre o que surgir.
O que acham de Louise? Têm gostado dela? E dos demais personagens? Estarei em breve investindo mais no desenvolvimento da relação dela com Sarah, apesar do romance não ser o foco da história.
E agradeço imensamente pelos comentários que tenho recebido até então. Eles são ótimos motivadores para dar continuidade à história. Sempre bom receber notícias suas do quanto estão curtindo toda a aventura de Louise em um mundo novo.
Enfim, sem mais delongas...
Nos vemos em breve.
Boa leitura!xxxxxxxxxxxx
Ultimamente me peguei aceitando essa nova realidade de uma forma muito natural. Apesar da ausência até então de meu pai e de Júlio, tenho percebido um mundo tão calmo. Todo aquele caos que me desregulava não existe mais. Mesmo sentindo falta da minha conhecida rotina, e das comidas com texturas crocantes que sempre foram de minha preferência, devido à seletividade alimentar... Tem coisas as quais só sinto e presencio com uma João Pessoa submersa.
O barulho dos carros, as conversas das pessoas, os ruídos da eletricidade pelos fios, o som das mastigações quando ia em restaurantes... Nada disso faz parte mais do meu dia a dia. Às vezes me percebo pensando e sorrindo, e sinto vergonha de sorrir no meio dessa tragédia.
Observar Sarah ao acordar tem sido meu novo hobby. Com toda essa situação ela ainda se ocupa em arrumar o cabelo. Tira um pente da bolsa e passa um tempo sozinha cuidando dos seus cachos que insistem em se formar mesmo sem cremes. Eu diria que ao ver isso sinto borboletas no estômago. É uma expressão engraçada que escutei pela primeira vez aos seis anos quando ouvia conversa alheia. Estava eu na alfabetização e algumas meninas dialogavam sobre os meninos que elas gostavam. Uma chegou a dizer: quando ele está por perto sinto borboletas no estômago.
Eu fiquei aflita quando ouvi isso. Como ela poderia ter engolido borboletas? E como as borboletas estariam vivas e batendo asas dentro de sua barriga? Passei um longo tempo pensando nisso, pois não tinha a mínima habilidade de chegar e perguntar o que tal expressão significava. Ficava por vários dias com a pulga atrás da orelha, como dizem. Essas expressões sempre foram escutadas de forma literal. Então eu imaginava a borboleta no estômago da criança, e imaginava uma pulga de fato atrás da orelha. Essa outra me pegou de jeito, já que quando meu pai falava tal coisa eu sempre ia até ele para procurar a tal da pulga.
Meus pais nunca se intrigaram com essa minha forma de interpretar as frases, nunca fizeram tanta questão. Mas eis que essa também é uma característica do autismo. Ouvir expressões, metáforas, figuras de linguagem de forma literal. E se embananar com tudo isso. Como pode ver sei fazer bom uso delas, aprendi algumas, incorporei outras, não mais me enrolo na comunicação quando elas aparecem. Mas na infância isso era um grande problema! Ele pode perdurar até a fase adulta, mas nem sempre. Por vezes autistas aprendem a respeito. As pessoas tendem a pensar que autistas não evoluem, não se desenvolvem, mas nós nos desenvolvemos, sim.
O lance é que até hoje, apesar de saber o significado de tais expressões, a primeira coisa que me vem à cabeça é o significado literal delas. Enfim, 'borboletas no estômago' contorna bem o que sinto quando Sarah pela manhã escova seus cabelos.
Talvez eu esteja sentindo apenas fome devido ao que estamos fazendo com a comida, poupando. Mas quero insistir em pensar de que se trata de meus sentimentos dando um jeito de atravessar meu corpo. E particularmente, adoro borboletas. Gosto tanto de borboletas que tive uma grande obsessão por elas, um hiperfoco, na infância. Que vez ou outra retorna agora mais velha.
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O Diário de Louise Veras
Ficção AdolescenteEssa é uma fic original, sem relação com séries ou filmes. Aqui você encontra os escritos de uma adolescente neurodivergente, com suas dificuldades, amizades, relações familiares, mas também com um crush em sua psicóloga que a acompanha desde o fale...