Lembrava-se de quando olhava pela janela de noite, vendo as inúmeras luzes e pessoas indo de um lado para o outro, tarde. Se perguntava: para onde vão? Por que tão tarde? Por que no escuro? Por que no frio da noite? Por que não dormiam? Por que de cabeça baixa? Eram tão independentes? Não tinham pais ou um horário para chegar em casa?
Louis achava injusto, pois aquelas pessoas eram livres e ele parecia ser o único que apenas assistia enquanto os outros corriam por aí, como uma criança que assiste às outras brincando com um brinquedo caro demais para que seus pais possam lhe dar.
Eu queria ser como eles! Independente! Maduro e livre o suficiente para sair tarde e voltar tarde e andar pelas ruas escuras como se não temesse o que espreita nas sombras. O problema é esse: ele queria ser livre; achava que crescer o faria livre. Você acredita nisso, acredita que mais anos de vida lhe darão liberdade, independência, maturidade, acha que poderá fazer tudo que sempre quis fazer.
Aí você cresce. E entende que foi livre e nem sabia.
Desejar a liberdade… Você só deseja a liberdade verdadeiramente quando se é pequeno, pois sabe que caso a conquistasse faria todas as loucuras possíveis — como não dar satisfação aos pais e andar na rua à noite — pois sabe que tem coragem para fazer tudo o que quiser fazer.
Talvez sejamos livres; talvez sempre fomos, o que nos segura é o medo. O medo do que o sentimento de liberdade nos proporciona. Aquele momento em que você percebe que está no topo, que ninguém está olhando, que ninguém se importa de verdade, que está sozinho, que dinheiro realmente não faz diferença — sou livre.
E então, você se perde. Porque foi livre, é livre, e não possue mais nada que o prenda no chão, não há limites, não há linhas, não há nada que o impeça. O que mais você quer? Você finalmente entende porque eles andavam nas ruas. Você finalmente tem as respostas. Você finalmente descobre como seria "ser livre".
As respostas: Não vão a lugar nenhum. Tarde porque àquela hora todos estão em casa, descansando, e você não consegue descansar, porque aquela coisinha está riscando fósforos em sua mente. O escuro o impede de ver o mundo, de se ver, o reduz a talvez menos que um humano. Sua cama é mais fria ainda. Porque não conseguem dormir. Para que suas lágrimas não sejam vistas. Não, eram os seres mais dependentes do mundo. Tinham pais, os quais ligavam ou não, os quais se orgulhavam ou não, mas não possuíam uma casa para retornar — eram livres.
Em algum lugar de sua mente, Louis sabia que tinha perdido, perdido tudo. Sabia que experimentara o melhor vida, sabia que havia desperdiçado muitas coisas, sabia que tinha sido egoísta e arrogante e idiota e burro e covarde, sabia que tinha chegado no fim da linha, sabia que não havia mais solução.
É desesperador quando você percebe que não há mais cura, que em algum lugar você deixou cair do bolso o melhor de si, o que o mantinha de pé, e agora você cambaleia pelas pedras de uma rua escura, em um país que você não tem certeza do nome, se apoia em um lustre que talvez lhe dê choque.
Ele não sabia dizer que dia exato do ano era, primeiro porque estava tão bêbado que com certeza havia batido o recorde de O Homem Mais Bêbado e Miserável Existente, segundo porque era dezembro, e as coisas ficam complicadas em dezembro, terceiro porque era consideravelmente tarde (eu acho) e talvez hoje fosse hoje ou amanhã.
A noite estava fria demais, pequenas camadas de gelo se formavam embaixo de seu tênis, uma umidade sufocante tomava conta do ar. Seu pulmão fazia tanta força que parecia haver vidro em suas entranhas. Haviam muitas luzes de natal, oh, Deus, muitas. Elas o cegavam ao que ele andava feito um morto vivo pelos paralelepípedos, sem rumo.

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Ever Since New York {l.s}
Fanfiction[Shortfic] Aquela onde Louis está sem rumo, andando pelas ruas escuras de um país qualquer, e pede ao Papai Noel por uma salvação. Ou. Aquela onde Harry luta todos os dias contra os fantasmas de uma vida passada, e acaba sendo a salvação de seu ant...