IX

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   you took all the lonely days, and you made them sing. you turned off the alarms so they don't ring. i don't know where we are in the grand scheme of things, but i just wanna be hugging you tonight. 

- hugging you, Tom Rosenthal.


Havia um complexo em seu subconsciente. Parte de si dizia que, se demorasse mais um pouco que fosse não conseguiria chegar para a primeira aula, outra parte dizia que talvez fosse sábado, e outra apenas escutava e negava tudo, como alguém que faz uma charada e ri das tentativas falhas de acertá-la.

Havia um complexo. Algo entre sonho e realidade. Algo entre embriagado de sono e quase consciente. Algo bem parecido com aquele estado em que você se encontra tão sonolento que balbucia coisas sem sentido, que pede água à sua mãe, mas ela não te entende porque não foi isso que você disse.

Louis sabia que não estava em seu apartamento em Londres. Sabia que não fazia mais faculdade. Sabia que não tinha mais vinte anos. Mas... sentia Harry. Tão perto que poderia sim ter voltado no tempo e agora amanheciam embolados um no outro como todos os dias.

Sentia-se carregado pelo seu cheiro, este estava em todos os cantos: em seu nariz, dentro e fora do seu corpo, embaraçado em seu cabelo, tocando seus lábios, acariciando sua pele como um arrepio gostoso.

Louis flutuava em nuvens. Nuvens feitas de Harry e edredom.

A luz tênue que preenchia a casa por inteiro chegava um tanto escassa no pé direito, e Louis resmungou ao mover-se minimamente, escutando o atrito entre o travesseiro e seu cabelo no meio de silêncio absoluto.

Poderia estar sonhando ou não, poderia estar delirando ou não, poderia estar imaginando ou não, mas jurava, com toda a sua alma, que sentira o peso (exato, inconfundivelmente exato) do braço de Harry em cima de suas costas, sentia a respiração quente dele em seu ouvido; Louis jurava que sentia Harry atrás de si, deitado desleixadamente como de costume, um braço largado nas costas de Louis, outro por cima do próprio rosto, as pernas intrusivamente entre as suas. Ele estava ali.

E Louis, um tanto mais desperto, cogitou enrolar mais um pouco, quieto, fingindo dormir, para que fosse "acordado" por dedos preguiçosos em seu cabelo.

Até que recobrou os sentidos e realizou o óbvio: tudo parecia estranho porque o Louis que tinha aquilo — que tinha Harry — tinha morrido há muitos anos, e ter uma vértice do que aquele jovem teve soava como um crime. Soava errado. Louis não merecia aquilo. Ele perdeu aquilo, e por isso não merecia ter de volta.

Ele resmungou mais alto, levando algum tempo até abrir os olhos completamente, não se dando o trabalho de checar se ele estava ali — não estava — E esperou pela fumaça de nada nada nada, esperou pela dor no peito, pela falta de ar, pela queimação em todo o corpo, esperou pelo peso do cobertor de quinhentas toneladas.

Esperou.

Esperou.

Espe-

Havia um buquê de margaridas em cima da mesinha de cabeceira.

Ali. A poucos metros de seu rosto.

Margaridas.

Louis se ergueu nos próprios cotovelos, transtornado, entre uma surpresa e o sono, perguntando a si mesmo se aquilo era um sonho ou um delírio. Pegou o pequeno punhado de flores, simples, nada exagerado, na medida certa, e viu o pequeno cartão que estava entre os caules: embora seja inverno, o sol saiu, e acho que deveríamos sair também e uma carinha sorridente em letras inconfundíveis.

Ever Since New York {l.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora