— Bonjour, mon amour! Coucou, Aggie! Como estão? Eu liguei mais cedo, mas ninguém atendeu, esqueci que o seu sono está tão em dia quanto um relógio parado. Estou amando minha estadia em Paris, amo os franceses, eles são lindos e não fedem tanto quanto fediam no primeiro dia em que cheguei aqui. Já experimentei dezenas de perfumes diferentes e não consigo sentir o cheiro de nada desde ontem. Ah! Eu conheci uma francesa — risinho — que me disse que eu deveria cheirar pó de café pra recuperar o meu olfato, mas ela cheirava tão bem que eu fiquei com medo de nunca mais vê-la e nunca mais sentir aquele cheiro. Mas isso não significa que eu estou apaixonado ou algo assim, só gostei do perfume dela, ela não fedia, e era muito bonita... E vocês? Como estão? Como vai a Irlanda? Oh, Céus, que saudade da minha terrinha... Você disse que me mandaria aquela garrafa de cerveja pelo correio de presente de Natal! Por favor, não se esqueça. A cerveja aqui é muito... muito... requintada, fraca, aguada, quase não tem amargor. Por favor, não se esqueça de me mandar a cerveja, eu discuti com uns franceses e agora tenho que provar que a cerveja irlandesa é melhor que a deles. Mas de resto está tudo bem, meu francês tem melhorado, agora eles entendem quase tudo o que eu falo, tirando aquela vez que eu fui pedir uma baguete e o padeiro me proibiu de entrar na padaria dele- — O telefone de plástico vermelho disse, em cima da bancada da cozinha.
Harry franziu o cenho por cima da xícara de café, Louis arregalou os olhos, chocado, e disse, a voz falhando pela surpresa:
— Estamos na Irlanda?
— Coucou, Niall! — Aggie respondeu no meio de uma garfada em sua panqueca.
— Aquele era Niall? — Louis estava mais chocado ainda — se é que isso era possível.
Harry respondeu com um simples movimento de ombros.
— O que você está fazendo na Irlanda?
— O que você está fazendo na Irlanda? — Harry devolveu.
— Eu perguntei primeiro. — Louis devolveu.
Harry suspirou, levando sua xícara para a pia antes de abrir a geladeira de novo. Aggie estava calada, sentada em uma das banquetas altas que pediu ajuda a Louis para subir, parecendo extremamente concentrada em seu café da manhã.
— Eu já te disse o porquê. Não gosto de Londres e achei que aqui seria melhor para Aggie, por conta da língua. — explicou, sem muitas delongas, como se estivesse cansado daquele assunto. — E você?
— Comprei a primeira passagem que apareceu no site. — e deu de ombros, embora Harry estivesse de costas, ocupado colocando leite em uma tigela.
O outro não respondeu enquanto caminhava na sua direção, carregando uma tigela com leite e cereal nas mãos, e a colocou na bancada da ilha, perto de onde Louis estava encostado. Eles se entreolharam.
— Não estou com fome.
— Louis- — O ronco vindo da barriga de Louis ecoou pela cozinha, denunciando-o.
Ele suspirou, passou as mãos pelo rosto, desolado, penteou os fios lisos de cabelo para trás com os dedos, tentando respirar, como se estivesse sufocando, abafado por pequenas coisinhas que pesavam em sua pele, como seus cabelos, suas roupas, seu coração — pesando de dentro pra fora — Tudo em si parecia lhe queimar, lhe doer, lhe enforcar, mas, ao mesmíssimo tempo, não sentia nada. Nem fome.
— Eu não sinto fome, Harry. — sussurrou, fraco e baixo para que Augustine não escutasse. — Não estou com fome, não tenho a mínima vontade de comer isso. — Ele olhou para a tigela, viu as pequenas rosquinhas coloridas boiando no líquido esbranquiçado. Era o seu cereal favorito; ele sabia disso; Harry sabia disso. — Devemos comer por prazer. — Louis ergueu os olhos azuis marejados para Harry, engoliu em seco. — Comer por prazer e não só porque precisamos comer para viver. Não sinto prazer algum, deleite algum, nem por eles. — E indicou o cereal com o queixo. — Não sinto prazer em nada, e duvido muito que comida seja a única coisa na qual eu precise para viver.

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Ever Since New York {l.s}
Fanfiction[Shortfic] Aquela onde Louis está sem rumo, andando pelas ruas escuras de um país qualquer, e pede ao Papai Noel por uma salvação. Ou. Aquela onde Harry luta todos os dias contra os fantasmas de uma vida passada, e acaba sendo a salvação de seu ant...