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Já havia mais de um ano e meio que as crianças Sawyer haviam ficado sob os cuidados de Margareth e Gaspard no castelo, com visitas recorrentes de Jane e dos outros familiares para auxiliarem no cuidado dos mais novos. John James Sawyer havia sido salvo mas agora ficava em um asilo manicomial no norte da Inglaterra porque era menos que a sombra do que um dia fora. De grande empresário da indústria de brinquedos, que a família abriu com o capital herdado dos livros de seu antepassado Mark Twain, se tornou uma sombra que vagava pelos corredores do asilo, durante a noite gritando como o animal ferido em que sua alma se convertera pela morte da esposa. Seus sogros nunca o odiaram, como se é comum esperar que sogros odeiem o genro, mas sempre nutriram certa admiração pela maneira como ele era esforçado e como, mesmo destruído pelo trabalho do dia, ele sempre teria tempo e dedicação para com os filhos e a esposa.

Nunca que Margareth e Gaspard poderiam ter algo genuinamente contra um homem assim e que fosse tão devoto à filha deles.

Por conta de toda a tragédia e o excesso de burburinhos e maldizeres que as crianças estavam sofrendo por toda a Londres e imediações fez com que os avós, que assumiram a guarda deles, preferissem manter a educação dos mais novos em casa e, ao chegar aos 10, eles eram enviados ao que foi considerado um dos melhores colégios da região, o Bedales School, consequentemente, Owen, William e Evangeline, estariam sendo educados em casa, para ter mais tempo de se prepararem para eventuais desconfortos com outras crianças e adultos que poderiam não levar tão bem assim a questão da tragédia que havia se abatido na família.

-- Vovô! Vovô! Vovô! – Evangeline entrou saltitando em direção ao idoso após escancarar a porta do estúdio de brinquedos, deparando-se com ele pintando atentamente os detalhes do que parecia ser um cachorrinho articulado de madeira – Ah, desculpa! Depois eu volto...

-- Não criança – ele sorriu, deixando o pincel com a ponta minúscula dentro do copo de água e fechou a tampa da tinta, pousando o novo brinquedo na mesa gigante forrada de jornal, estendeu os braços e a neta correu até ele, jogando-se em seu colo – Seu avô não tem mais idade para isso, criança! – riu e a garota murmurou um pedido de desculpas com seus olhos gigantes o encarando – Tudo bem, tudo bem! O que está querendo hein? Para você sair correndo desse jeito está prestes a pedir algo... Normalmente algo bem interessante! O que quer, hein?

-- Não venho te ver só pra te pedir favores – ela falou manhosa, com um biquinho que se desfez rapidamente ao ver a expressão do avô, tornando-se um sorriso – Ok ok! Posso ir passear no jardim?! Já fiz tudo o que tinha para fazer dentro de casa, fiz as lições que Madame Bernsbeville pediu! E agora não tenho mais nada pra fazer e Ollie e Will estão jogando bola no jardim de trás, então pensei que poderia... Não sei... Ir brincar lá fora?

Era difícil explicar para a caçula da família o motivo real que os impediam de dar a permissão para ir lá fora que ela tanto queria.

A garota de olhos gigantes estava chegando aos sete anos e ainda dizia que falava com a mãe e a falecida avó. Além de ter dito que havia visto todos os seus irmãos já falecidos no dia em que seu pai se jogou do alto do terraço e que por isso não estava no colo quando o mais velho despencou. Ela já devia ter superado, não era para isso acontecer. Os médicos diziam que ela superaria com o tempo, mas quanto tempo? Ninguém parecia ter essa resposta. Quando perguntaram em que momento, tentaram dar remédios muito fortes para a criança. Eles não podiam fazer isso com sua menininha. Com a única garotinha que Cecil conseguira ter, era cruel. Sua filha e o marido iriam querer que ela crescesse como uma criança normal, apesar de tudo. Não iriam querer que ela tivesse a infância afetada por remédios que dopavam adultos três a seis vezes o tamanho dela. Era crueldade.

FAIRYTALE || jamie campbell bowerOnde histórias criam vida. Descubra agora