Perguntas precisam ser respondidas e a história começa a aquecer.
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A manhã recebeu Gaby com um pouco de ventania, mas bem-disposta como habitual. Os seus cabelos loiros dançam ao sabor da brisa, agora livres de rolos e laca. A bela mulher começou a sua caminhada acompanhada pelo sol matinal que jamais a tinha abandonado desde que chegara a Biarritz. Inspirou profundamente, sentindo o corpo encher-se de todas aquelas sensações e bendizendo infinitamente o dia em que teve a ideia de vir ali passar uma temporada.
Os jornaleiros andam de porta em porta e por todos os cantos se veem mulheres de cestas à cabeça, gritando que o peixe é fresquinho. Gaby sempre gostou de observar as pessoas, o quotidiano. Para ela é fascinante ter a possibilidade de assistir a vida a acontecer no exato instante. É uma espécie de superpoder, poder estar fora da própria vida para assim realmente senti-la. Os cheiros da rua misturam-se no ar e a viúva de Marcel conclui que a vida mais não é que os aromas que sentimos e levamos connosco.
O banco não é muito longe de sua casa e já é capaz de avistá-lo donde está. Milhares de perguntas assombram o seu espírito e atormenta-a pensar o que será da sua família se de facto a empresa de Marcel estiver a entrar em colapso. O frio da maçaneta da porta de entrada do banco fá-la despertar de novo para a realidade circundante e esta percebe que por mais que tema o que vai ouvir, a verdade é que não pode continuar a fugir dos seus problemas. São muitos anos a tentar fazê-lo e isso em nada lhe trouxe paz. Pelo contrário.
Mal a porta se fecha e Gaby permite-se analisar o lugar, é consumida pelo caos do local. Pessoas de um lado para o outro, telefones a tocar, o tilintar das máquinas de escrever, uma mistura de todo o tipo de vozes e esta sente que Marey teria aqui uma boa fonte de inspiração para as suas fotografias. Caminha por entre a pequena multidão do espaço, desviando-se vez ou outra, chegando por fim ao seu destino.
Gaby – Bom dia. Eu gostaria de falar com o Monsieur Chaverny.
Secretária – Bom dia, madame. Quem deseja falar com Monsieur?
Gaby – Gaby, quer dizer, Gabrielle. Gabrielle Leblanc.
O semblante da moça mudou imediatamente e no castanho âmbar do seu olhar surgiu um certo espanto. Parece que o seu nome de casada tem uma reputação que não passa despercebida.
Secretária – Oh, claro. Venha por aqui, por favor. Monsieur Chaverny já me tinha avisado da sua visita.
As duas mulheres seguem por um corredor bege e Gaby não consegue deixar de achar curioso como até as cores do recinto combinam com a atmosfera costeira da cidade. Finalmente param diante de uma porta de um tom mais escuro daquele que ornamenta as paredes e na pequena placa dourada pode ler-se “Diretor”. A jovem ao seu lado disfere dois golpes à porta para anunciar a sua chegada, sendo logo atendida do outro lado por uma voz profunda que lhe ordena que entre. Com um sorriso nervoso, a rapariga olha para Gaby uma última vez.
Secretária – Bem, aqui está madame. Se precisar de mais alguma coisa é só chamar.
Gaby – Bem, ainda não sei o seu nome. Como poderei chamar por si? – O seu sorriso é algo sedutor e a mulher pergunta-se o que a possuiu para estar a ter este tipo de atitude, mas apercebe-se que tem de parar de se reprimir constantemente e que não há mal nenhum em ser simpática com alguém.
Secretária – Oh…é Gautier. Marguerite Gautier.
Gaby – Como a Dama das Camélias?
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L'automne 37
Fanfiction"Foi em 37. No Outono de 37. A vida era tão simples. E, de repente, tudo mudou. Não fazia ideia do me esperava. Não poderia sequer imaginar o quanto este encontro, este estranho acaso mudaria a minha vida. Era tão jovem para entender, Pierrette. Mas...