Te amo, filha!

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Trriiim, trriiim, trriiiiim (som do despertador).

Cinco horas da manhã, o relógio despertou:

-Não acredito que já é hora de acordar.

Ava bateu em cima do relógio que estava ao lado de sua cama, em cima da mesinha de cabeceira, fazendo com que o despertador desligasse. Era uma segunda-feira, depois de ter passado a semana inteira fazendo faxinas, inclusive no domingo.

Ava era uma jovem de 21 anos que passou a vida inteira em um orfanato católico, depois de perder sua mãe em um acidente de carro, sem nunca ter conhecido seu pai.

Logo após sair do orfanato, Ava conheceu um rapaz com o qual se relacionou por alguns meses. Era um amor genuíno, pelo menos para ela, pelo qual ela sentia que seria capaz de mover céus e terra, até que engravidou e foi abandonada por ele ao lhe contar sobre a gestação.

A órfã passou por maus bocados, desde que saíra do orfanato onde passou a maior parte de sua vida. Tudo que conseguiu depois de sair do abrigo, foi um kitnet de apenas um quarto e um banheiro. Naquele pequeno cômodo haviam apenas uma cama, onde ela dormia com sua filha, fruto do relacionamento com aquele namorado que ela jurou ser o grande amor de sua vida, quando poderia facilmente ser apenas hormônios, como dizia sua amiga, Mary. O lugar era ocupado ainda por um armário onde guardava suas roupas e objetos, um fogão, uma mesa, uma tv, uma geladeira e uma poltrona, além dos brinquedos da filha.

Ava terminou o ensino médio ainda no convento. Sempre foi muito inteligente e dedicada, porém, não conseguiu entrar em uma universidade e logo depois de sair do orfanato, grávida de sua filha, tudo se tornou ainda mais difícil, mesmo tendo uma pequena rede de apoio.

Desde que contou ao genitor da pequena Eva que estava grávida, a jovem gestante ouviu palavras absurdas vindas do genitor. Três anos se passaram e Ava nunca mais o encontrou ou sequer ouviu falar sobre ele.

- Tenho que levantar - Ava resmungou olhando para o relógio. Tinha se dado ao luxo de dormir mais cinco minutos.

Ao levantar da cama, Ava conferiu o sono profundo da filha, dando um beijo em sua testa e abrindo um sorriso ao ver o rosto da pequena. O amor que sentia por Eva, era tudo que precisava para ter forças para trabalhar todos os dias e ter como criar sua filha.

Depois que levantou, foi até o banheiro onde fez xixi, escovou os dentes e tomou um banho rápido, já se vestindo para sair. Em seguida Ava fritou dois ovos para tomar café da manhã. Organizou a mesa colocando os ovos em um prato e pegando algumas torradas. Na geladeira havia suco e leite. Colocou os dois na mesa para que Eva escolhece o que gostaria de tomar no café da manhã.

Ava foi até a cama acordar a filha, cantarolando uma canção para acordar a pequena: "acorda Maria bonita, acorda pra tomar café. O dia já está raiando, e a cigarra já está de pé".

Ava beijava sua filha fazendo com que ela se mexesse na cama, finalmente acordando.

-Vamos, filha. A mamãe precisa te deixar na creche pra ir trabalhar. - Mais beijinhos eram distribuídos, agora naquelas pequenas mãozinhas.

Por sorte Ava tinha conseguido uma vaga em uma creche pública, o que era extremamente raro onde morava. Deixava a menina na creche e já se dirigia a empresa de faxinas onde conferia o endereço das faxinas do dia e os materiais necessários para trabalhar.

Com a filha no colo, Ava a levou para o banheiro e repetiu o mesmo processo que fez consigo ao acordar. Eva fez xixi, escovou os dentes, tomou banho e se vestiu para ir a creche.

Apesar de todas as dificuldades que passavam, Ava não deixava que aquelas adversidades lhe tirasse os pequenos prazeres da vida, como tomar café da manhã sentada a mesa com sua filha. Assim como todas as refeições que faziam em casa.

Na noite anterior, Ava sempre deixava a bolsa da creche pronta, com leite, fraldas, produtos de higiene e mudas de roupa para Eva.

...

Após terminar o café da manhã, Ava colocou a louça na pia, pegou Eva no colo, colocou sua bolsa de um lado e a de Eva do outro, apagou as luzes da kitnet e saiu, passando a chave na porta.

A 500 metros de onde morava, havia um ponto de ônibus. A creche ficava a 1 km de sua casa. Ava precisava deixar Eva na creche e depois voltar os 500 metros até o ponto próximo a sua casa, para só então, pegar a condução até a empresa de faxinas.

- Te amo, filha! Mais tarde a mamãe passa pra te pegar. Se divirta, se comporte. Te amo!

Ava da um beijo em sua filha que segue para a sala segurando a mão da professora.

Eva se vira dando tchau a sua mãe, seguido de um "te amo, mamãe".

Ava voltava os 500 metros até o ponto de ônibus quando começou a chover.

- Droga! Eu mereço mesmo. Mas pelo menos a Eva já está na creche e não vai pegar essa chuva. - Ava lamentava e comemorava ao mesmo tempo em seus pensamentos, avistando seu ônibus chegar próximo a parada. A faxineira ignorou a chuva e correu em direção ao ponto de ônibus para não perdê-lo. Seria um péssimo início de semana se isso acontecesse.

Para sua sorte, o motorista que já a conhecia, a viu correndo e a esperou alguns segundos antes de seguir viagem.

- Bom dia! - Ava cumprimentou o motorista.

- Bom dia, garota! - o motorista respondeu.
Quase que hoje você fica. - O motorista comentou, sorrindo.

- Me atrasei um pouco hoje por causa da chuva. Achei que fosse passar rápido, ledo engano. - Ava respondeu.

Cerca de meia hora depois, Ava tocava o sinal de parada, indicando que desceria no próximo ponto, que ficava em frente ao local onde ela prestava serviços.

Avatrice - que bom que te encontreiOnde histórias criam vida. Descubra agora