Quatro. Jantar

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Depois de mais alguns assuntos adicionados a nossa discursão, chegamos ao consenso de que começaríamos a realização de nossos planos já no dia seguinte, onde mandaríamos mensageiros a todos os 14 clãs restantes, em aviso do que estava por vir e que Toruk Makto os chamava.

Chegando ao fim de nosso debate, Tonawari me ofereceu um Marui e eu aceitei de bom grado, e se foi noite a dentro, já o casal Sully prosseguiram me fazendo mais algumas perguntas, então por fim me convidaram pra se juntar a eles e a família para o jantar, de inicio neguei o convite mas depois de uma certa insistência de Neytiri decidi aceitar, afinal não faria nada melhor aquela noite.

O caminho até o Marui dos Sully não foi muito demorado e até mesmo meio silencioso, ao chegarmos nos deparamos logo com as mesmas crianças Omaticaya de hoje mais cedo, sentadas no chão conversando alto e brincando. Jake limpa a garganta chamando a atenção dos mais jovens que pararam e encaram o pai. O que parecia ser o mais velho deles se levantou num pulo e o cumprimentou.

— Pai, mãe, bem vindos de volta. — Ele acena com a cabeça e Jake apenas lança um pequeno sorriso para o filho.

— Temos uma visita importante hoje. – Disse a senhora Sully estendo o braço em minha direção, só aí as crianças pareceram notar minha presença ali. A pequena menina Omaticaya levantou num pulo e apontou para mim.

— Olha Kiri! É a garota mágica de hoje cedo. – Todos pararam e olharam diretamente para mim.

— Como é? Garota mágica? Tá ficando maluca Tuk? – O jovem rapaz que tinha uma aparência bem semelhante a do pai questionou.

— É, ela desafiou Ronal na frente de todos, com algum tipo de magia. – A moça comentou parecendo envolvida na historia. Neytiri se voltou aos filhos os chamando atenção, em seguida voltou-se para mim pedindo perdão pela atitude dos mais jovens.

Enfim, nos juntamos ao redor de uma pequena fogueira com caldeirão de ensopado pendurado por cima das chamas. Uma oração é feita pela matriarca da família e então começamos a nos servir. Até então permanecia um tanto invisível, ainda não havia dito uma palavra sequer. Sinto o olhar de um dos rapazes em mim, devolvo o olhar para o garoto mais velho, que rapidamente volta sua atenção a tigela de ensopado.

— Acho que ainda não nos conhecemos. – Falou a moça de cabelos curtos sentada ao meu lado, em voz baixa apenas para que eu a ouvisse.

— Sou Rey'eng Hofstadter.

— Kiri. – A menina sorri com os olhos e estende a mão, para que eu possa apertar como cumprimento e assim o faço. Não posso deixar de notar que em sua mão ao invés de quatro dedos tinham cinco, assim como o de um avatar humano. Me vejo segurando a mão da garota intrigada, ela percebe e logo se adianta. – Minha mãe era humana, por isso a minha mão é assim, diferente.

— Sua mãe? – Indago ainda mais intrigada.

— Ah sim, não sou filha biológica dos Sully, sou proveniente do avatar de uma cientista vinda do mesmo laboratório que Jake. – Balanço a cabeça positivamente, tendo minhas dúvidas quanto a Kiri por hora sanadas.

Inicialmente o silêncio era meio constrangedor entre o grupo ali sentado, porém não demorou muito para que começassem a fazer perguntas e comentários a meu respeito, mas diferentemente de em outras ocasiões me sentia confortável em responder suas perguntas, mas por algum motivo o rapaz que antes me encarava não falou nenhuma palavra durante toda a refeição.

Ao fim do jantar eu tinha certeza que esta tinha sido de longe uma das melhores noites que já tive na vida. Nunca havia saído do laboratório, nem mesmo quando tive meu tsaheylu com Murphy, diferentemente do habitual, a chamei acidentalmente em um dia de treinamento, e estamos juntas desde então.

O jantar acabou e todos os Sully se reuniram fora de seu Marui e foram até a praia para espairecer um pouco, até mesmo Neytiri, que não conseguia se habituar a sua nova vida e rotina em Meetkayina, pareceu confortável junto ao marido observando os filhos de longe brincarem a beira do mar. Eu, no entanto, optei por ficar um tanto mais afastada, não queria invadir o espaço pessoal da família e apenas os observei a distância.

E lá estava eu de novo agarrada as minhas pernas sentindo a brisa gelada da noite em meu rosto, olho em direção a minha antiga casa e penso na minha mãe, não sabia nem se ela ainda estava viva, passo a mão sobre minha nuca e graças a o gesto lembro-me de meu antigo colar canção, era única coisa que havia me restado de meus pais biológicos, passo os dedos sobre cada pedrinha do colar e por fim seguro o cristal que ficava no meio dele. Fecho meus olhos sentindo um ar nostálgico me envolver como num abraço.

— Você está bem? — Ouço uma voz grave e num susto levanto o olhar para encarar o dono da voz, vejo o mesmo garoto de antes.

— Ah, oi. — Digo — É, tô legal. — Um pequeno sorriso pinta em meus lábios. —Por que não senta? — Digo dando leves tapinhas na areia ao meu lado. Ele senta em silêncio e olha para os irmãos mais novos brincando. — Eu sempre quis ter irmãos, era apenas eu, minha mãe, meu tio e alguns cientistas. Nunca sai de lá e bom não pensei que sairia nessas circunstâncias. — Falo soltando uma risada mínima pra tentar amenizar a situação.

— Entendo. — Ele diz balançando a cabeça, olho de relance para ele e percebo que o mesmo está meio constrangido.

— Desculpa, deixei o clima meio estranho, falando sobre minha vida de merda com alguém que acabei de conhecer. Isso meio que quebra a convenção social né. —Suspiro fundo percebendo que minha boca de alguma maneira se mexe mais rápido do que o meu cérebro. — Eu fiz de novo, desculpa.

— Tá tudo bem, sempre me disseram que eu sou um bom ouvinte, não me incomodo de ouvi-la.

— Você é muito gentil garoto Sully. – Solto uma pequena risada com meu próprio comentário.

— Neteyam. — Só agora notei que não tínhamos sido apresentados formalmente, então prossigo.

— Rey'eng, Rey.

Never Been HurtOnde histórias criam vida. Descubra agora