Doze. O primeiro de muitos

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Depois de um tempo ainda me recuperando do choque da morte de minha mãe. Eu e Neteyam fizemos questão de enterrar cada um dos corpos dos cientistas, bom em respeito as vidas de pessoas que já foram importantes pra mim. Já o de minha mãe, cuidei de eu mesma fazê-lo.

Seu rosto estava muito ferido, indicando que havia sido machucada, talvez como forma de tortura, para que revelasse informações que claramente ela escondia, mas devido a sua pura lealdade, isto lhe custou a vida. Enrijecimento total, indicando que já estava ali a um bom tempo, eu diria que foi por volta de alguns dias depois de minha partida. Enterrei a mesma no estilo Omaticaya, orei milhares de vezes para Eywa, para que cuidasse bem dela, e me desse forças.

O dia então chegou ao fim, e tanto eu quanto Neteyam permanecíamos exaustos. Não tínhamos dirigido uma palavra se quer durante todo o trabalho, mas não pude deixar de notar o mesmo me fitando em alguns momentos. Ele estava na costa da ilha, no mesmo local onde chegamos e pusemos os Ikran, levantando o acampamento, já eu estava sentada à frente do túmulo de minha mãe, com lágrimas nos olhos, cantava nossa música, "can't help falling in love", que de acordo com a mesma era uma música de um antigo cantor de sucesso, que estava na sua família a gerações. 

Conta por conta de seu antigo colar de canções, dado a ela por um grupo de crianças Omaticaya, a cada pedrinha um trecho da música, aquilo me enchia de paz e boas lembranças de minha mãe, como nós duas cantando juntas deitadas a luz da lua sobre um dos módulos, bons tempos, agora deixados permanentemente no passado.

Ao fim da canção sinto uma ventania repentina, gélida devido à noite que se adentrava, uma lágrima a mais rola pela minha bochecha, sussurro mais um "sinto muito" encarando o chão. Sou interrompida de meus devaneios por  Neteyam que põe a mão em meu ombro fazendo com que eu olhasse para o mesmo.

— Vamos. Tem que descansar Rey. — Ele diz delicadamente, com o polegar acariciando meu ombro.

— Ok. — Ele estende a mão, eu pego e levanto rapidamente, pondo o colar meu meu pulso dando duas voltas no mesmo, em seguida o sigo para o acampamento.

Voltamos para a costa e nos deitamos ao chão próximos a uma fogueira para que nós esquentássemos. Apesar de já ter chorado muito, ainda sentia que tinha rios para chorar, uma onda de remorso vem átona novamente e sinto meus olhos ficarem molhados, me sento agarrada as minhas pernas, de volta a minha posição de conforto, dou uma pequena fungada evitando o choro eminente.

— Rey? Está bem? — Neteyam se vira pra mim e me vê encolhida ao lado da fogueira. — Está com frio?

— Não muito. — Digo sem muita importância com o queixo recostado em meu joelho. Ele levanta e vem pro meu mim lado, ele me abraça de lado na esperança de me esquentar.

— Se importa? — Ele pergunta me oferecendo o abraço. Olho para ele um pouco de baixo e sorrio, seus olhos brilhavam com as chamas do fogo aceso. Encosto minha cabeça no seu peito como resposta e ele descansa os braços ao redor dos meus.

Um silêncio se fez no local, apenas escutávamos o estalar da fogueira quebrando a lenha ali posta. Sentir Neteyam acariciar o polegar no meu ombro, era uma sensação boa, era impressionante a influência positiva que este rapaz tinha em mim, por um momento pude ate esquecer o que aconteceu mais cedo e focar neste momento. Por estar recostada sobre o lado esquerdo do peito do Sully, pude ouvir seus batimentos cardíacos ao longe, percebendo eles bastante acerados.

— Que música era aquela que estava cantando mais cedo? — Ele pergunta na intenção de puxar assunto.

— Can't help falling in love, uma música que pelo visto está na família da minha mãe a gerações. Era a música do seu colar de canção. — Diga passando a mão sobre as contas do cordão em meu pulso.

— Ela é linda, sua voz também não se é de jogar fora. — Ele brinca.

— E você por acaso é o Elvis pra me julgar? — Digo dando uma cotovelada.

— Quem?

— Esquece. — Normalmente o julgaria por não conhecê-lo, mas validando o fato de que viveu a vida toda na floresta é compreensível.

— Ok. Neste caso porque não canta? Assim vemos se é boa mesmo. — Diz em tom de presunção.

— Muito bem. — Me levanto e sento com as pernas cruzadas a sua frente.

Canto cerca de duas a três estrofes, com os olhos fechados, apenas sentindo a música me levando para as melhores lembranças que tinha com minha mãe. Abro os olhos ao final e tenho que piscar algumas vezes devido a luz que chega forte. Vejo o garoto Sully me encarar com uma expressão boquiaberta.

— Vamos feche a boca, pare de ser besta. — Digo dando um leve tapa um seu braço.

— É foi mais ou menos. — Ele brinca logo perdendo a pose e começando a rir.

— Skxawng! — Aquele momento era especial, ele me fez rir no meu pior, ele tinha este dom, sempre me faz sorrir, me faz bem no modo geral.

— Consegui! — Ele diz.

— Como?

— Um sorriso. Não gosto de te ver triste, apesar de que em um momento como este seja compreensível, mas ainda sim. — Sua preocupação comigo me fez sorrir, me aproximo do garoto e o abraço.

— Obrigada por se preocupar. — Digo com os braços envoltos sobre seu pescoço. Ele sorri e me abraça de volta.

— Sempre, e sua voz é linda. — Ele diz me fazendo sentir minhas bochechas quentes.

Me desvencilho do mesmo e percebo nossa proximidade, ele abaixa a cabeça e olha pra suas mãos vazias e assim ele agarras as minhas e começa a acariciar, olho para baixo com seu ato e entrelaço meus dedos nos seus. Ele volta o olhar pra mim e eu repito o movimento olhando bem no fundo de seus olhos. Ele solta uma de minhas mãos e a leva a meu rosto.

— Você é linda!

Afirma e começa a se aproximar lentamente, sinto sua respiração ficar cada vez mais próxima, então ele para antes mesmo de encostar os lábios nos meus.

— Já foi beijada Rey? — Ele diz, ainda próximo, tento manter minha respiração normal.

— Não. — Digo com a respiração meio descompassada.

— Bom. — Ele diz e logo em seguida fechou seus lábios nos meus delicadamente.

Sem ter experiência alguma com isso apenas sigo seus movimentos suavemente. Sinto a ponta de sua língua tocar meus lábios uma ou duas vezes, e então repito, quando nossas línguas se tocaram pela primeira vez foi uma sensação incrível, era eletrizante, estimulante. Um pequeno sorriso se forma no canto de minha boca mas continuamos. Quando finalmente nos afastamos por falta de ar, encostamos nossas testas uma na outra sincronizando nossas respirações, ele da um pequeno selar em minha testa e eu sorrio.

— O primeiro de muitos.— Ele diz e da mais um beijo rápido em meus lábios.

Never Been HurtOnde histórias criam vida. Descubra agora