Cinco. Onda de poder

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O fato de que logo mais os líderes dos 15 clãs estariam se reunindo diante do chamado de uma garota de 16 anos com o Toruk Makto ao seu lado, me assusta. Meu propósito aqui em Pandora é fazer como meu próprio nome sugere, trazer o equilíbrio da vida, mas o que eu uma adolescente órfã, sabe sobre isso? A resposta é simples, eu não sei, mas eu tenho que tentar, mesmo que isso custe minha vida.

O sono é o que me falta está noite, fico bolando de um lado para o outro em meu Marui sem conseguir pregar os olhos. O sol ainda nem havia se dado o trabalho de aparecer, via a lua se refletir no mar, e parava para encará-la. Levanto e vou até a praia, procuro andar um pouco pra tentar me acalmar e refletir. A cada passo que dou sinto a areia em meus pés e vou a chutando aos poucos. Minha visão se volta as ondas brilhosas no oceano, indo e vindo, como se estivesse vivo e respirando.

Sento na areia pondo uma mão minha em cada joelho de punhos abertos, observo as ondas, sincronizo minha respiração com cada ir e vir das ondas, fecho os olhos, sentindo o ar gelado da madrugada encher meus pulmões e vou soltando aos poucos. Sinto o ar ficar denso ao meu redor, e começa a ficar difícil de respirar, mas eu prossigo. A água encosta em minhas pernas e se afasta, e compreendo que eu quem está controlando a água, eu sabia das minhas capacidades com a água que eram tão afiadas a ponto de eu conseguir manipular até mesmo o próprio ar, podia fazer plantas crescerem mais rápido apenas com meu controle sobre a água.

Mas com o tempo, todo esse meu potencial começou a me assustar, especificamente uma parte, manipulação de sangue, devido as moléculas de água existentes nele eu poderia dominá-lo dentro do corpo de outra pessoa, animal e etc. Quando descobri isso foi uma notícia enorme no departamento, todos começaram a ter um cuidado redobrado por mim. Esse poder crescendo em mim era tão forte ao ponto de ser auto destrutivo, o que me levou a ter medo dele e me fez parar um pouco com tudo que envolvia dominação de água.

Porém naquele momento eu senti que podia tentar de novo sem ter medo de me machucar. O fluxo da água foi aumentando e cada vez com mais intensidade, apenas com minha respiração fui criando uma onda enorme bem a minha frente. Era como se tivesse água pura correndo em minhas veias, e de fato era. Sentir que tinha poder sobre aquilo me fazia sentir grandiosa, pois eram em momentos como este que sentia que estava cada vez mais próxima de Eywa, era como se eu pudesse ouvir seus batimentos cardíacos, era como se ela estivesse aqui ao meu lado segurando minha mão, eu amava senti-lá, eu a amava.

Aquele momento foi tão profundo que era como se eu já não tivesse mais controle sobre meu corpo, eu levantei e comecei a andar até a onda que se formava bem a minha frente, que a cada passo meu aumentava de tamanho, as águas brilhavam e me deixavam tão fascinada por sua infinita beleza. Enfim, sem querer abusar de meus dons, solto a onda aos poucos para que não acabasse causando um tsunami para cima de Metkayina por acidente. 

— Você não mencionou isso. — Me assusto com a voz repentina bem atrás de mim, e percebo que não é uma voz desconhecida e a reconheço quase que imediatamente. 

— Por Eywa Kiri! — Digo me recuperando do susto.

— Desculpa. Não quis assustar você. — Ela diz rindo e em seguida cobrindo a boca com a mão.

—  Skxawng! — Brinco, dando um pequeno murro em seu braço, o que a faz rir um pouco mais. — Silêncio ou podem ouvir você.

— Perdão. — Ela diz recuperando a própria respiração.

— O que faz aqui essas horas? — Disse voltando o olhar para a água.

— Não consegui dormir, e você?

— Idem. — Respondi rapidamente.

— Você não se incomoda se eu perguntar o que exatamente você estava fazendo? — Volto o olhar para a Omaticaya.

— Ah isso, é um de meus dons. – Digo de forma resumida.

— É como aquela coisa que fez quando chegou? Suas magias de acordo com Tuk.

— É. – Sorrio em lembrança da mais nova. – Ela é uma garotinha muito esperta, logo logo estará dando trabalho ao Jake.

— Ah acredite, ela já dá muito trabalho. – Assim que a menina termina de falar, solto uma gargalhada, rindo da expressão que fez enquanto falava. – Ela me lembra muito nossa mãe, não mais que Neteyam, mas ainda sim lembra. – Minha atenção se volta para a citação feita pela a garota ao irmão no meio da frase. 

— Como assim não mais que o Neteyam?

— A semelhança entre eles não é gritante o suficiente pra você? — Solto uma pequena risada ao fim da sua frase.

— Você tem uma forma um tanto engraçada de se expressar Kiri. — Comento.

— Ah é um dos meus dons. — Ela imita minha frase antes dita, o que me fez rir.

De fato foi um momento bom sentia que finalmente tinha uma amiga, que não fosse Murphy ou minha mãe, uma pessoa que eu sentia que podia ser sincera e rir sem me preocupar.

— Você tá aqui por causa da conversa não é? — Ela disse agora séria, encarando o chão.

— Conversa? Que conversa?

— Eu sei de tudo. Ouvi o papai e a mamãe falando pro Neteyam o que você os contou, meu irmão saiu do Marui completamente atordoado.

— Eu sinto muito. — Digo tombando minha cabeça para o lado.

— Esses demônios nunca vão nos deixar em paz? — Ela pergunta com a voz embargada.

— Ei! — Chamo a atenção da mesma segurando suas mãos. — Eu prometo que não vou descansar enquanto não banir todos esses parasitas de volta pro seu mundo. Vou trazer de volta a paz e o equilíbrio pra Pandora, ok?! — Ela acena com a cabeça e me abraça, o gesto da mais nova me assustou de início mas logo a abracei de volta.

— Obrigada! — Ela diz esfregando os olhos molhados. Percebo o céu tomando um rubor alaranjado, indicando o início de um novo dia.

— Por nada. Agora tente descansar um pouco, o sol já está aparecendo. Vamos eu te levo de volta. — Estendo a mão para a mais nova que a agarra e me acompanha até seu Marui.

Never Been HurtOnde histórias criam vida. Descubra agora