— Droga! — Praguejou Neteyam. — Lo'ak chama o papai, rápido. — Ele diz e assim o mais novo faz, subindo nas costas do animal enquanto tentávamos miseravelmente arrancar o dispositivo de Payakan. Puxávamos todos simultaneamente com toda nossa força mas era tudo em vão.
— Eles estão vindo! — Disse o mais novo em seguida agachando-se pra ajudar. — Vão chegar em alguns minutos.
— Merda, não temos esse tempo. — Digo soltando um assobio para Murphy que surge ao meu lado em segundos.
— O que está fazendo Rey? — Grita Neteyam.
— Ganhando tempo. — Digo voando para próximo do navio.
Faço criar uma imensa onda, grande o suficiente para que estivesse mais alta que o próprio navio. Não era minha primeira vez manipulando ondas como esta mas elas sempre eram as mais pesadas e as que exigiam mais esforço físico e mental. A onda quebra em cima do navio, fazendo perder seu controle por um momento, quase batendo em algumas rochas ali perto.
— Okay. Okay. — Digo a Murphy passando a mão sobre seu pescoço. — Bom trabalho arranha céu. — Falo citando um antigo apelido que havia lhe dado.
Me viro e vejo todas as crianças submergindo, junto ao Tulkun agora livre do dispositivo antes atingido. Sorrio aliviada e suspiro mas sou afastada de minha tranquilidade ao sentir algo voando rápido e rasgando a pele de meu braço. Ponho a mão no lugar rápido e me viro para o barco, algumas pessoas no cais atirando em nossa direção. Apertam o gatilho e as armas começam a metralhar. Sem pensar duas vezes estendo uma espécie de escudo d'água.
Ouço Murphy rugir e uma dor surge no peito simultaneamente. Uma dor agonizante toma conta de mim e percebo que ela não é proveniente de mim e sim de Murphy. Demoro um pouco para assimilar o que estava acontecendo e percebo... minha Ikran estava ferida e provavelmente morrendo. Estendo mais uma onda sobre o navio para que sirva como distração. Murphy pousa desajeitadamente sobre uma ilhota ali perto e eu saio de cima da mesma, desfazendo o tsaheylu.
— Não. Não. Não! — Digo examinando a Ikran, com cerca de cinco ou mais tiros feitos. Via o sangue do animal jorrar como uma nascente de um rio. — Olha pra mim. Você não pode morrer aqui. Preciso de você. — Digo desesperada. — Eu vou dar um jeito. Eu vou... eu... — Digo já sem forças tentando controlar o sangramento com minha dominação de sangue. Em vão.
Podia senti-la fraca. Eu sabia, só não queria acreditar, mas Murphy não iria sobreviver, seus ferimentos eram profundos e graves, o que já teria sido mais que o suficiente pra matar um Na'vi adulto.
— Oel ngati kameie, oeyä tsmuke. — (Eu vejo você, minha irmã) Digo sentindo as lágrimas rolarem violentamente sobre meu rosto. — Te amarei pra todo o sempre minha querida Murphy. Eywa estará com você agora.
Dou um beijo no topo de sua cabeça, e abraço seu pescoço e posso ouvir assim então o som mais doloroso de minha vida. O último suspiro de minha amada irmã. Meu choro continua por alguns minutos e permaneço ali agarrada ao corpo sem vida de Murphy. Mas enxugo minhas bochechas e prossigo. Ainda tinha muitas outras pessoas para ajudar. Me desvencilho da Ikran e me despeço com um beijo.
— Sinto muito Murphy. Eu sinto muito. — Digo ainda com lágrimas nos olhos.
Olho em volta e vejo um barco menor em relação ao grande navio, com uma espécie de gancho na ponta, perseguindo Payakan, pego meu arco e flecha na cela de Murphy, o mesmo que havia adquirido quando fui a ilha de minha mãe, e comecei a andar em direção a água.
— Hoje não! — Afirmo para mim mesma e começo a correr sobre a água, que a cada passo meu congela, o que na verdade para mim era algo novo, mas inegavelmente surpreendente.
Pula no navio já com uma flecha pronta e começo a atirar, talvez uma missão suicida?! Provavelmente, porém já havia perdido demais hoje, não ia deixar que mais ninguém morresse. Ataco cada um dos humanos ali presentes e faço questão de exterminar cada um deles. Não tiveram em momento algum piedade da minha família, por que teria com eles?! A raiva e o ódio havia me tomado por completo, eu podia e eu queria matá-los, queria vingar a todos que perdi pelo povo do céu.
Uma corda de aço começa a cortar o navio, olho para baixo d'água e percebo que Payakan quem puxava aquilo. Vou para a borda do barco para entrar dentro do mar antes que aquela haste me cortasse ao meio junto com o barco. O homem que antes atirava no animal agora se vê preso a corda a ponto de ter seu braço arrancado. Ele olha pra mim me pedindo ajuda, o máximo que consigo fazer e olhá-lo com desprezo e pular na água.
Agora apenas me restava o navio maior à frente, sem hesitar nadei até ele e entrei infiltrada, pelo compartimento traseiro. No cais vi Tsireya, Tuk e Lo'ak presos a uma barra, cercados por alguns avatares armados até os dentes. Um deles arranca o comunicador de Lo'ak e começa a falar com o que me parece ser Jake. Olho para o homem e lembro dos registros. Coronel Miles Quaritch. Ex soldado e coronel da Marinha, 56 anos, fraqueza: não encontrada. Podia matá-lo de forma rápida e indolor, com um tiro certeiro, mas ele não merecia, ele merecia sofrer, pagar por todos os seus pecados.
Peguei uma flecha e estendi no arco pronta para atirar, eu conhecia cada músculo, cada órgão do corpo Na'vi é humano, podia atirar num ponto que não o matasse mas o machucasse bastante. Antes que eu pudesse atirar sinto uma mão tocar meu ombro. Por impulso bato na pessoa com meu arco e já estendo a flecha para atirar quando vejo que na verdade era Neteyam.
— Puta merda Neteyam. — Digo me recuperando do susto.
A queda do Sully no chão vê emitir um barulho alto. Ouvimos dois dos soldados se aproximando então minha reação é puxá-lo para trás de um compartimento. Dou a volta e começo a atacá-los, atiro uma das flechas em um deles que morre instantaneamente com o golpe e em seguida vou para o outro, arranco sua arma de suas mãos e pego uma que estava no cinto do homem e com sua própria arma começo a esfaquear o mesmo. Olho para trás e vejo Neteyam olhar para mim boquiaberto. Volto para perto do rapaz em silêncio, até vermos Miles antes com as crianças agora se afastando em busca de seus soldados.
Aproveitamos a chance e nos aproximamos das crianças e com a mesma faca de antes arrancamos as fitas que os prendiam e os libertamos. Neteyam mandou que Tsireya levasse Tuk para fora do barco e em seguida libertou o irmão.
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Never Been Hurt
FanfictionVivemos num mundo repleto de puros paradoxos, amor e ódio, felicidade e infelicidade, equilíbrio e desequilíbrio, esta é a ordem natural da vida. Mas cada um desses paradoxos pode ser negociado e até mesmo quebrados. Por que seria diferente com a pa...