Depois do apoio emocional que Neteyam me deu aquele fim de tarde, comecei a vê-lo de outra maneira, como um amigo talvez, não sei exatamente. O assunto se esvaiu com o tempo, depois de sua declaração final a respeito dos irmãos. Depois de alguns minutos, num silêncio um tanto confrangedor, ele levanta num pulo e estende a mão para mim, me chamando para darmos uma volta em nossos ikran.
Nós levantamos, chamo Murphy e ele pega o seu, montamos e enfim pegamos voo, o vento gélido do início da noite junto a bela imagem do por do sol era revigorante. Eu e ele planávamos e brincávamos com o vento, chegando até mesmo a desafiar a gravidade. Ele dá giro elaborado com seu ikran, Naway, que diferentemente de seu dono era feroz e ligeiro, o rapaz me desafiava com o olhar para tentar superá-lo em sua performance.
Voo para o mais alto que posso, finalmente pairando, "está pronta?" Confiro Murphy que me responde mentalmente graças à nossa conexão. Ela mergulha violentamente, sinto meu cabelo correr com o vento, ela entra na água e rapidamente salta para fora, faço formar uma pequena bolha e arremesso em Neteyam, e a mesma estoura com o impacto, em cima dele, solto uma risada e ele me olha indignado. "Como ousa?!" Ele balbuciou me fazendo sorrir. O tempo passa e a lua já subiu para o céu, enfim decidimos pousar e voltar.
(...)
Uma semana se passara, e eu estava caminhando com Neteyam a praia novamente. Neste meio tempo ficamos muito amigos, conversamos, rimos, ele me conta sobre como o irmão mais novo vive fitando a filha do chefe, que de acordo com Neytiri, não estava agindo muito diferente do pai. No meio de nossa caminhada vemos Tsireya ao longe, não demorou muito até a mesma vir correndo até mim, ela para com uma mão no joelho e a outra no meu braço de cabeça baixa, ela levanta à vista e comunica:
— É urgente! Meus pais e os Sully estão no meu Marui. — Eu e Neteyam nos entreolharmos e seguimos a mais nova.
Chegamos a tenda de Tonawari onde estavam ele a esposa e o casal Sully, conversando parecendo preocupados, pareceram não notar nossa presença ali até que nós anunciamos.
— Mandou que nos chamassem? — Perguntei, e eles viraram para nos finalmente.
— Ah sim, sentem-se por favor. — Tonawari pede e assim fazemos, Tsireya sentada próximo aos pais, Neteyam próximos aos seus e eu ao centro.
— Então, o que seria a urgência? — Indago, percebo Ronal encarando o marido.
— Achamos uma grupo de animais marinhos mortos... por armas dos povos do céu. — Tonawari disse com pesar no tom de voz.
— Eles estão cada vez mais próximos. — Comenta Jake com a mão na testa.
— Mas e quanto aos Tulkuns? Já está na época de eles voltarem. — Pergunta Tsireya preocupada.
— Perdão Tulkuns? — Pergunta Neteyam, se pronunciando pela primeira vez na discussão. Ronal põe a mão sobre a boca e cochicha para o marido a respeito dos animais citados pela filha.
— São nossos irmãos e irmãs espirituais, são como, o que o povo do céu chama de baleias. — A Metkayina explica resumidamente.
— Ah... entendo.
— Estou farta destas pragas. — Disse já irritada. — Temos previsão de chegada pra os exércitos dos outros clãs?
— Infelizmente não. — Disse Ronal com a mão sobre o peito. — Isto tudo é culpa sua! Protegido de Eywa. — A mulher disse exaltada com Jake, fazendo a esposa do homem entrar em defesa.
— Eu sinto muito, sinto que trazi está guerra para vocês, não queria os por em perigo desta maneira. — Fala Jake abaixando a cabeça sentindo-se culpado.
— Oh meu amor. — Disse a esposa pondo a mão em suas costas, esfregando com o polegar.
— Não se sinta culpado Jake. Os únicos culpados são o povo do céu, já os vencemos uma vez, podemos fazer isso de novo. Principalmente com uma filha de Eywa junto a nós. — Tonawari diz se referindo a mim.
— Farei de tudo para proteger Pandora! — Afirmo firme, assentindo confiante, bom pelo menos por fora eu me sentia assim, por dentro eu estava despedaçada. — Peço um momento, sim. — Me levanto trêmula, sinto minhas pernas vacilarem, mas assim que saio da tenda sinto todas as emoções saírem tão rápido quanto uma bala.
Choro em silêncio, me agacho e ponho minha mão sobre meu peito sentindo minha respiração ficar cada vez mais pesada. A dor era imensa, eu me sentia impotente, eu precisava reagir, o povo precisava de mim tanto quando eu precisava deles. Sinto uma mão delicada tocar em meu ombro.
— Ei! — Ouço a voz de Neteyam ecoar. — Você está bem?
Sem pensar duas vezes me levanto num pulo e jogo meus braços sobre seu pescoço o envolvendo num abraço, só nós conhecíamos a poucos dias mas sentia que era como uma vida. Ele se assusta inicialmente e me abraça pela cintura.
— Ei, ei, vai ficar tudo bem, ok?
Ouvimos Jake se aproximar, ele nos vê ali e rapidamente se cala, ele olha pro filho que apenas o lança um olhar preocupado e sai. Ficamos ali por cerca de dois minutos quando finalmente nos desvencilhamos do nosso abraço eu o encaro e limpo meu rosto.
— Obrigada. Eu precisava de ar. — Digo com um sorriso de canto e os olhos marejados.
— Eu entendo, é muita pressão em cima de você.
— É... — Digo num suspiro. — Precisamos voltar. — Ele afirma com a cabeça e sorri.
Voltamos para dentro, para terminar nosso debate e enfim decidimos mandar tropas à frente e chamarem alguns dos cientistas amigos de Jake de Omaticaya para cá. Tonawari avisaria as outras ilhas para que guardassem segredo quanto ao paradeiro dos Sully's. Quanto aos Tulkuns teríamos todo cuidado possível, não podíamos correr o risco de perdermos eles. Por hora manteríamos sigilo para o resto do povo, para não causar pânico na vila.
Em algum dos dias seguintes, eu iria até minha antiga ilha para ver se conseguiria acesso a outras informações referentes ao povo do céu, e quem sabe ter notícias da minha mãe. Por fim cada um de nós fomos para seus devidos Marui, mas Neteyam fez questão de me acompanhar até minha tenda.
— Você sabe que não precisava não é?! — Disse finalmente chegando a porta.
— E você sabe que eu faço questão. — Ele sorri. — Tem certeza que está bem? — Ele confere.
— É eu tenho! — Digo me virando um pouco. — Agora vá descansar sim! Boa noite Neteyam.
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Never Been Hurt
FanfictionVivemos num mundo repleto de puros paradoxos, amor e ódio, felicidade e infelicidade, equilíbrio e desequilíbrio, esta é a ordem natural da vida. Mas cada um desses paradoxos pode ser negociado e até mesmo quebrados. Por que seria diferente com a pa...