Quinze. O momento

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Não gostei de ter conhecido meus pais naquela circunstância. Gostaria de saber o por que de Eywa só me mostrá-los agora, teve 16 anos para fazê-lo e nunca fez, e por que justo agora? Kiri permanecia estável mas ainda apagada, tinha medo do que poderia acontecer, Jake chamou alguns dos cientistas Omaticaya que conhecia e eles a analisaram mas não obtiveram avanço nenhum.

Ronal como enfermeira e tsahik de Metkayina se dirige até lá e ordenou para que todos saiam e com a ajuda de Tuk e Neytiri. Preciso ficar do lado de fora da tenda, então resolvo ir até meu próprio Marui, atrás de ervas medicinais que poderiam ajudar no ritual. Três batidinhas no cascalho da tenda e minhas orelhas se arqueiam, me viro para encarar  e vejo a pessoa quem eu menos queria ver naquele momento, já estava lidando com muita coisa, para ainda lidar com um drama de romance adolescente. A esta altura do campeonato eu nem estava dando mais muita importância para aquilo.

— O que quer Neteyam? — Digo exaltada.

— Podemos conversar? — Fico confusa, ele teve muitas oportunidades de falar, não falou por escolha própria, e logo agora, que a irmã está desacordada.

— Sério? Agora? — Pergunto pondo uma mão na cintura.

— Não, eu posso esperar. — Ele diz soltando um suspiro pesado e baixando a cabeça, se afastando do Marui.

— Não. Tudo bem, Ronal está fazendo o ritual, não tenho muita pressa. — Aponto para o canto e me sento e ele logo faz o mesmo. — Então?

— Eu... sinto muito. — Ele inicia e inclino minha cabeça para o lado em dúvida. — Acho que fui muito evasivo aquela noite, na ilha. Nós conhecíamos a apenas algumas semanas, não sei se agi certo. Fiquei com medo de tê-la assustado, por isso optei por lhe dar um tempo. — Merda. Agora me sinto culpada por culpá-lo, quando ele só estava preocupado com o que eu sentia.

— Não fiquei. Queria que tivesse me dito isso antes. — Digo.

— Eu sei, me desculpe. — Ele diz de cabeça baixa.

— Ok. Eu só fiquei confusa, não sabia se tínhamos apenas tido um momento de prazer ou se tinha tido algum tipo de sentimento...

— O que? Rey, não. — Ele diz pegando minhas mãos — É claro que teve sentimento, eu não fiquei preocupado atoa. — Sorri e respirei fundo, aliviada. — Eu também tinha medo de não ser recíproco.

— Está se declarando pra mim Neteyam Sully? — Digo com um sorriso brincalhão no rosto. Mesmo em momentos assim arranjo momentos com uma pitada de humor.

— E se eu estiver? — Ele sorri se aproximando de mim.

— Eu vou dizer muito bem... eu vejo você. — Seu sorriso some por um momento e isso me deixou um pouco nervosa, quando ele pula em mim com um sorriso maior que o anterior. Ele se desvencilha de mim e fica bem a minha frente com suas mãos em meu rosto.

— Eu vejo você! — Ele diz e um sorriso se põe em meu rosto e rapidamente colo os lábios nos seus e é como se tivéssemos voltado aquela noite.

Todos o sentimentos ali presentes, como da primeira vez, nossas bocas estavam necessitadas uma da outra, nossa línguas se tocavam numa só harmonia. Nós deitamos ao chão, me pondo encima de Neteyam, assim com nossas pernas entrelaçadas. Paramos o beijo por um momento por falta de ar, e nós encaramos por alguns meros segundos, com um olhar eletrizante, apaixonado e ainda sim faminto. Voltamos a nos beijar numa fome incessante, sinto seu rabo envolver minha coxa e subir lentamente. Ele vira e se coloca acima de mim, fazendo uma pequena trilha de beijos até meu pescoço.

— Oh, vai com calma Sully! — Digo rindo um pouco e tentando recuperar meu ar.

— Desculpa.

— Talvez depois, ainda é muito cedo. — Digo acariciando seu rosto.

— Okay. — Ele diz, logo em seguida voltando a me beijar.

— Aí merda! — Ouvimos alguém a porta, nos separamos do beijo e olhamos rápido pra pessoa, Lo'ak, a porta com as mãos nos olhos. — Eu não vi nada!

— Lo'ak, seu idiota! — Neteyam sai de cima de mim e estende a mão para me ajudar, agarro sua mão e levanto. — Anda, abre os olhos.

— Olha foi mal mesmo, mas eu precisava avisar. Kiri acordou.

— Merda. Por que não disse antes?

Saio correndo para o Marui dos Sully e ao chegar vejo a garota Omaticaya pálida no chão recostada sobre a mãe, Tuk agarrada a mão da mais velha e Jake em pé ao seu lado. Neteyam entrou logo em seguida e olhou pra irmã.

— Kiri! — Ele vai pra cima da irmã e a abraça.

— Aí seu babaca. — Ela diz com a abraço apertado do irmão, que se desvencilha e a olha.

— Eu te vejo minha irmãzinha babaquinha. — Ele bagunça o cabelo da irmã que sorri e responde.

— Kiri, pelo amor de Eywa, nunca mais nos dê um susto desse. — Digo abraçado a mais nova que sorri.

— Certo é muito obrigada, sei o que fez e eu literalmente lhe devo minha vida. — Ela diz com um sorriso meigo no rosto.

— Ei! Eu também ajudei. — Diz Neteyam atrás de mim.

— Okay "herói". — Ela diz em tom de piada, e o mesmo finge ter se ofendido. — Obrigada irmão.

Voltei para meu Marui para pegar as ervas uma vez colhidas, voltei e fiz um chá para a garota, e a fiz beber junta a uma sopa feita pela mãe da garota. De fora ouvimos barulhos de pessoas correndo para a praia e ondas quebrando, canções e sons semelhantes ao de baleias, Tulkuns. Tsireya anunciou de fora:

— Eles voltaram! Nossos irmãos e irmãs voltaram para casa! — Ela disse acenando para seu povo.

Saímos lentamente do Marui, sentindo a luz do sol bater forte em nosso rosto. Kiri e Tuk ficam na cabana e o resto de nós olha para a paisagem maravilhados. A garotinha sai do local em busca de descobrir o que acontecia do lado de fora e em segundos pulou entusiasmada, e voltou para dentro chamando Kiri para ver. Ela sai da tenda e seus olhos brilham com a visão. Enfim finalmente a volta dos Tulkuns.

Pegamos os Ilus e entramos no mar vendo por debaixo d'água. Lindos animais enormes, completamente inofensivos. Eu e Neteyam nadávamos juntos, mostrando uns para os outros casa uma das belíssimas imagens ali vistas. De fato, um dos melhores momentos que já tive.

Never Been HurtOnde histórias criam vida. Descubra agora