♡ Capítulo 30: "Como eu senti falta dela."

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— Última chamada para o voo 214 para a Polônia! — Exclama a voz melancólica no rádio

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— Última chamada para o voo 214 para a Polônia! — Exclama a voz melancólica no rádio.

Já havíamos despachado todas as malas, em minhas mãos havia apenas um livro para me distrair do incômodo de estar voando. Margareth e eu, dividimos os alunos em duas filas, vinte em cada uma e em silêncio fomos embarcando no avião. A cada passo que dou, consigo sentir novamente aquela ansiedade, a mesma que me tomou de manhã ao lembrar a sensação de estar dentro de um desses aviões. Caminho por entre os assentos, sempre atendo ao meu número, ao encontra-lo, me sento e fecho meus olhos tentando relaxar um pouco, um gesto simples mas que alivia toda a tensão que eu estou sentindo. Abro meus olhos e apanho o livro de Ian Steverson, um outro pesquisador sobre vidas reencarnadas. Começo a leitura e por um momento esqueço que em breve estaremos a vários metros de altura e se algum ser superior quiser brincar de desastres aéreos, bom, vai ser bem ruim para todas as pessoas abordo.

De repente, um sublime perfume de flores toma o meu nariz e sinto o assento ao meu lado ser preenchido. Uma mão pequena com unhas pintadas em azul fecha meu livro.

— "Casos Europeus de Reencarnação" , não sabia que era religioso. — Constata Zoey, sorrindo. Levanto meu olhar para a garota ao meu lado.

— E não sou. Me considero apenas um curioso pelo assunto. — Mal sabe ela que tudo isso é por causa dela. Eu quero saber mais sobre esses casos, se eu for mais a fundo, talvez finalmente, eu poderia contar tudo a ela. Coloco o marcador na página que fui forçado a parar de ler e termino de fechar o livro, dando total atenção para Zoey.

— Onde você esteve esses dias? — Eu quero saber. Eu tenho necessidade de saber.

O sorriso brincalhão que estava iluminando o seu rosto sumiu. Pude notar seus ombros se tornarem tensos na poltrona. O que será que aconteceu? Pego em sua mão.

— Você sabe que pode confiar em mim, Zoey.

— Eu sei. De qualquer forma, não aconteceu nada.  Eu só não gosto de voar. — Confessa a garota ao meu lado, não consigo segurar o meio sorriso que se forma em meus lábios. Ela também tem medo de voar.

— Mas ainda nem saímos do chão.

— Eu sei, mas em breve vamos! — Zoey aumentou o tom de voz. — Você não tem medo de nada, não é? É sempre tão forte. — Suas palavras penetram forte em meu coração, ela me vê como uma figura corajosa.

— Isso não é verdade. Eu tenho medo de várias coisas. — "De você se afastar de mim e eu te perder novamente." Penso.

— Me diga um. — Zoey me desafia, seus olhos me olham com desconfiança. Não pude deixar de notar que minha mão que outrora estava apoiada sobre a dela, se encontram agora entrelaçadas.

— Voar. — Falo sincero, sorrindo para ela. — Eu também carrego um pouco de insegurança em estar no ar. Eu já viajei muito, com a Marie, claro. Mas ainda não me acostumei com isso.

— Você parece tão calmo. — A garota diz, analisando minha expressão, talvez procurando por algum sinal de mentira de minha parte.

— Por dentro estou bastante nervoso. Não se pode julgar um livro pela sua capa, não é? — Pisco para ela.

— Depende, se for um livro de álgebra com certeza eu julgaria. — Ela ri e eu não consigo conter a minha risada, me juntando a ela. Zoey sempre tira o melhor de mim.

— Eu vou te contar um segredo. — Me inclino para mais perto de seu rosto. Seu perfume doce fica ainda mais intenso em minhas narinas. — Em cada quatrocentos milhões de voos, apenas dez incidentes são realmente fatais. Sendo assim, acho que vamos ficar bem.

— Acho que vamos sim. — Sem notar, eu estou acariciando sua mão com o polegar. — Eu estava doente, por isso não pude vir. — Confessa Zoey, repentinamente.

— E agora, como se sente?

— Melhor. — Zoey olha para nossas mãos entrelaçadas e meu coração dispara, pareço um garoto fazendo alguma coisa errada e esperando pelo julgamento final. A garota volta a me olhar, seu rosto é sereno e calmo, sou pego desprevenido pelo sorriso que aparece em seus lábios, sorrio junto. Como eu senti falta dela.

— Pensei que tinha voltado para Oxford. — Digo sincero. Eu realmente pensei que ela tinha me deixado.

— Não tenho motivos para fazer isso, eu... — Sua frase é cortada.

Uma moça ruiva toca em seu ombro, rapidamente solto sua mão e volto a encostar minhas costas na poltrona, porém a sensação calorosa do nosso contato ainda é presente.

— Com licença, eu acho que esse é meu assento. 013? — A Ruiva mostra a passagem.

— Oh sim, me desculpa! Eu só estava tirando uma dúvida sobre a matéria. — Diz Zoey se levantando depressa. — Obrigada pela paciência, professor Davies.

Seguro o riso e agradeço com a cabeça.

— Viagem de escola? — Pergunta a ruiva ao se sentar ao meu lado.

— Sim. — Respondo, sem ânimo. Ela tinha afastado o meu bom humor quando fez Zoey ir embora.

— A propósito, meu nome é Helena. Qual o seu? — A mulher ruiva, que agora sei se chamar Helena, oferece a mão para eu apertar.

— Keanu Davies. — Respondo, apertando a sua mão por educação.

— Nome diferente. É de onde? — Helena questiona e eu reviro meus olhos rápido para que ela não perceba minha inquietação.

— Reino Unido.

Helena continua me interrogando e dialogando sobre coisas da qual eu não estou dando a mínima atenção.
Minha ideia de voo quase tranquilo, em companhia de um bom livro sobre vidas passadas está sendo interrompido por uma mulher de cabelos flamejantes.


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