Além do Olhar © 2020

♡ Capítulo 16: "O quão clichê estou sendo?!

O som agudo de um tiro é o meu despertador diário, mas tinha um lado positivo desta vez: Me acordara para uma manhã de domingo. O dia que almejei a semana toda.

A ansiedade está mais do que presente no ar, meu corpo está todo tenso, talvez nem um banho quente seja capaz de resolver a situação.

Com mais esperança do que tive nos últimos anos me levanto da cama. Respiro fundo e deixo o ar sair devagar por meus pulmões. Estou ansioso para ver a Zoey.

Cada parte do meu corpo deseja a sensação de conforto, de paz que emana dela. É na presença dela que minha mente se sente um pouco em paz, longe dos pesadelos que a sonda todos os dias.

Passei a semana toda planejando como seria o dia de hoje.

Em frente ao espelho, ajeito meu cabelo, que hoje está maia rebelde que nunca. Minha barba já me dá sinais que está crescendo, pontas de pequenos pelos aparecendo. Ao toca-los, lembro do quanto a Marie, minha Marie, gostava da aspereza deles roçando em seu pescoço delicado. Me lembro perfeitamente da sua pele se arrepiando com o meu toque.

Balanço a cabeça, afastando esses pensamentos, me forçando a repassar os planos para o dia de hoje, enquanto borrifo um pouco de perfume em mim.

Eu a levaria para o mesmo lugar que levara a Mary para andar de bote. Um bosque isolado no parque, no qual precisávamos passar por uma pequena "floresta", assim posso chama-lo.

Pelo que me recordo, o lugar era de uma vegetação encantadora, ar puro, algumas flores cresciam ao redor do lago, haviam alguns botes. Tenho certeza que Zoey adorará o lugar, assim como um dia Marie adorou.

Ao redor das flores, planejo montar nosso pequeno piquenique, alguns lanches com pasta de amendoim e mais algumas coisas. Sentaríamos, apenas protegidos pelas sombras das árvores, conversaríamos bastante e tudo ocorrerá bem.

Será um dia bastante agradável.

Desço as escadas, passo pelo rádio e coloco uma música e sorrio confiante. Me sinto bem.

Caminho até a cozinha, pego tudo o que preciso para começar a fazer os sanduíches. Faço tudo com perfeição, eu não posso estragar esse dia e tudo começará com um belo lanche da tarde. Preparo três opções de sanduíche, afinal não sei do que ela gosta de comer. É um tiro no escuro preparar um piquenique sem ao menos saber o que a pessoa gosta, só agora caio na real sobre isso, porém esse é um risco que eu quero correr.

Preparo três opções de sucos também, talvez eu esteja sendo um pouco exagerado, mas não quero errar. Ao finalizar o suco de morango, me pego pensando se Zoey gosta de suco de morango tanto quanto Marie.

Rio comigo mesmo ao encarar o cesto com alimentos e a famosa toalha vermelha xadrez. O quão clichê eu estou sendo?! Mas isso não importa, apenas quero ver o sorriso nos lábios da Zoey.

Sua aluna.

Meu subconsciente aponta, me puxando para a realidade e junto com ela, o sentimento de culpa.

Ela é minha aluna e alguma coisa nela me é tão familiar. É algo além dos olhos. É a essência. Eu não posso esquecer quem ela é, e o que esquecer desse fato me custará, vai além da minha idade, é a minha profissão. Se eu não fosse seu professor...

Bloqueio esse pensamento.

Olho para o relógio, faltava algum tempo até eu me encontrar com ela, mas estou elétrico demais, não aguento ficar em casa esperando, pego as chaves, o cesto e saio.

Fico dando voltas e voltas na praça, repassando incessantemente o plano na minha cabeça, planejar o que falar, ao levantar meu rosto, a vejo de longe, vestido azul, florido.

Naquele momento, eu me perdi totalmente.

Quando seus olhos me encontraram, ela sorriu. Um sorriso que colocou, toda e qualquer barreira que eu pudesse ter colocado entre nós, sentimentalmente, ao chão.

Caminho até ela, sem olhar para mais nada ao meu redor, como se ela fosse a luz no final do túnel.

­­— Olá. — Ela me cumprimenta com um abraço, eu rapidamente retribuo. Seu perfume é tão bom. O calor do seu corpo é tão intenso. Eu a seguro em meus braços por mais tempo do que devo.