capítulo 3 AS CARTAS

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Enquanto o horário do colégio não chegava, comecei a vasculhar a casa em busca de respostas para tantas perguntas.

Nunca tinha vasculhado a garagem. Um instinto superior me puxou para lá. Quero analisar cada pedacinho desse lugar. Aproveitei que o vovô deixou o carro lá fora.

Ao adentrar no lugar, o cheiro de mofo me deu boas-vindas. Caixas empilhadas e cobertas de poeira demonstraram o passar do tempo. O ambiente sujo e úmido, enfeitado com teias de aranha, criou um ar assustador.

Acho que esse lugar precisa de uma faxina. E tenho certeza de que esconde várias memórias boas dos antigos donos.

Assopro a poeira de uma caixa enorme de papelão, encontro quadros antigos e livros com capas em couro, traças usaram tudo isso de refeição. Encontrei também jornais velhos e objetos entalhados em madeira.

Passei a minha mão em outra caixa para limpar a sujeira e, ao abrir, encontrei uma caixinha pequena, enfeitada à mão. E dentro dessa caixinha me deparei com cartas, cartas de verdade, iguais aos livros. Guardei na mochila imediatamente.

- Ei?! O que está fazendo aqui? - meu avô perguntou juntando as sobrancelhas.

Levei um susto e meu coração quase pulou para fora do corpo. Meu avô me encontrou, olhei tudo ao meu redor procurando uma desculpa.

- Eu... Só... Estava reparando na bagunça! E... Essa... Essa... Essa bicicleta!! O que acha de consertá-la para mim? São só 2 km daqui para a cidade, então não irei precisar te incomodar todos os dias. - falei engolindo em seco.

- Não é incômodo, minha querida, mas se quiser ser independente, eu arrumo ela sim. - ele disse relaxando suas expressões faciais.

- Então... Vamos? Não quero que se atrase, hoje à tarde arrumo a bicicleta. - Percebi seu olhar percorrendo todo o lugar, parecia estar procurando algo.

Voltamos para a cozinha, terminamos de comer e seguimos para o colégio. Chegando lá, a Mariá já estava me olhando com desprezo. Passei direto, não olhei em seu rosto, mas senti seu olhar me percorrendo de cima a baixo. E para completar, meu dia será solitário, Lina ainda não tinha chegado. E como esperado, ela não veio.

A aula estava bastante chata, virei a página do caderno e comecei a desenhar. Duas aulas se passaram. Hayden chegou atrasado de novo, ele passou a noite em claro procurando caras maus? Ele se sentou atrás de mim novamente. Mas nenhuma palavra foi dita.

O intervalo chegou, não estava com fome, então decidi ficar na sala. Quando Mariá levantou, pude perceber a marca roxa em seu pulso, ela estava tentando esconder. Independente do motivo, senti um peso na consciência.

Encostei o rosto na janela e fiquei relembrando da voz, a voz do meu pai. Sinto tanta falta deles em minha vida que meu cérebro está criando coisas para suprir a carência. Fiquei imaginando, como seriam os meus pais? Queria tanto que eles estivessem aqui.

O sinal tocou e todos voltaram para a sala. As duas aulas passaram rápido, o tempo passa voando quando se faz o que gosta. Finalmente chegou a hora de voltar para casa, mal posso esperar para ler as cartas antigas. Eu amo um romance clichê.

Na porta da sala, Mariá ficou parada na minha frente. Me impedindo de ir para a minha cama abençoada para ler meus achados de hoje, mas que inferno.

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