Capítulo 9 -1 FILHO DA PUTA

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HAYDEN SCOTT

Ao perceber que Kaylee já está dentro de casa, rezo aos Deuses para que ela fique bem, se é que eles existem.

Me embrenho novamente na floresta, dessa vez sozinho, sinto meu coração disparar ao lembrar dos toques dos dedos dela em meu corpo, e do seu beijo. Ah, Kaylee, você é uma perdição.

Depois de tudo o que aconteceu, não imaginei que a veria novamente, e saber que você não pode se lembrar de nada dilacera meu coração em mil pedaços, mas ao mesmo tempo sinto o frio na barriga, porque mesmo sem se lembrar... ela é atraída até mim feito um ímã, e tentar me manter longe é nadar contra a correnteza.

E se você soubesse que todos esses anos eu fiquei te esperando? Imaginando se você estava bem, e só de imaginar a possibilidade de ele te machucar me deixava maluco.

Sinto que estou sendo observado, começo a varrer as redondezas com os olhos, deixando os instintos aflorarem, eu não estou sozinho e maldita hora para eu estar andando quase desarmado, somente com uma faca escondida na calça de moletom.

Começo a seguir o mesmo caminho para onde estava indo, mas dessa vez, com passos lentos e silenciosos, atento a cada mísero barulho. Sinto o som de um galho se quebrando e me viro em questão de segundos, com punhos cerrados já em guarda. Mas me deparo com um cervo; não imaginava que tinha cervos por aqui nessa época do ano, encaro seus olhos assustados e na mesma velocidade em que aparece, ele some no meio das árvores altas.

Continuo caminhando com todo cuidado e o máximo de atenção, se o cervo estava assustado, tem um motivo para isso, né? Mais alguns passos e a sensação de estar sendo observado me acompanha. Vejo novamente o cervo, mas dessa vez com olhos vazios, não parece mais estar vivo.

Ele me acompanha pelo resto da caminhada, o que não é nada normal. Por alguns minutos me esqueço dele seguindo meus passos. Chegando próximo à cidade, escuto um barulho, me viro com o coração palpitando e o cervo já não está mais lá, vejo um corvo voando entre as copas das árvores e seu grito é assustador, sinto um calafrio percorrer a minha espinha.

A sensação de olhos me observando queimam a minha nuca, mas sempre que me viro não vejo nada. A cidade hoje parece mais calada do que nunca, e algo em minha consciência grita, sinto como se estivessem em outra dimensão, tá que Skayland é estranha, mas está muito pior do que minutos antes, quando estive aqui com Kaylee.

Passo pela cidade observando cada beco escuro com olhos semicerrados, preciso me manter em alerta, pois a qualquer minuto, tenho certeza de que precisarei me defender, do que eu não sei.

Consigo atravessar a cidade e nada acontece, há algum tipo de joguinho sujo e pressão psicológica, claro. Chego à floresta do outro lado da cidade, indo para o muquifo que chamo de lar, não me importo de mostrar onde eu moro, sei que, antes de chegar lá, eu mato esse desgraçado que está brincando com a pessoa errada.

Tiro as minhas botas para sentir o chão úmido e disfarçar que estou sentindo sua presença, amarro os dois cadarços juntos para ficar mais confortável na pegada e os seguro, começando a caminhar descalço; em seguida, tiro minha camisa, acho que vou seduzir meu paparazzi. Mas na verdade, mostro meu tronco nu somente para deixar meu corte visível; seja lá quem estiver me seguindo, vai querer me atacar mais rápido se perceber que estou vulnerável.

Jogo a camisa sobre os ombros como se fosse uma toalha e dou mais alguns passos à frente, e esse é o momento exato, meus instintos vibram. Finjo que a camisa cai, jogando-a no chão propositalmente, para me agachar e tirar a faca da bainha que está presa em minha canela, próxima ao tornozelo.

Vejo de canto o corvo me observando em uma árvore, e, em seguida, pousa no chão, me levanto lentamente escondendo a faca, e como mágica, o pássaro se transforma em um homem, com uns 25 anos de idade, com cavanhaque, cabelos castanhos, com mais ou menos a minha altura e estrutura corporal. Antes que ele possa fazer qualquer movimento brusco, estou com a faca bem firme a centímetros do seu pescoço.

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