capítulo 17 JOGUINHO DOENTIO

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Hayden Scott

Uma semana antes

24 de outubro de 1999

A cada dia que passa, eu me sinto mais apaixonado por essa garota. Sinto que essa paixão vai me custar caro, muito caro. Tão caro a ponto de eu ter me esquecido de que estou ficando sem tempo e de que as malditas pessoas que mataram os meus pais ainda estão soltas, impunes.

Giro a chave do meu Civic 98, acendo um cigarro e coloco para tocar a música "Play with Fire" de Sam Tinnesz. Deixo a nicotina aliviar o rancor cravado em meu peito enquanto batuco no volante do carro.

Sigo em direção à casa do sargento Arnof, sei que ele estará viajando a negócios e me agarro à oportunidade de colher informações importantes. Já bolei mais um plano pensando nos mínimos detalhes e só preciso descobrir qual será o seu próximo passo.

O vento frio do inverno corta o ar enquanto eu atravesso a cidade, indo em direção ao centro, para tentar invadir a mansão do hipócrita. Paro o carro em uma esquina e jogo o cigarro no lixo. Na madrugada fria, faço o possível para não chamar a atenção das pessoas, parando duas quadras antes da sua rua.

Meu capuz preto maltrapilho me acompanhou todas as vezes que mandei pessoas para outro plano, e desta vez, não será diferente. Luzes brilham no muro da casa, que é dez vezes maior do que o muquifo onde moro. Tiro um par de luvas isolantes do bolso para tentar pular o muro com cerca elétrica.

Ando ao redor evitando as milhares de câmeras até encontrar uma pilha de caixas de madeira jogadas ao lado na parte esquecida da rua. Monto uma escada improvisada para ter visão do que me espera do outro lado. Não sabemos o que podemos encontrar ao invadir uma propriedade privada.

Ao subir, aperto os olhos para tentar enxergar melhor com a luz da varanda em baixa intensidade, tudo parece calmo, tranquilo, silencioso. Esperava ver vários cães de guarda ou algo do tipo e fico extremamente decepcionado, parece fácil demais.

Pulo para dentro do estabelecimento e o barulho das minhas botas na calçada de pedregulhos me faz parar, mas nada acontece. Caminho ao redor atento a cada mínimo barulho, mas não escuto nada. As várias janelas de vidro tornam difícil me esconder. Procuro uma passagem, algum vacilo, mas tudo está muito bem trancado, e não seria de menos, já que uma das maiores figuras da guarda nacional mora ali e ainda contrabandeia armamento pesado. Ele não seria burro em deixar provas contra ele a Deus dará.

Passando pela enorme porta de vidro da cozinha, noto uma senhora com um esfregão limpando o chão, com uma calma impressionante, ou talvez seja o cansaço por conta da idade. Olho para a próxima janela e vejo a sala de estar, um sofá azul marinho gigantesco no centro, com um tapete branco de veludo abaixo. Em frente, uma TV enorme cobrindo a parede inteira, também uma prateleira com livros e uma mesinha com algumas garrafas de whisky e alguns copos.

Sigo direto e avisto uma janela pequena, dando visão para o escuro, com um pequeno abajur com luz alaranjada em cima de uma escrivaninha de madeira, creio que seja seu escritório.

Enfiando a mão no bolso e tiro mais uma geringonça para burlar a fechadura. Ao escutar um click, abro a janela lentamente, e ao me adentrar, o ar quente me dá boas-vindas.

Começo a abrir algumas gavetas de sua mesa e encontro vários comprovantes de pagamento, talões de cheque, uma agenda com milhares de nomes que tenho certeza que são empresários ricos e traficantes perigosos. Começo a andar pela sala com paredes num tom de marrom chocolate. Paro em frente a uma enorme prateleira com vários livros que tenho certeza que são dignos de colecionador. Ao lado, há uma pequena mesa arredondada com algumas garrafas de bebidas importadas.

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