capítulo 8 UMA MENTIRINHA

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Continuamos caminhando pela floresta e já podemos enxergar a poucos metros de distância as ruas da cidade. Não consigo controlar meus pensamentos, o silêncio dele me corrói, eu queria tanto saber o que está se passando na sua cabeça. E novamente, como se pudesse ler os meus pensamentos, ele quebra o silêncio.

– Você pode especificar essas coisas... estranhas que você anda vendo? – pergunta meio sem jeito.

– Você não acredita em mim, né? – pergunto cabisbaixa.

– Não, não é isso, eu só fiquei curioso. –

– Não quero mais falar sobre isso, foi um erro começar esse assunto, sinto muito. – falo com olhar baixo.

– Tudo bem, já te pressionei demais. – E o silêncio volta novamente.

Chegamos às ruas estreitas e esquecidas da velha cidade, continuamos a caminhada, passando pela praça e não posso negar, todas as vezes que passo por aqui, sinto a mesma sensação de déjà vu, é inexplicável.

– Você sempre foi daqui? Dessa cidade, no caso. – pergunto focando meu olhar em seu rosto.

– Não, eu nasci em um vilarejo meio distante, o meu pai tomava conta de lá, cuidava das pessoas juntamente com a minha mãe, foi assim durante os meus 9 anos de idade, os melhores anos da minha vida. – diz com um sorriso falso. – Até o vilarejo ser invadido, tive que assistir a minha mãe ser estuprada, torturada e morta. Não conseguimos fazer nada, foram muitos homens. Os gritos da minha mãe ainda ecoam em minha mente, suas lágrimas, o desespero do meu pai tentando se soltar para ajudar ela... eu só sabia tremer e chorar, as memórias me perturbam todo santo dia. –

– Hayden... eu não sabia, eu sinto muito por isso – me sinto culpada por tocar no assunto. Toco o seu ombro, para demonstrar que eu me importo, eu não sei o que dizer ou fazer, mas, ele tira a minha mão.

– Está tudo bem, relaxa. – ele diz com olhar vago.

– Não, não está. Sei muito bem como é cutucarem as suas feridas, me desculpa por isso, e por te tocar. – falo envergonhada.

– Não é que eu não goste, é que você tocou na minha ferida, literalmente, eu tô machucado, tem um corte aqui no meu ombro – ele demonstra um pouco de diversão em suas palavras. Não sei se ele está falando sério ou tirando sarro de mim. Que gafe, quero abrir a porta de uma dessas casas e sair correndo.

– Deixa eu ver isso aí. – falo tentando reverter a situação.

– Tá tudo sob controle. – ele diz com falsa afirmação.

– Para de ser teimoso, por favor. – insisto.

Paramos em uma rua estreita enquanto ele tira a camisa para me mostrar a gravidade do seu ferimento. Suspiro ao ver o seu tórax nú, tudo se passa em câmera lenta, enquanto eu analiso cada detalhe, até ver o corte, é enorme e profundo...

– Está aproveitando a vista? – ele fala enquanto pisca para mim. Idiota. Penso em retrucar, mas vejo o seu ferimento.

– Hayden! Isso é estar sob controle? Tem um corte gigante e aberto, sangrando aqui. – falo me aproximando.

– Eu tô bem, vai cicatrizar rápido. – diz tentando me acalmar.

– Se você não tratar isso rápido, vai infeccionar. –

– Está tudo bem, Doutora Kaylee, relaxa. –

– Como consegue ficar de pé assim? – falo oscilando meu olhar do ferimento para os seus olhos.

– Sinal de que eu estou bem?! Vamos, você não tem tempo para bobagens. – Sinto vontade de socar o seu rosto, 'tá tudo bem' ele vai acabar morrendo tentando parecer durão.

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