— Que merda! – Lo'ak resmungou, jogando a faca no chão. Estava estressado demais para afiar o objeto que carregava sempre na mão.
— O que foi? – Neteyam murmurou distraído enquanto ajeitava algumas coisas na tenda.
— Eu quero falar com a Tsireya. Quero saber o que ela tá sentindo.
— Pois é, mano. Quem diria que ficar a noite na floresta à deriva dos perigos ia deixar a gente de castigo, né? – o mais velho ironizou, rindo ao ver a expressão do irmão.
— Como eu ia saber que os filhos da l
puta estavam lá? – revirou os olhos.— Qualquer um sabe que ir pra floresta naquela hora não é uma boa ideia, Lo'ak. – Neteyam sentou ao lado da janela.
— Ah, cala a boca, Neteyam! – jogou um objeto no irmão, espiando pela janela.
Estavam no quarto dia do castigo. Lo'ak estava inquieto e estressado, enquanto Neteyam apenas esperava. Trocaram poucas palavras com as meninas desde então. Muitas vezes, nem conseguiam conversar por sinais, Jake estava sempre de olho. Tentaram fugir da tenda, escapar um pouco para apenas dar um oi, mas era impossível. Tuk também estava ajudando a vigiar os meninos, então fica ainda mais difícil.
Neteyam andou até a janela e olhou para onde estavam os ilus, sorrindo ao ver Kiyeri lá. Estava com os cabelos molhados e um sorriso no rosto. Não soube exatamente quando começou a ter sentimentos a mais por ela, mas definitivamente não era coisa da sua cabeça. Ficava nervoso perto dela. As mãos suavam, as palavras fugiam e o coração acelerava. Estava difícil lidar com todos esses pensamentos que se misturavam em sua cabeça como um enigma que precisava ser resolvido.
— Boo! – Aonung apareceu na janela, rindo da cara assustada de Neteyam – O que estão fazendo aí? Vamos nadar!
— Sai fora, Aonung. – Lo'ak andou até a janela também.
— Por que estão aqui? – Neteyam perguntou, observando Aonung lhe dar uma pequena flor.
— Minha irmã pediu pra te dar isso. Ela disse que lembrou de você.– Kiyeri havia lhe dado uma flor roxa – Não queria vir, mas fui obrigado. Não vão me dizer que estão de namorico? – ele riu.
— Não estamos. – O mais velho murmurou com um semblante sério.
— E se tivesse? Qual o problema? – Lo'ak tomou a frente dessa vez.
— O problema é que o nosso povo nunca aceitaria um namoro com vocês. Seria como enfiar a faca no próprio pé. – Aonung e os amigos riram, indo embora.
O que também tinha ido embora naquele momento foi o sorriso de Neteyam que cessou completamente quando ouviu aquilo. Como assim? Era proibido?
— Mano, não liga pra isso. Ele tá só implicando. – Lo'ak murmurou para o irmão.
— Ele tá certo, Lo'ak. – Neteyam o encarou – O povo nunca aceitaria. Imagina se fosse nós, nosso povo não aceitaria também.
— Você não tem como saber. – o menor revirou os olhos outra vez.
— Você não lembra quando o pai votou como foi rejeitado no começo? Não lembra que ele disse que teve que provar que era digno?
— E por que eles têm que se meter nisso? A opinião alheia não deveria importar. – virou de costas, sentindo a mão do mais velho em seu ombro.
— Porque somos os filhos de Toruk Makto. – Neteyam riu, logo voltando a expressão séria. Apesar dos sentimentos que nutria por Yeri, sabia que não aceitariam. Provavelmente sua mãe não o apoiaria também, já que ela sempre preza pelo lado certo. Não gostava dessa sensação.
— Tô pouco me fodendo pra eles. – Lo'ak resmungou, indo até a porta da tenda. Avistou Tsireya no mar e olhou para o irmão, correndo até as meninas. Neteyam praguejou baixo e correu atrás do irmão novamente.
— Lo'ak! Volta aqui, seu... Argh!
Correram para onde as meninas estavam, percebendo um grande sorriso aparecendo no rosto das duas assim que estavam cara a cara. Lo'ak abraçou Tsireya enquanto Neteyam encarou Yeri com um sorriso sincero, qual foi retribuído.
— O que estão fazendo aqui? · Reya perguntou, segurando a mão de Lo'ak.
— Vendo como vocês estão. – o mais novo sorriu, cumprimentando Kiyeri.
— Se os nossos pais verem a gente aqui...Vão nos matar. – Yeri disse enquanto ria, olhando para Neteyam – Como você está? Como foram os dias?
— Chatos. – respondeu – Gostaria de passar mais tempo com você. – a menina não conseguiu evitar o sorriso largo que insista em tomar conta dos seus lábios. Sentia o estômago revirando apenas por ouvir aquilo – E você? Como vai? Aliás, a flor é muito bonita.
— Você disse que gostava de flores. Consegui essa enquanto andava ontem. – sorriu para ele – Pra falar a verdade, eu... Senti sua falta. – Neteyam pareceu surpreso naquele momento – Digo, falta de treinar com você. É, pescar. Caçar, essas coisas.
— Eu também senti a sua falta. – murmurou, pegando a mão da menina, a acariciando levemente com um dos dedos, a puxando um pouco mais perto do seu corpo.
— O que está fazendo? – perguntou envergonhada,
— Eu quero sair com você. – murmurou para Yeri, observando cada detalhe do seu rosto.
— Eu...
Kiyeri não teve tempo de responder quando viu seu pai se aproximando aos poucos da areia. Arregalou os olhos e empurrou Neteyam, pegando a mão de Tsireya e correndo para sua tenda, deixando os meninos confusos para trás.
— Eu disse algo errado? – Neteyam olhou para o irmão.
— Vai ver você assustou ela com esse cabeção. – Lo'ak riu, levando um tapa do irmão.
— Se liga.
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𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐘𝐎𝐔 𝐋𝐈𝐊𝐄 𝐂𝐑𝐀𝐙𝐘 « neteyam + reader »
Teen FictionOnde Neteyam luta para se adaptar aos costumes de uma nova tribo após se mudarem para o recife. Ou Onde Kiyeri ainda tenta se aceitar por ser diferente de todos que conhecia. Por que só ela era diferente?