Neteyam estava com Tuk nos braços observando Loak reclamar de Aonung. Achava engraçado como os dois viviam brigando, mas não se desgrudavam um segundo sequer. Se gostavam, lá no fundo, mas Loak nunca admitiria isso.
— O que você tava fazendo mais cedo, Neteyam? – Loak perguntou, ajeitando os cabelos.
— Como assim?
_ Você tava parado no Ilu, olhando pra um ponto específico.
— Não tava não. – Neteyam respondeu de uma forma brincalhona, rindo e fazendo cócegas em Tuk.
— Vai desencalhar finalmente? – Loak riu, se protegendo de levar um peteleco do irmão.
— O que é isso? – Tuk perguntou, brincando com as tranças de Neteyam.
— Quando você crescer mais um pouco, você vai saber, Tuk. – Loak agora se levantou, guardando sua faca – Vamos sair, todos nós. Você vem?
— Não, eu quero descansar. Podem ir. – murmurou, fazendo sinal para que fossem.
Quando Loak e Tuk saíram da tenda, Neteyam suspirou. Olhou para os lados e percebeu que já estava anoitecendo, não havia notado o tempo passar naquele dia. Os dias estavam passando rápido, rápido demais até para ele. Estava começando a acostumar com a água, com os animais, até com Aonung que implicava consigo toda vez que se viam. Mas sentia algo a mais. Não sabia o que era, mas sentia.
Andou para perto da porta da tenda e observou a praia. Não haviam muitas pessoas perambulando por ali, o que era bom. Não gostava de muita movimentação. Lá longe viu seus amigos indo caçar, mas Kiyeri não estava junto. Talvez apenas não tivesse visto, mas queria checar. Saiu dali e andou até onde ela estava, chamando seu nome quando parou em frente.
— Yeri? – chamou pela menina, tentando espiar se estava ali ou não – Está aí?
Segurou a lança que havia trago consigo de forma firme, sorrindo de lado ao ver que ela estava ali.— O que está fazendo aqui? Não ia caçar com seu irmão? – Yeri saiu da tenda, ficando em minha frente.
— Eu não.
— Por que não?
— Porque eu quero ir com você. – respondeu de forma simples, vendo que a menina ficou um pouco surpresa.
— Eu... Não sei se vou. – murmurou, dando espaço para que entrasse ali também.
— Você tá bem? – Neteyam perguntou a encarando.
— Só estou cansada. – Yeri andou até a pequena janela que tinha ali, olhando para o mar.
— A gente pode dar uma volta se você quiser. Você... Pode me mostrar mais coisas daqui. - tentou arranjar desculpas para que fosse com ele, fazendo-a rir.
— Está tentando passar mais tempo comigo? Ou é impressão minha? – brincou, se virando para olhar no rosto do menino, o vendo sorrir sem graça.
— Você vem? – desviou de assunto, fazendo Kiyeri suspirar em derrota. Pegou sua lança e assentiu, seguindo para fora dali juntamente do menino.
Começaram a andar em direção ao mar, chamando seus ilus. Antes de montarem nos animais, Kiyeri segurou o braço de Neteyam, fazendo com que ele a encarasse.
— Tá tudo bem? Mudou de ideia? – murmurou.
— Tá tudo bem, eu só não quero caçar. A gente pode só... Dar uma volta?
— Claro que sim, Yeri. – sorriu aliviado, montando em seu animal.
Assim que a menina montou, seguiram para o passeio. Já está a escuro agora, não tinham mais pessoas circulando por ali, estavam sozinhos em mar aberto. Kiyeri fechou os olhos e sorriu, amava a sensação do vento gelado batendo em seu rosto. Neteyam parou ao seu lado e sorriu, olhando para o céu.
— Será que nossos irmãos vão se conectar? – ela perguntou baixinho, acariciando a cabeça de seu ilu.
— A pergunta é, eles já não fizeram isso? — Neteyam riu, olhando para Yeri que também ria.
— A Reya está muito feliz. O seu irmão é muito bom pra ela.
— Ele é inconsequente muitas vezes, mas não é ruim. Lo'ak tem um coração enorme. — riram novamente e agora se entre olharam.
— Você também se sente deslocado as vezes, Neteyam? – perguntou depois de alguns segundos em silêncio.
— Eu? Nunca reparei nisso. – murmurou, tentando lembrar de alguma situação, mas nada veio a sua cabeça – Mas eu acho que sempre me senti confortável com todos à minha volta. Por que? Você se sente assim?
— Bem... Eu me sinto assim às vezes. Sinto como se meu lugar não fosse aqui. – murmurou um tanto tristonha, desviando o olhar.
— Quer conversar sobre isso?
— É só que... Sei lá, parece que ninguém gosta de mim. Me chamam de aberração, de estranha. Falam que eu não pertenço a essa lugar e às vezes eu acredito nisso.
— Te chamam de aberração? Por que?
Neteyam nunca havia reparado nas mãos de Kiyeri. Isso deixou a menina um pouco surpresa, ele não saber do fato de suas mãos terem cinco dedos. Ergueu as mãos e sorriu de lado, fazendo Neteyam ficar um tanto surpreso. Realmente não tinha reparado nas mãos de Kiyeri.
Se aproximou mais da menina e pegou suas mãos, as levando até sua boca, deixando um beijo demorado ali. Kiyeri sentiu seu coração acelerar, pensou que fosse saltar do seu peito direto para sua boca. Por impulso, puxou as mãos em um ato repentino, fazendo o menino rir sem graça.
— Você não é uma aberração, Kiyeri. Você é muito especial. – apontou para suas mãos – O fato de vocês terem cinco dedos, significa esperança. Esperança de trégua, esperança para dias melhores. – murmurou com um sorriso sincero.
— Vamos voltar, já está ficando tarde. – Yeri mudou de assunto, dando a volta com seu Ilu, porém Neteyam segurou uma de suas mãos, fazendo com que ela o encarasse.
— Eu vejo você, Kiyeri. – Neteyam proferiu e o coração de Kiyeri acelerou mais do que já estava. Não sabia o que aconteceu naquele momento, mas sentia que seu peito iria explodir. Não esboçou nenhuma reação sem ser de surpresa – Não se sinta dessa forma.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, logo quebrando o contato visual quando Kiyeri soltou sua mão e começou a nadar novamente.
— Vamos logo.
A menina murmurou e Neteyam apenas assentiu, rindo baixo, a seguindo para a areia novamente. Sentia que estava quebrando a parede que Kiyeri construiu para se proteger e estava gostando disso. Queria conhecer mais dela, queria ver mais de si. Tinha a certeza que Yeri era mais doce do que aparentava ser e conseguiria ver esse lado dela.
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𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐘𝐎𝐔 𝐋𝐈𝐊𝐄 𝐂𝐑𝐀𝐙𝐘 « neteyam + reader »
Teen FictionOnde Neteyam luta para se adaptar aos costumes de uma nova tribo após se mudarem para o recife. Ou Onde Kiyeri ainda tenta se aceitar por ser diferente de todos que conhecia. Por que só ela era diferente?