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"A Praia" é o que chamam ao hotel que antes me pertencia. Inúmeras pessoas fazem agora parte desta comunidade da qual é impossível sair. Se planeares, tentares ou apenas falares sobre como fugir deste lugar matam-te.

O objetivo da Praia era criar um mundo perfeito onde pudesses fazer o que te dá na cabeça sem teres consequências, basicamente uma utopia. Mas a Praia tornou-se numa prisão da qual não há escapatória possível.

O que mais admirava neste hotel era o ambiente sereno que nele existia, o tempo que era possível dedicar aos teus próprios pensamentos, e passar os meus dias na praia sem ser incomodada ou impedida.

O hotel tornou-se o contrário daquilo que idealizava. Há festas em todas as divisões, as pessoas vivem sob o efeito de álcool ou drogas e, na minha opinião o pior, a praia foi substituída por uma piscina.

Não é permitido pisar fora do recinto do hotel a não ser nas noites de jogo, o que me passou a impedir de ir à praia. Apenas se pode sair do recinto do hotel se se fizer parte do grupo denominado "militares" que são pessoas altamente armadas e que te dão um tiro se tu as contrariares.

O Hatter poderia fazer alguma coisa, sem dúvida, mas ele preocupa-se mais em satisfazer-se com as mulheres que não o largam do que em propriamente reger este lugar. Muitas vezes até penso que ele não se apercebe no que este lugar se está a tornar.

Tenho a minha cabeça deitada no colo de Kuina, uma rapariga que se juntou à Praia pouco depois desta comunidade ter começado. Ela relembra-me a minha irmã que tentava sempre parecer mais forte do que era, apesar da sua tenra idade.

Lembro-me de quando me tive de despedir dela para partir para a faculdade. Ela ficou despedaçada, tenho quase toda a certeza que foi a única vez que a vi chorar tanto.

Sempre senti o dever de a proteger já que os nossos pais estão sempre a viajar devido aos seus trabalhos, talvez tenha sido por isso que temos uma relação tão profunda.

A imagem da última vez que a vi não me sai da cabeça. Os nossos pais fizeram-lhe uma surpresa: levaram-na a Tóquio, o sítio onde estava a estudar, e deixaram-na passar o dia comigo. Fizemos todas a maluquices que nos vinham à cabeça, ela andou o dia todo com um sorriso de orelha a orelha.

A única razão pela qual continuo aqui na Praia a tentar sobreviver, seguindo regras com as quais não concordo, é ela. Só quero voltar a abraçá-la.

- S/nnnnn - Kuina prolonga o meu nome. - Estás dormir com os olhos abertos?

- Estava até interromperes o meu sono de beleza. - Ela solta uma risada que faz com que um sorriso surja nos meus lábios.

- Está na hora dos jogos. As pessoas já se estão a começar a reunir.

- Então é melhor despacharmo-nos se não queremos que nos deixem para trás.

Dirigimo-nos até à entrada do hotel onde já está toda a gente reunida à espera para saber a que grupo pertencem. Kuina e eu cortamos caminho, empurrando muitas pessoas, até chegarmos a Chishiya que é inconfundível no meio da multidão. O seu cabelo esbranquiçado dá sempre nas vistas.

- Já se sabe os grupos? - Kuina pergunta a Chishiya.

- Sim, acabaram de os anunciar.

- E em que grupo estamos? - Kuina começa a agir impacientemente com as curtas respostas de Chishiya. Algo com me entretenho muito é a relação deles.

- Tu estás no grupo 7 e a S/n no grupo 4.

- Boa estou num grupo de paus! - Kuina exclama entusiasmada.

- Oh não, estou na merda de um grupo de espadas. - Reclamo chateada. A última coisa que queria neste momento era um jogo de espadas.

Kuina ri-se da minha cara e Chishiya apenas encolhe os ombros.

The deal  - Niragi [Sem continuação]Onde histórias criam vida. Descubra agora