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Pego num tabuleiro e sirvo-me de um pouco da ementa de hoje: ramen. Encho o meu copo com água e pego numa peça de fruta.

Procuro por alguém conhecido e vejo uns cabelos brancos que se destacam de imediato no meio das inúmeras cabeças que ocupam esta sala. Aceno para Chishiya, esquecendo-me que tenho o tabuleiro nas mãos e quase que o deixo cair. Um pequeno sorriso aparece nos seus lábios com o meu desajeito.

Sento-me à sua frente e sorrio.

- Só espero que a comida esteja boa, estou esfomeada! - Começo por fazer conversa. Chishiya não é muito conversativo mas é um bom ouvinte e dá ótimos conselhos. - Ontem, os ovos estavam horríveis, parecia que tinham acabado de sair do rabo da galinha.

Chishiya observa-me com um sorriso brincalhão nos seus lábios.

- Diz lá no quê que estás a pensar. - Reviro os olhos tentando fingir-me chateada. Levo um pouco de massa à boca e espero que ele fale.

- Se pensares bem, se os ovos tivessem acabado de sair da galinha estariam bons. - Ele faz uma pausa dramática. - Tu provavelmente comeste um pintainho que estava a crescer dentro do ovo.

Arregalo os meus olhos espantada com o que ele me disse. Sempre pensei que não era possível venderem ovos com pintainhos lá dentro.

- Isso é possível? - Pergunto preocupado, posso ter comido um bebé!

Chishiya limita-se a cruzar os braços e a acenar com a cabeça. As suas expressões demonstram pena o que me leva a acreditar que eu realmente comi um pintainho.

- Não posso! - Começo a levantar-me da mesa.

- Onde é que vais? - Chishiya começa a levantar-se também.

- Vou vomitar. - Corro o mais rápido que consigo para a casa de banho mais próxima. Ouço alguém a chamar-me e a correr atrás de mim mas não paro de correr pois sei que se parar vomito no meio do hotel, à frente de toda a gente.

Entro na casa de banho e choco contra alguém. Não me preocupo em ver quem é, neste momento a minha única preocupação é chegar à sanita. Ponho-me de joelhos à frente da sanita e vomito tudo o que tenho no estômago. Alguém me segura no cabelo, impedindo que este fique coberto de vómito.

- O quê que se passa aqui? - Uma voz feminina familiar pergunta.

Nem eu nem a pessoa que me está a segurar no cabelo nos preocupamos em responder. Descarrego o autoclismo e levanto-me.

Vejo um preocupado Chishiya a olhar-me e uma chateada Kuina a encarar Chishiya.

Sem dizer nada, vou até uma pia e lavo a minha boca e cara.

- O quê que fizeste Chishiya? - Kuina cruza os braços e espera pela resposta de Chishiya.

Ele esfrega a sua cabeça sendo possível ver um pouco vergonha na sua cara, algo que não é nada típico do Chishiya. A sua postura demonstra sempre muita segurança em si mesmo.

Olho para ele esperando que ele explique a Kuina o quê se passa mas as palavras que saem da sua boca espantam-me.

- Não é possível comeres um pintainho. - Ele olha para mim à espera da minha reação.

- De quê que estão a falar?

- O quê? - Kuina e eu dizemos ao mesmo tempo.

- As galinhas que fazem os ovos que comemos não podem ter pintainhos porque não há machos no galinheiro. O teu ovo provavelmente só estava estragado. - Chishiya explica como se aquilo fosse a coisa mais óbvia, talvez seja mas nunca tive muito jeito para coisas relacionadas com ciências.

- Mas que caralho! Acabei de vomitar por causa de uma mentira? - Exclamo chateada.

O ar de arrependido de Chishiya já desapareceu da sua cara e foi substituído por um ar de brincadeira. Ele parece demasiado satisfeito com a sua partida.

Saio da casa de banho. Ouço Kuina refilar com Chishiya mas não me preocupo em ouvir o resto da discussão. Uma coisa eu sei vou-me vingar dele e ele vai sem dúvida arrepender-se do que me fez.

Dirijo-me para a zona da piscina ponderando dar um mergulho para aliviar os nervos mas a minha atenção é captada por outro acontecimento.

Uma multidão de gente está reunida à volta de algo. Todos estão em silêncio prestando atenção ao que se está a passar.

Não conseguindo esconder a minha curiosidade tento furar pelo meio das pessoas. Empurro as pessoas à minha volta, tentando passar-lhes à frente, sou acertada por muitos cotovelos e ouço muitas deles reclamar comigo mas acabo por conseguir chegar à frente.

Um homem está deitado no chão coberto de sangue. Em cima dele está Niragi que o esmurra cada vez mais. Os seus punhos acertam no homem que se tenta defender pondo as mãos à frente da cara mas pouco lhe serve como proteção.

Sou emersa por culpa, este homem inocente está a servir de saco de pancada e ninguém faz nada quanto a isso. Todos se limitam a observar e a esperar que o homem consiga sobreviver ao ataque de raiva que Niragi teve.

Adrenalina surge no meu corpo e entro para o centro do círculo. Sem pensar bem no que estou a fazer dou um pontapé na cara de Niragi. A multidão pasmada começa a sussurrar esperando pela reação de Niragi.

Com o impacto, Niragi sai de cima do homem dando-me a perfeita oportunidade para ajudar o homem deitado no chão. Pego na sua mão e ajudo-o a levantar.

- Atrás de ti. - O homem, já fraco, sussurra enquanto arregala os olhos.

Conforme olho para trás a mão de Niragi entra em contacto com a minha cara. Viro a cara por causa da força com que ele me acertou.

Não vacilo e volto a encará-lo. Percebo que lhe acertei bem quando vejo que o seu nariz está a sangrar, tento esconder um sorriso que quer surgir na minha cara, bem feita filho da puta.

- Vais precisar de mais força para me fazer sair daqui. - Digo sem desviar o meu olhar do dele.

Niragi solta uma gargalhada e inclina a sua cabeça para trás. Ninguém se ri, a tensão paira no ar. Ninguém se intromete nos assuntos dos militantes, especialmente nos do Niragi.

Todos temem pela minha vida mas eu não, ele não me pode matar, pelo menos em frente desta gente toda, porque sou um dos membros do conselho executivo.

Protejo o homem coberto de sangue com o meu corpo, pondo-me à sua frente.

- Tens três segundos para sair da minha frente. - Niragi ameaça tentando que eu me retraia mas já estou farta de ver pessoas inocentes sofrerem às suas mãos.

- Um. - Ele sussurra perigosamente baixo enquanto caminha na minha direção.

- Dois.

- O quê que se está a passar? - Hatter aparece do meio da multidão, interrompendo a contagem de Niragi.

Nunca estive tão agradecida por ver a sua cara. Niragi não me pode matar aqui mas pode muito bem bater-me até eu perder os sentidos.

- Vão às vossas vidas. - Hatter faz um gesto com as mãos e as pessoas começam a dispersar-se. Ele mostra-se pouco preocupado com a situação mas os seus olhos estão fixados no homem coberto de sangue. - Levem este senhor à enfermaria.

O homem sangrento é lavado para dentro do hotel.

Começo a ir-me embora quando alguém me agarra com brutidão a parte de trás do pescoço. Niragi aproxima-se de mim e as suas palavras causam-me arrepios.

- Vais arrepender-te.

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Pela primeira vez a minha história foi adicionada a uma lista de leituras, muito obrigada 😚

No próximo capítulo vai sem dúvida haver mais interação com o Niragi

The deal  - Niragi [Sem continuação]Onde histórias criam vida. Descubra agora