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Abro os meus olhos preguiçosamente e espreguiço-me. Levanto um pouco a cabeça e encaro a minha perna à espera de ver melhorias mas não vejo o estado da mesma pois esta está enfaixada.

Apoiando-me na mesa de cabeceira, posta mesmo ao lado da cama onde estava deitada, levanto-me.

Quando pouso a perna ferida no chão encolho-a de imediato, a dor parece estar a desaparecer mas ainda não está fraca o suficiente para a ignorar por completo.

Solto um suspiro e ganho coragem para conseguir enfrentar este desconforto. Ponho a perna no chão e começo a cantarolar uma das minhas músicas favoritas, para tentar focar a minha mente noutra coisa.

Esta música traz-me boas memórias. Lembro-me de há uns anos atrás a cantar para a minha irmã.

A meio da noite ela vinha até ao meu quarto e abanava-me até eu acordar, subia para a minha cama e enroscava-se a mim, ela contava-me o pesadelo que assombrou os seus sonhos e depois pedia para dormir comigo.

Para a acalmar, acariciava os seus cabelos lisos e cantava-lhe esta canção até começar a ouvir as suas respirações ficarem mais pesadas, percebendo que ela adormecera.

Um sorriso aparece na minha cara ao relembrar uma das memórias passadas com a minha irmã, Emiko.

Dou por mim a descer as escadas da casa onde estou em busca de um local onde haja comida, estou esfomeada.

Pergunto-me se Niragi não me deixou sozinha nesta casa após me ter feito o curativo, limpou a sua consciência e foi-se embora. Talvez ele esteja apenas noutro quarto a dormir mas se há coisa que tenho quase a certeza é que ele não deve acordar bem humorado por isso não arrisco chamar por ele.

Chego a uma pequena cozinha, muito bem decorada, os tons dos azulejos que a enfeitam são verdes claros e brancos umas cores pouco usuais mas que surpreendentemente combinam.

Usando as paredes e os móveis à minha volta para me mover, abro um armário em busca de comida. Arregalo os olhos quando me deparo com pacotes de bolachas e comida enlatada dentro do mesmo.

Isto faz-me suspeitar que se calhar alguém vive aqui e nós invadimos a sua casa. Tudo está perfeitamente alinhado e, pensando bem, não me lembro de ter visto vestígios de pó ou sujidade espalhados pelas salas.

Encolho os ombros não me importando com a possibilidade de alguém viver cá, se alguém se estivesse a abrigar aqui já teria aparecido, não?

Vasculho pelas inúmeras escolhas de comida à minha frente e solto uma risada quando vejo um pequeno pacote roxo. Estas são, sem dúvida, as minhas bolachas de eleição, pequenos pedaços de bolacha crocante envoltos por uma camada de chocolate de leite.

Não me lembro da última vez que as comi, desde que vim para Borderland que não vi mais nenhuma destas, o que faz com que esta seja uma oportunidade que não posso perder.

Sem hesitar, pego nas bolachas e vou até à sala de estar para me poder sentar confortavelmente. Sento-me no sofá disposto no meio da sala e estendo a minha perna dorida. Ataco as bolachas saboreando cada dentada.

De repente, a porta da entrada abre-se o que faz com que salte de susto. Pego num pequeno candeeiro, posto em cima de uma mesa decorativa, para me defender da pessoa que acabou de invadir o sítio onde estou.

Um suspiro sai dos meus lábios quando os meus olhos se cruzam com os de Niragi e não com os de um estranho qualquer.

-Ainda bem que és tu. - Digo voltando a acomodar-me no sofá.

- Oww - Um sorriso malandro surge nos seus lábios. - Estás feliz por me ver? - Niragi começa a caminhar na minha direção.

Ignoro a sua pergunta quando reparo no seu estado. A sua camisa está coberta de sangue, um dos seus lábios rebentados e os seus punhos cobertos de sangue.

The deal  - Niragi [Sem continuação]Onde histórias criam vida. Descubra agora