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Saio do meu quarto e sinto de imediato alguns olhos serem direcionados a mim. Ergo a minha cabeça, mostrando-me confiante.

Quase que tenho a certeza que muitas destas pessoas nunca repararam em mim. Dantes pouco dava nas vistas e também não queria que a atenção fosse dirigida a mim. Agora, simplesmente, não quero saber, ou pelo menos tento aparentar não me importar.

Entro no bar onde pessoas dançam como se não houvesse amanhã, a sala está apinhada de gente. Passo por entre os corpos suados empurrando alguns para conseguir passar.

Sento-me num dos bancos livres no bar e espero que o bartender me venha atender.

Observo a multidão que vive a vida como se fosse perfeita, como se muitos deles não fossem morrer daqui a uns dias. Este sítio está mesmo a tornar-se numa utopia para algumas das pessoas. Mas apesar disso ainda há pessoas que não estão contentes por aqui estar, não as culpo por vezes sinto exatamente o mesmo.

- O quê que gostaria de beber? - O bartender interrompe os meus pensamentos.

- Surpreenda-me. - Digo com um sorriso na cara. O homem concorda com a cabeça e começa a preparar a bebida à minha frente.

Vejo as suas mãos mexerem rapidamente, juntando os ingredientes sem ter que pensar, como se fosse algo que já estivesse programado no seu cérebro.

- Antes disto, você já trabalhava num bar? - Pergunto curiosa por saber se as minhas suspeitas estão certas.

- Fiz isto a minha vida toda, o meu pai tinha um pequeno bar e eu segui os seus passos. - Um sorriso triste começa a surgir nos seus lábios. Posso ver que ele tem saudades da sua vida no mundo real.

- Então espero que essa bebida seja uma das melhores que já bebi. - Digo tentando aliviar o ambiente.

- De certeza que vai ser. - Ele solta um pequeno riso e pousa a bebida à minha frente. Esta tem um aspeto apetitoso, o líquido lá dentro é vermelho, uma cor ousada na minha opinião.

- Por quê o vermelho? - Encaro-o com uma sobrancelha arqueada.

- É uma cor que combina consigo. - Bebo um pouco da bebida e fecho os olhos saboreando o ótimo sabor que se espalha pela minha boca.

- É sem dúvida uma bebida inesquecível. - Um grande sorriso esboça-se na cara do homem. - S/n. - Apresento-me enquanto lhe estendo a minha mão.

- É um prazer conhecê-la. - Ele aperta a minha mão. - Sou o Gohan.

Sinto alguém tocar-me no ombro. Olho para trás e vejo Kuina que tem os braços cruzados mostrando-se um pouco chateada.

- Não devias ter saído sem mim! - A sua voz quase não se ouve com a música alta.

- Também te amo. - Abraço-a impedindo-a de continuar a refilar comigo.

Aceno para o bartender e puxo Kuina para fora do bar. Quando finalmente estamos longe dos corpos suados, paro de andar. Olho em volta verificando se o meu alvo não está aqui e quando tenho a certeza que o rapaz de cabelo branco não está perto, começo a falar.

- Lembras-te de quando o Chishiya me pregou aquela partida? - Kuina concorda com a cabeça e espera que eu continue a falar. - Tenho o plano perfeito para me vingar dele. Mas para isso preciso da tua ajuda.

- Sou toda ouvidos. - Um sorriso brincalhão surge na sua cara.

Explico-lhe detalhadamente o que planeio fazer. O que vai acontecer, como vai acontecer e o que vai ser preciso. Não consigo parar de imaginar a cara de Chishiya quando vir o que lhe vamos fazer.

- Mas para isso temos que lhe arranjar outro casaco. - Kuina diz após eu lhe contar tudo. - Ele tem uma ligação emocional qualquer com aquele casaco, nunca o larga.

- Tens razão... - Paro de falar durante algum tempo tentando pensar numa solução. - Ah já sei! Posso juntar-me a uma das equipas que vai buscar suprimentos e aproveito e procuro por um casaco igual ao dele.

- Isso é uma ideia brilhante!

- Anda vamos falar com o Aguni. - Pego na mão de Kuina e guio-a uma vez mais.

Eu sei que ela não gosta dele, eu também não deveria simpatizar com ele mas não consigo evitar, por vezes ele faz-me lembrar o meu pai. Imagino muitas vezes como é que os meus pais se adaptariam a este mundo tão cruel e vejo no Aguni uma imagem do meu pai se aqui estivesse.

Paramos à frente da sala de reuniões do Aguni e encaramos os dois guardas que nos impedem de entrar.

- Queremos falar com o Aguni. - Kuina diz enquanto cruza o braços.

- Ele está numa reunião, têm que esperar. - Um dos guardas, que tem uma metralhadora nas suas mãos, diz.

Kuina puxa-me para um canto.

- Talvez isto seja um sinal para não irmos. - Reviro os olhos com a teorias da conspiração de Kuina.

- Acho que devíamo- Vejo Kuina pôr-se numa posição de ataque, o que faz com que pare de falar.

Viro-me para trás e vejo a pessoa que menos desejo ver, Niragi. Como sempre, ele tem uma rifle apoiada no seu ombro e um sorriso provocador brinca nos seus lábios.

- Esse espetáculo todo é para quem? - Ele aponta para o meu corpo.

Niragi dá uma passo na minha direção e eu dou um passo para trás, para me afastar dele.

- Deixa-a em paz. - Kuina diz com uma voz ameaçadora, tentando proteger-me.

Niragi solta uma risada que ecoa pelo corredor, ele inclina a cabeça para trás, rindo-se de uma forma seca.

- Perdeste a língua, linda? - Ele aproxima a sua cara da minha e deita a sua língua de fora. - Precisas que falem por ti?

- Niragi. - Uma voz grossa chama.

Olho para trás de Niragi e vejo Aguni. Niragi olha para a pessoa que o interrompeu e apenas pelo olhar de Aguni percebe o que tem de fazer. Niragi aproxima a sua cara do meu pescoço e toca nele com o seu nariz. Sinto-o inspirar o meu cheiro, o que causa um pequeno arrepio nas minhas costas.

Ele dá uns passos para trás sem tirar os seus olhos de mim e depois vira costas, desaparecendo.

Não consigo evitar sentir-me inútil. Não consigo resistir-lhe ou mostrar-me confiante à sua frente. Quando os seus olhos me observam sinto-me despida, como se estivesse a ser comida viva.

- Entrem. - Aguni diz enquanto entra na sala. Kuina e eu seguimo-lo. Sentamo-nos numa das cadeiras dispostas na sala.

- Queremos experimentar ajudar a recolher suprimentos. - Digo e olho nos olhos de Aguni esperado pela sua resposta.

Ele demora algum tempo a responder, é possível ver a indecisão na sua cara. Olho para Kuina e esboço um sorriso tentando assegurá-la de que tudo está bem. Consigo perceber que ela está a ferver com o que acabou de passar.

- Só tu podes ir, S/n. - Ele encara-nos com seriedade.

- O quê! Porquê? - Kuina diz chateada com as palavras de Aguni.

- Ela é um membro do conselho executivo, o que a torna mais confiável do que o resto das pessoas. - Aguni explica calmamente. Kuina dá um grande suspiro mostrando a sua revolta.

Olhamos uma para a outra e debatemos mentalmente esta possibilidade. Sei que ela neste momento está a pensar que pode ser perigoso mas é uma oportunidade que não podemos perder. O facto do Aguni confiar em mim, que não sou um membro dos militantes, é uma grande mais valia, que na minha opinião não podemos perder.

- Conte comigo. - Sinto Kuina ficar tensa ao meu lado mas evito olhar para ela.

- Hoje à tarde vai haver uma expedição. Vai ter ao parque de estacionamento do hotel às quatro de meia. - Aguni informa-me.

- Obrigada. - Faço uma pequena vénia e saímos da sala.

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Para o próximo capítulo vai haver mais interações com o Niragi 😌

The deal  - Niragi [Sem continuação]Onde histórias criam vida. Descubra agora