Duas almas

Capítulo 4

Domingo - 08:00am

Na manhã seguinte quando acordei, Anna já não estava mais na cama. Olhei para meu celular e o mesmo marcava exatas 8 horas da manhã. Me levantei meio sonolenta ainda e fui até a porta, e antes que colocasse minhas mãos na maçaneta, a porta se abriu.

- Já acordou, ia te chamar - Anna falou, entrando.

- Vou ao banheiro - falei bocejando e esfregando os olhos. Anna assentiu e sentou na cama, mexendo no celular.

Desta vez, antes de entrar no banheiro, eu bati na porta, sem resposta, eu abri a mesma. Me arrepiei toda lembrando de ontem, mas balancei a cabeça.

Se recomponha, SN - pensei. Molhei meu rosto.

Quando voltei ao quarto, Anna já havia descido. Só peguei meu celular e fui para cozinha.

Todos já estavam na mesa, menos Youdam, mas tentei ignorar isso. Eles me cumprimentaram com um bom dia e eu retribui sorrindo. Me sentei a mesa e começamos a tomar o café. Um tempinho depois, Youdam entrou na cozinha, ele estava sem camisa e logo foi repreendido por sua mãe.

- Youdam, não fique andando sem camisa pela casa, temos visita. - falou se referindo a mim.

Ele apenas concordou com a cabeça e se sentou ao meu lado, me senti meio desconfortável devido a serie de acontecimentos da noite anterior, mas tentei manter postura.

Os mais velhos logo terminaram e precisaram sair para trabalhar, ficando apenas nós três. O cômodo ficou um completo silêncio por alguns instantes, até ser quebrado por Anna.

- O trabalho foi finalizado, né? Vamos sair hoje à noite? Vai ter festa, Mike e Jack vão e chamou a gente.

- Vai ser na casa de alguém?

- Não, vai ser num lugar ai... - ela sorriu e eu conheci de cara aquele sorriso, não era a primeira vez que a gente saia pra um lugar como esse, pra maiores.

- E a gente vai dormir a onde? - perguntei.

- Na casa de alguém - respondeu - Quer ir também, Youdam? Vai ser bom pra fazer amigos - olhamos para ele que hesitou um pouco, mas balançou a cabeça positivamente depois - Então, tá. Vou falar pro meu pai que vamos dormir na sua casa. Ah! E pergunta a seu irmão se ele não quer ir também. - falou sapeca e eu concordei rindo.

Depois do café da manhã, eu ajudei a Anna a lavar os pratos sujos e então caminhei para casa.

Já chegando, notei que a garagem estava entre aberta, me aproximei e olhei por baixo, o carro dos meus pais estava lá. Quando vi, tomei um susto. Meu coração acelerou e vagarosamente fui até a porta principal, ao abrir a mesma, vi meus pais e meu irmão sentados no sofá, Wil sorria de ponta à outra enquanto conversava com eles.

Demoraram um pouco até notarem minha presença, Wil viu primeiro, o que chamou a atenção dos meus pais que se levantaram assim que me viram.

- Filha... - minha mãe correu até a mim.

Eu estava em choque pra ser sincera, fazia um bom tempo desde que tinha visto eles. Ela me abraçou, e então vi meu pai se aproximar sorrindo sem mostrar os dentes, eu apenas permaneci parada, não retribui. Rick me olhava como se pedisse que eu fizesse o mesmo, mas antes que eu pudesse, ela se afasta e segura minhas mãos.

- Eu estava com saudades, querida... Sinto muito... - a interrompi, terminando sua frase clássica.

- Por não aparecer? Tudo bem, já estou acostumada - disse seca e Rick chamou minha atenção.

- Filha, tenta entender... - meu pai tenta falar, mas eu não permito.

- Mas eu entendo. O trabalho é mais importante que seus filhos!

- SN! - Rick me repreendeu.

- SN nada! - soltei minhas mãos da dela - Vocês passam o ano inteiro mentindo, fazendo a gente de idiota e agora aparecem querendo bancar os bons? Faça mil favor! - Rick tentou falar, mas eu continuei - Sabe o quanto foi ruim pro Rick? Quantas vezes ele chorou? Ele fez tantas coisas esperando por vocês.

- Mas vai mudar, filha, nós vamos começar a vir com mais frequência... - ela disse.

- Sabe de uma coisa, mãe? Não faz diferença alguma a presença de vocês. Pra mim tanto faz estarem longe ou perto. Não muda absolutamente nada! - falei e olhos da mais velha arregalaram.

Não era como se aquilo fosse mentira, não mudava muita coisa, mas ainda assim doía.

Subi para meu quarto, deixando eles na sala. Tranquei a porta e me deitei na cama. Havia um nó preso na minha garganta, um sentimento estranho no qual eu não sabia distinguir se era tristeza, raiva, mágoa... Só... Era estranho e desconfortável.

Passei o resto do dia no quarto, nem para beber água eu saí. De vez em quando ia até a janela pra ver se o barulho do carro ela deles, mas não era. Rick não veio atrás de mim, mas me mandou mensagens de textos pedindo pra que eu fosse mais compreensiva.

Compreensiva? Mais do que já sou? - pensei e ri nasal.

06:00pm

As horas logo se passaram, mas ainda faltavam 3 horas para a festa. Pra ser sincera não estava no clima, mas antes sair do que continuar aqui - pensei.

Fui tomar um banho e lavar meus cabelos, foi um alívio aquela água gelada cair pelo meu corpo, era como se estivesse refrescando minha cabeça quente. O banho demorou uns 30 minutos e depois que terminei fui escolher uma roupa.

A última vez que saí com a Anna para o shopping, nós compramos algumas roupas, então eu tinha algumas opções. Optei por um calça, já que era de noite e provavelmente faria frio. A calça era preta e folgada, a blusa branca e meio curta. O tênis foi um branco que tinha comprado semana passada.

Meu cabelo estava molhado ainda, então sequei com o secador, depois o prendi e fui fazer minha maquiagem.  Depois de terminar, apenas coloquei alguns acessórios e pronto.

Já eram 8 da noite, eu ainda teria que ir para casa da Anna, então já fui pegando minha mochila e colocando minha roupa para ir ao colégio no dia seguinte, já que iria dormir fora.

Estava tudo pronto, quando bateram na porta do meu quarto. Ouvi Rick me chamar, fui até a mesma e a abri.

- Vai sair? - me olhou de cima a baixo.

- Sim, com meus amigos - respondi rápido.

- O pai e a mãe estão esperando por você pro jantar, SN... - ele disse meio cabisbaixo.

- Sério que você achou que teríamos um jantar feliz em família? - perguntei rindo irônica - Divirta-se com seus pais, eu vou me divertir, mas bem longe deles! - saí do quarto e me deparei com a mãe parada na escada, ela provavelmente tinha escutado.

- SN... - me olhou. Não deixei que ela continuasse, apenas segui descendo as escadas como se não tivesse a visto ali.

Saí de casa, batendo a porta.

Não ia deixar que isso estragasse minha noite.

Que se dane tudo e todos. Eu vou virar a noite! - pensei enquanto caminhava pra casa da Anna.