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PANDORA
Sou a única pessoa do meu prédio que ainda tem uma assinatura de jornal. O exemplar estava na minha porta esta manhã, e adoro o cheiro que ele deixa. Amo o barulho que faz quando me sento na cadeira da mesa de jantar e começo a folheá-lo. O som, o cheiro... tudo isso me faz lembrar as manhãs preguiçosas de sábado em que lia jornal com meu pai, com o cheiro de seu perfume me envolvendo.

Quando eu tinha 17 anos, ele se foi. E levou com ele as manhãs descabeladas e seu perfume... mas não o cheiro do jornal. Faz quase uma década, e ainda experimento uma alegria inigualável ao sentir o cheiro do jornal recentemente impresso. Até agora...

Agora... quando a matéria principal do caderno de entretenimento está lá, escancarada, zombando de mim.

"Mackenna Jones está de volta!", diz o título, e só de ler isso já fico com a sensação de ter levado um soco no estômago.

Fecho os olhos com força e então os abro, meu estômago se contorce incontrolavelmente.

"Mackenna Jones está de volta!"

Merda, realmente preciso parar de ler isso.

"Mackenna Jones está de volta!"

Deus. Ainda leio a mesma coisa.

Mackenna.

O nome percorre minhas entranhas como uma fumaça, e o frio na barriga que eu nem sabia que ainda poderia sentir congela meu estômago. Pensei que fosse impossível ainda sentir frio na barriga depois de tudo que passei por causa de Mackenna Jones.

Ele virá à cidade, Pandora. O que vai fazer em relação a isso?

Apenas o fato de pensar que ele estará no mesmo estado que eu me fez ficar com uma careta sombria.

- Sério mesmo, seu babaca? Você tinha que vir aqui?

Começo a ler o artigo sobre o Crack Bikini e como a banda havia revolucionado a música. Como até o Obama dissera abertamente que aquela banda fora a responsável por incentivar os jovens a ouvir a música dos mestres - Mozart, Beethoven. Mas não para por aí. A bajulação estava só começando. O jornalista continua falando sobre como sua turnê havia esgotado os ingressos no Madison Square Garden mais rápido do que o primeiro show de Justin Bieber e como aquele seria o show do ano, talvez até da década.
Rapidamente, a música de estreia da banda passa pela minha cabeça. Por um tempo, ela tocou em todas as estações de rádio do país, o que me fez abominar música com todas as forças - inferno, só de pensar nisso já sinto toda a raiva de novo.
Quando deixo o jornal na mesa, minhas mãos estão trêmulas. Dobro-o e tento mudar de caderno. Moro com minha mãe e minha prima e sempre apreciei meu tempo em silêncio aos sábados, quando Magnólia tem balé e minha mãe, muitos afazeres. Mas agora, meu precioso sábado, dia em que tenho o apartamento só para mim, foi oficialmente arruinado. Não apenas meu sábado, mas meu ano todo.
Mackenna. Em Seattle.
Minhas mãos tremem enquanto volto ao caderno de entretenimento e procuro, vagarosamente, o dia do show. E me vejo abrindo o navegador pelo celular e indo direto ao Ticketmaster, site de venda de ingressos on-line. Sim, o show já está com os ingressos esgotados. Então sigo para o eBay, onde descubro os preços abusivos pelos quais os melhores ingressos estão sendo vendidos.
Não sei por que, mas, por um instante, imagino-me em um daqueles assentos caros, xingando-o de o "maior babaca do mundo", de tão perto que ele conseguiria ouvir, mesmo com todo o barulho que ele e a banda estariam fazendo.
Não sei o que estou fazendo. Ou talvez saiba. Um arrepio frio percorre meu corpo. O show já está lotado. Os ingressos custam uma fortuna. Mas não. Não iria perder a oportunidade. Já faz quase seis anos desde a última vez que o vi. Quase seis anos sem ver aquela bunda perfeita, durinha, naqueles jeans.
Na primeira vez que transamos, minha virgindade foi arrebatada por aquele corpo. Ele disse que me amava e me pediu que dissesse que o amava. Ainda estava dentro de mim quando perguntou se eu queria que ele ficasse comigo. Ao invés de responder, eu chorei, porque tenho algum problema e não consegui. Não consegui responder. Mas agora sei que ele sabia.
Ele me beijou mais intensamente do que nunca quando comecei a chorar, e o nosso beijo teve o gosto das minhas lágrimas. Na época, achei o jeito que ele me beijou tão doloroso e bruto. Tão lindo. Eu tremia enquanto ele me segurava. Parecia que eu não conseguia me recompor depois de me desmanchar para ele do jeito que fiz durante os orgasmos. Podia ouvir sua respiração se misturar à minha conforme ele descia uma mão pelas minhas costas, repetindo que me amava.
E aquela não foi a única vez que transamos. Por dias, semanas e meses, fizemos amor ardente e fervorosamente. Eu tinha 17 anos, e ele era tudo para mim. Quando transou comigo, pensei que ele quisesse tudo o que eu tinha para oferecer. Então ele foi embora. Idiota.

idolo.Where stories live. Discover now