PANDORA
A ausência dos paparazzi significa que aproveitamos tanto nossa estadia no hotel, que até reservamos outro em Dallas. Ninguém esperaria que um membro do Crack Bikini frequentasse tal lugar - o que é ótimo para nós. Quando acordo, o quarto está com um cheiro característico. Com o nosso cheiro. Há um fone de ouvido sobre a mesa, uma guitarra, um teclado elétrico e o que sobrou de uma garrafa de vinho e uma pizza.
E lá está ele também.
Nem sei como descrever esse sentimento, uma mistura de dor e prazer toda vez que olho para ele. Ele sorri quando me aproximo, mas continua cantarolando, dedilhando o teclado. O tom é suave, quase romântico.
- Essa música está na minha cabeça - ele diz.
É claro. Há um motivo para eles terem ganhado três prêmios Grammy até agora e serem considerados por muitos os deuses atuais do rock'n'roll. Conforme observo Mackenna - ele ali, criando uma música com os olhos fechados, murmurando para si mesmo antes de anotar os versos -, sinto as barreiras ao meu redor vindo abaixo. Por ele. Pela facilidade de se perder com a atenção do público. O pessoal especializado em turnês, com suas luzes grandes e intensas. Sem falar daquelas luzes azuis internas, quase dando a impressão de que estão num maldito bordel. Eu jamais conseguiria viver assim. Nem mesmo por ele. Mas ele lida muito bem com tudo isso. Ele ainda é exatamente como era, exceto pelo fato de estar mais forte e confiante.
E sua confiança e força são extremamente sensuais.
Observo-o em silêncio, aceitando pela primeira vez que é assim que era para ser. Talvez esta viagem não me traga vingança, e sim paz.Analiso as orelhas dele, como são lindas, apenas um pouquinho pequenas para o formato do crânio. Admiro-o ali, compondo. Pela maneira como cantarola, tenho certeza de que é uma música romântica.
Eu me lembro de um artigo na revista Rolling Stone. Ele e os gêmeos foram questionados sobre os paparazzi, e disseram algo como:
- Metade disso tudo é pura mentira. As fotos simplesmente começam a aparecer, e o pior é não lembrar quem as tirou, muito menos quando ou como.
- E a outra metade? - o jornalista perguntou.
Eles deram risada, e Mackenna respondeu:
- Tudo verdade. Cada maldita palavra.
Conversaram sobre como gravavam, reservando dias para ensaios e checagem de som,
cantando por horas infinitas até chegarem ao som perfeito. Falaram sobre ficar 18 horas direto no estúdio e aparecerem no topo das paradas da Billboard. A entrevista foi concluída com os caras discutindo sua abordagem tranquila ao criar novas músicas - reunindo-se para escrever, rascunhar e cantarolar. Falaram sobre tudo isso.
Mas, agora, é só ele, com uma guitarra vermelha nos braços, tão surrada e excelente no que faz quanto o roqueiro que a segura.
Ele cantarola o começo, então faz um movimento com o queixo para eu me aproximar.
Não chorei quando ele me abandonou. Se começasse, não pararia nunca. Mas quando ele coloca a guitarra de lado, dá um tapinha no joelho e eu me sento, ele sussurra cinco palavras da música no meu ouvido, e a ardência em meus olhos me surpreende.
Não tive que lidar com o fato de ouvir sua voz na minha orelha até este mês. Não estava preparada para como iria tremer toda vez. Como machucaria profundamente.
- Não consegui escrever por um tempo - ele sussurra, e um sorriso adorável se desenha em seus lábios. - Obrigado por essa música, Pandora.
Balanço a cabeça em silêncio. Não consigo acreditar nisso, que, em algumas semanas, vou passar o resto dos meus dias assistindo-o pela TV. Vendo-o tão longe.
- Sou boa em inspirar, então - digo, analisando seu rosto, encantada como parece jovem à luz do sol da manhã. - Está escrevendo sobre meus dentes podres? E sobre os sapos que como?
- Ahh, essa é você. Como está indo a sua música, aliás?
- Vai indo - minto.
Inicialmente, contenho o impulso de tocar seus cabelos, então sigo em frente e toco nele um
pouco, de qualquer forma.
- Bom dia, Mackenna.
Ele me devolve o olhar, um prateado que nunca tinha visto em seus olhos.
- Bom dia, Pandora.
Ambos estamos sorrindo como idiotas quando ouvimos um celular vibrar. Levantando um dedo,
ele me diz:- Um segundo, Pink. - E coloca o telefone na orelha. Eu me levanto para pegar o cardápio do serviço de quarto e o ouço cumprimentar alguém que presumo ser um dos gêmeos.
- Não, não estou te zoando - ele diz, mas seu tom quer dizer estou fodendo com você. - O motor ligou e desligou. Preciso de um carro novo, e eles estão sem carros potentes no momento. Então vou ter que pegar uma moto ou alguma merda dessas.
Ah, meu Deus! Sério? Eu me viro, e ele levanta o polegar para mim.
Faço uma careta, colocando as mãos na cintura.
- É, ela queria outra Lambo ou uma Ferrari, mas eles não conseguem trazê-las a tempo, então
improvisei.
Balançando a cabeça, vou tomar um banho rápido. Saio do banheiro logo depois e vou pegar
roupas limpas, mas ele, com o telefone ainda na orelha, pula da poltrona e as tira de mim, colocando- as para o lado.
Aaaah. Ele não quer que eu me vista?
Ele está ouvindo a pessoa do outro lado da linha.
- Humm, sim... - Ele assente enquanto arranca a toalha de mim, depois me vira para a janela.
Inicialmente, não entendo, então vejo o que ele está tentando me mostrar. Em nossa vaga no estacionamento. Onde a Lamborghini estava.
Uma moto vermelha, novinha, parecendo recém-comprada, está parada do lado de fora, com dois capacetes pendurados no guidão. Ele desliga.
- Acabei de pedir mais algumas horas para praticar.
- Praticar o quê?
- Com você.
Olho por cima do ombro, para seu rosto másculo. Ele toca o meu peito por trás, com a mão
forte e ágil, então belisca e brinca com meu mamilo.
Ele sorri, seu brinco de diamante brilha conforme ele se inclina e beija suavemente o meu
ombro.
- O carro foi rebocado - ele confessa.
- Mas estava funcionando muito bem.
Ele morde minha pele, provocando uma onda de calor em mim.
- Escute, Pink. Não seria possível chegar onde eu estou sem ocultar a verdade vez ou outra.
Ele me vira e sinto sua ereção deliciosa contra o estômago.
- Mackenna - protesto.
- Exatamente o que eu esperava que dissesse, mas não no tom certo - ele murmura. - Vamos
consertar isso, Pink. Quero que fale gemendo.
Ele roça meus lábios nos dele. Prendo a respiração quando uma onda de calor relampeja em
mim. Ele roça meus lábios de novo e, quando emito um murmúrio rouco, ri com a vitória. - Mackenna - digo, gemendo ao agarrar sua nuca.Ele para de rir e escorrega as mãos abertas da cintura até minha bunda, encostando os lábios nos meus como se quisesse provar cada centímetro de mim. Jogo a cabeça para trás e ele a segura gentilmente, vasculhando cada canto de minha boca com a língua macia, quente e deliciosa. Isso me faz gemer. Ele murmura em resposta e me empurra contra a parede.
E, ali mesmo, me fode.
***
Estou animada para andar nessa moto. Bad boy. Moto. Talvez tenha fantasiado sobre isso uma vez... ou duas. Mas franzo o cenho para que ele não perceba.
- Um capacete? Sério? Em todos os meus sonhos andando por aí de moto, nunca usei um capacete.
- Vamos levar essa moto até Nova Orleans depois do show. Detesto falar a verdade para você, linda, mas você é cabeça-dura, e não imortal, e quero essa cabeça bonita intacta para que eu possa mexer com ela.
- Ah, bom, falando desse jeito...
Quero parar de sentir esse frio na barriga. Quero me lembrar de que ele me machucou e vai fazer isso de novo. Mas, com exceção de Magnólia, ele foi o único que me fez realmente feliz. Que arrancou meu lado menos mal-humorado.
- Coloque isso - ele diz, encaixando o capacete na minha cabeça. Ele olha nos meus olhos, beija meus lábios e sobe na moto. Levantando a perna, eu faço o mesmo, completamente consciente de que meus peitos estão pressionados em suas costas, de que minhas pernas estão abertas e encostadas nas dele. Encosto o rosto em suas costas e sinto o motor da Ducati quando ele dá a partida, dizendo para mim mesma, a todo momento, que nada disso é real.
- Você vai segurar firme, linda? - ele diz, então coloca a mão por trás de mim e aperta minha bunda, puxando-me para mais perto.
- Estou segurando firme, Kenna. Não vou me soltar, cair e morrer! - digo, e minha risada embaça minha visão.
- Jesus, essa boca - ele diz, balançando o capacete. Ele se vira e, sob o visor azul, posso sentir seus olhos me absorverem enquanto ele puxa meus braços para apertar mais a sua cintura. Então segura no guidão, levanta o descanso e, com outro ronco delicioso, partimos.
Rio alto e acho que ele me ouve, porque, através do vento, ele se vira ligeiramente. Uma boa parte de seu rosto está escondida, mas posso dizer que seu sorriso é largo.
- Você gosta disso? - ele diz, e sua voz carrega o barulho da moto. - Sim.
- Como se sente?
Feliz, penso.- Eu me sinto ótima - grito. - Por favor, só não cause nenhum acidente. ***
Em Dallas, as luzes do palco brilham conforme as dançarinas se apresentam e a orquestra toca. Kenna, Jax e Lex dominam o palco como uma tempestade. Mais tarde, quando canta uma das músicas mais lentas, Kenna se junta à orquestra no piano, e o público movimenta milhares de isqueiros na escuridão. "Pandora's Kiss" é a última música. Quando começa, a bateria entra com mais força, e cada batida coincide com o braço de Mackenna levantando, no ritmo.
Assisto lá de baixo. Lionel me disse para observar as dançarinas, porque os produtores realmente me querem no palco do Madison Square Garden. É difícil porque, apesar de tentar manter os olhos nelas enquanto dançam em volta de Kenna - e eu realmente tento -, é difícil não desviar os olhos na direção dele. As luzes acariciando sua pele, produzindo um brilho na peruca roxa, cintilando o anel de seu polegar conforme ele dança de um jeito que apenas ele consegue. Por mais que eu odeie admitir, estou começando a entender por que algumas fãs choram à simples menção de Crack Bikini.
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idolo.
Ficción históricaPandora Stone nunca conseguiu se recuperar depois que Mackenna Jones sumiu de sua vida e destruiu seu coração. Mas encontra uma chance de se vingar do ex, hoje lendário vocalista de uma banda de rock. Haverá um grande show em Seattle. E ela tem que...