PANDORA
Ele ficou dois dias fora, mas chega a tempo para o show. As câmeras estavam em todo lugar durante sua ausência. Olívia, Tit e meia dúzia de outras dançarinas estavam sendo legais comigo. Até perguntaram se eu queria sair com elas noite passada. Elas foram dançar.
- Pandora? - elas me chamaram.
- Obrigada, mas vou ficar por aqui hoje à noite - eu disse.
As câmeras se fixam em mim a partir do momento em que saio do quarto. Eles me filmaram
praticando com Yolanda, e também quando perguntei aos gêmeos se eles sabiam onde Mackenna estava.
Só estou livre no meu quarto, mas, a não ser quando ligo para Magnólia e minha mãe e tento responder a alguns e-mails de clientes, para não ter muito trabalho acumulado quando voltar a Seattle, me sinto bastante solitária.
Esta noite eu não poderia assistir ao show. Minhas pernas estão muito doloridas por causa dos ensaios de dança. Tenho tomado banhos frios e colocado gelo, mas não consigo ficar de botas e andar ao mesmo tempo, então digo a Lionel que não estou me sentindo bem e fico no hotel durante o show.
Então aqui estou, esperando sentada no corredor, apoiada na porta do quarto de Mackenna e olhando para os arranhões nas botas. Ouço o elevador chegar, e a algazarra dos caras fazendo piada preenche o corredor.
É quase inexplicável a forma como meu coração se contorce no peito quando o vejo. Ele está usando uma peruca rosa, bem parecida com a que usou no primeiro dia em que o vi, está vestindo uma calça de couro dourada e tem brilho salpicado no peito bronzeado. Além de seu uniforme diário: correntes, pulseiras e tatuagens.
E quero lamber, beijar, tocar, chupar e foder toda a energia dele. Também quero que ele me pegue nos braços e me diga que está bem. Que seu pai está bem. Quero dizer a ele que tem sorte deque ainda tem um pai. Independentemente se ele está ou não fodendo com sua nova vida, pelo menos o pai dele ainda está vivo. Diferente do meu. O pai dele tem a chance de se desculpar, fazer as coisas darem certo. Meu pai nunca pôde nem mesmo tentar explicar que aquela viagem "não era o que parecia" ou que ele não estava "envolvido com sua assistente". Nunca teve a chance de me dizer que, independentemente de qualquer coisa, ele sempre me amou.
As risadas param quando os três me veem. Há duas mulheres acompanhando-os, cada uma pendurada em um dos gêmeos. Mackenna está sozinho e, quando olha para mim, eu sei que está sozinho - por causa da repentina eletricidade que emana dele e vai até aqui, onde estou sentada.
- Oi, Kenna - digo, tentando me levantar. A ação fica um pouco esquisita, por causa dos meus músculos doloridos.
Imediatamente ele está ao meu lado, pegando meu braço, para me ajudar a me levantar.
- Você está bem? Leo disse que não estava se sentindo bem.
- Dor de cabeça, mas agora passou. Vai saber - minto, sorrindo discretamente.
Ele sorri para mim e coloca a chave na fechadura, levando-me para dentro com ele. Meus
joelhos vacilam quando ele se apossa de minha mão, apertando-a na dele, que é muito maior, e vai pegar a escova de dentes.
- Mackenna, ele está bem? - pergunto. Estou tão ansiosa por ele. Sei muito bem o quanto Mackenna ama o pai. - Seu pai.
- Sim, eles o encontraram.
- Você precisa de alguma coisa...? - Engulo em seco, porque é muito difícil dizer o que vem em seguida. - Precisa de mim?
Ele se vira e sou surpreendida pela necessidade atroz - crua, de destruir a alma, de cortar o coração - que vejo em seus olhos. De repente, não preciso de palavras. Todo meu corpo responde àquele olhar.
- Há câmeras aqui - ele sussurra. Então, silenciosamente, pega minha mão e me leva pelo corredor até meu quarto. Ele fecha a porta quando entramos.
- O que aconteceu? - pergunto.
- Ele ficou bêbado. Desmaiou em algum hotel com alguma prostituta.
- Ah, Deus, sinto muito.
- É... Bem, pelo menos não estava traficando. - No entanto, ele não parece muito convencido de
que está tudo bem.
Algo o está incomodando, e a necessidade de tranquilizá-lo é mais forte do que nunca.
Sinto a necessidade urgente de dizer algo:
- Olha, meu pai arruinou tudo também, Kenna. Mas ele nunca pôde... consertar as coisas. Seu
pai ainda pode.
Ele tira a peruca, joga-a para o lado com um suspiro, depois vai ao banheiro e volta com uma
toalha molhada, a qual passa lentamente sobre o peito bronzeado e musculoso.- Você já se perguntou o que teria acontecido se o seu pai tivesse a chance de pedir desculpas? - Mackenna me pergunta.
- Ele não se importava, nos traiu... - Acho que tudo que posso fazer é repetir o que minha mãe enfiou na minha cabeça por anos.
- Ah, Pink, ele se importava, sim - ele me contradiz. - Qualquer um que realmente a conhece não poderia não se importar. Por exemplo, aquela sua amiga que a protegeu quando você lançou uma bomba vegetariana em mim. Ela se importa.
- Melanie? - Sorrio ao pensar nela. Ela é o oposto de mim, e preciso dela. Preciso dela na minha vida do jeito que qualquer ser vivo, exceto um parasita, precisa do sol. - Brooke, Kyle... acho que eles se importam também - admito. Então, por impulso, desbloqueio meu telefone e lhe mostro uma foto de Magnólia enquanto ele continua limpando o brilho dos braços. - Ela se importa comigo mais que todos.
- Olha só para isso. Quem é essa pequena?
Adoro tanto o sorriso dele, que sinto uma pontada deliciosa no peito.
- Minha prima. A mãe dela lutou contra uma leucemia, mas não resistiu. Magnólia nos salvou...
salvou minha mãe e eu. Não sei onde estaríamos se não fosse ela ter entrado em nossas vidas.
- Precisamos de uma pequena capa para ela com um M bem grande, para que ela saiba que é
uma estrela, que tal?
Sorrio ao colocar meu celular para o lado.
- Você está me zoando, mas gostei da ideia. Ela adoraria. Não quer ser princesa, parece mais
inclinada a ser uma pessoa com capa. - Como a tia Pink?
Sorrio e ele dá risada comigo, então sua expressão se torna sombria. Ah, Deus, eu estava com saudade dele. Só estou com a banda há duas semanas, mas já senti sua ausência pelos últimos dias. E senti falta dele mais do que nunca.
- Sabe, a banda... - ele começa, mas para e toma fôlego. - Quando meu pai foi preso, e minha vida ficou uma merda, e perdi tudo o que eu amava... - Ele se concentra em meu olhar e assente solenemente. - A banda me salvou também.
Sinto aquela dor sempre presente, aguda como nunca, atingindo-me.
- Fico feliz que o tenha salvado, Mackenna - sussurro.
- Eu estraguei tudo, Pink.
- Como? Por ter ido embora? - Não sei por que pergunto isso, mas as palavras saem antes de eu
perceber.
- Não. - Com movimentos lentos e predadores, ele se aproxima. - Porque, quando pude
finalmente me encontrar com você, não o fiz. Não achei que me quisesse, mas isso não deveria ter me impedido. Deveria ter voltado para buscá-la.
- Não, não deveria. Porque minha cozinha teria mais munição do que apenas tomates. - Dou uma risada falsa, tentando amenizar o clima.Infelizmente, ele não acha engraçado.
Antes que ele fizesse mais estragos em minhas barreiras - que estavam mais fracas a cada segundo -, puxo sua cabeça até mim e começo a morder seus lábios.
- Você sentiu a minha falta? - de repente ele quer saber. Ele afasta a boca até estar a menos de um centímetro da minha. Ele me tortura ao deixá-la ali, imóvel, afastada de mim. - Você sentiu a minha falta? - ele pergunta de novo, escorregando as mãos sob os meus cabelos.
- Por favor, pare de tentar me fazer bancar a tola afetada. Apenas me beije.
- Você nunca será uma tola afetada, só me diga se sentiu a minha falta - ele insiste, olhando para mim com um olhar feroz.
Exalo ruidosamente, como forma de protesto, e ele ri suavemente.
- Tudo bem - ele sussurra, roçando os lábios nos meus. Acho que me livrei de ter que lhe dar uma resposta, então faço menção de beijá-lo. Mas antes que consiga tocar-lhe os lábios, ele diz: - Mas eu senti a sua falta.
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idolo.
Historical FictionPandora Stone nunca conseguiu se recuperar depois que Mackenna Jones sumiu de sua vida e destruiu seu coração. Mas encontra uma chance de se vingar do ex, hoje lendário vocalista de uma banda de rock. Haverá um grande show em Seattle. E ela tem que...