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PANDORA
Noite de show é uma loucura. É preciso ter dez olhos para andar nos bastidores sem tropeçar em algo ou trombar em alguém, e não se pode de jeito nenhum ficar no caminho.
Vejo Jax em um canto perto das cortinas, fumando, e de repente queria ter colocado meu cigarro eletrônico no bolso da calça.
- Ah, posso dar uma tragada? - pergunto. Jax solta a fumaça enquanto me passa. Trago e em seguida tusso. - É maconha?
- O que achou que fosse? - Ele sorri e faz menção de pegar de volta, mas eu dou um passo para trás, decidindo dar mais um trago.
Jax ri e bate nas minhas costas quando tusso.
- Calma, Senhora Jones - ele diz.
- Ah, por favor. Não sou a Senhora Jones.
- Bom, é assim que todo mundo se refere a você por aqui. - Ele sorri para mim. Percebo que ele
tem os olhos de um tom diferente, o mais estranho que já vi: violeta. - Temos a impressão de que a conhecemos, já que Jones canta sobre você, ele e tal... - Ele fala pausadamente, me tratando quase como um irmão naquele momento.
- É tudo mentira, acredite. Espere até ouvir o que eu tenho a dizer sobre ele. - Afirmo o que eu digo com um movimento vigoroso de cabeça, e ele dá uma gargalhada sonora.
Do nada, Lionel aparece e toma o cigarro da mão de Jax, jogando-o no chão e pisando em cima. - Livre-se disso, Jax. Jesus Cristo, quantas vezes vou ter que te dizer isso?
- Humm. Mais uma?
Leo o olha com a expressão severa e se vira para mim.
- Quer assistir ao show da primeira fila? - Notando minha hesitação, ele me empurra até a porta e me leva para fora. - Vamos. Vai ser divertido... E, se você estiver lá, é uma coisa a menos para eu me preocupar. Não quero que Kenna se distraia. Ele já está obcecado com qual peruca vai usar hoje.

- Ele fica ridículo de qualquer jeito, então diga a ele que pode ir de moicano - tento fazer graça ao segui-lo para fora.
Acho que sabia que haveria repercussões por estar na primeira fila: ouvir a multidão gritar "CRACK BIKINI" quando ele entra, os Vikings aparecem e a música começa. O som é inicialmente lento, como nas preliminares, depois vai acelerando, até parecer um orgasmo musical arrebatador. Deveria ter imaginado que meu corpo me trairia, como da última vez. Deveria ter imaginado que me sentiria quente, incomodada e confusa...
Como da última vez.
Mackenna está usando um moicano azul pontudo sobre o cabelo curtinho. Minha nossa, as coisas que aquilo faz comigo... Ele está me zoando ou era para me satisfazer? Ele é tão bom no que faz... A multidão está extasiada, e ele cumprimenta a todos com uma risada discreta e um grito vigoroso.
- Vocês estão barulhentos esta noite!
A multidão responde gritando mais alto e, depois de um breve intervalo da orquestra, ele se posiciona no centro do palco e começa a cantar.
Meu corpo se reverbera com a música. Com sua voz.
Ele canta incrivelmente concentrado, e o que me deixa mais maravilhada é que ele nunca fica parado. Com o corpo em constante movimento e os músculos tensionados, ele faz movimentos fluidos que precisam ser falsamente fortes. Observando aqueles saltos que ele dá... como ele pula de um lugar para outro do palco e gira no ar... preciso me concentrar em encher meus pulmões, pois eles pararam de funcionar espontaneamente.
E, como se a visão dele não fosse suficiente, o som de sua voz atinge meu corpo inteiro, fazendo o sangue pulsar furiosamente nas veias. Sua voz é tão profunda e máscula que nenhuma mulher ali poderia sair ilesa. Ele canta com o coração, e é possível enxergar, talvez até sentir, isso em cada palavra. Quando ele canta "Pandora's Kiss", consigo ouvir a raiva incutida na música, mesmo com o solo louco das guitarras dos gêmeos... e minha própria raiva, frustração e dor irrompem lá do fundo. Olho para ele. Repentinamente, sua expressão ficou sombria.
Ele olha para mim com o olhar doloroso, e meu estômago se contorce quando ele continua cantando sem tirar os olhos de mim. Aqueles olhos de lobo me caçaram na multidão, me encontraram e me capturaram. Ele também parou de dançar. Os dançarinos fazem suas performances atrás dele, mas ele está parado, olhando para mim, e cantando: "I shouldn't have opened you up, Pandora...".1
Conforme ele canta sua frustração e seus arrependimentos para mim, sei que é para as câmeras. Tem de ser.
Estou confusa. O ódio dele e o meu se misturam, formando uma combinação poderosa, da qual
emana uma elétrica e inegável faísca de desejo. As pessoas gritam, a música vibra em todos nós, mas está emaranhada em mim como se fosse outro ser. Respirando. Pulsando. Batendo.

idolo.Where stories live. Discover now