Capítulo 7 - A História de Mordaque

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Pov Moira

Eu não tinha energia pra isso, ignorei a atitude da capitã e parti em direção á cozinha, estava faminta e precisava encontrar algo que pudesse comer.

Quando entrei no cômodo, Mordaque vestia um avental particularmente limpo, assim como os utensílios e panelas penduradas, apesar de velhos e amassados.

Ele levantou o garfo com um pequeno polvo que se enrolava nele e o levou até a boca, engolindo de uma vez enquanto o animal se contorcia.

- Com fome?

- Não.

- Hei, docinho. Não se preocupe, vou cozinhar para você.

- E você sabe cozinhar?

- Sei sim, eu disse a você. Legista e cozinheiro.

- Achei que era piada ruim.

- Eu estava tentando te impressionar - ele piscou para mim e bateu com força o fundo de uma panela contra a parede, deixando-a reta.

Bonito, forte, corajoso... se não fosse tão engraçadinho seria um boa distração.

- Legilimente também.

Olhei assustada por um segundo e fechei a minha mente na mesma hora.

- Desculpa - abaixei os olhos sentindo minhas bochechas corarem.

- Tudo bem.

Como forma de amenizar a vergonha resolvi puxar assunto.

- Como aprendeu a cozinhar?

- Quando saí da escola, há três anos, fiquei responsável pela cozinha da hospedaria.

- Aquela hospedaria? - curvei os lábios para baixo em uma expressão de nojo.

- Não era daquele jeito quando pertencia a minha mãe.

- Ela vendeu?

- Mais ou menos. A minha mãe era ótima anfitriã mas péssima com as finanças, depois que meu pai sumiu ela ficou endividada.

- O que houve com ele?

- Faz muitas perguntas, docinho.

- É meu trabalho - dei de ombros, o estômago roncando enquanto Mordaque empanava os bifes, a carne era estranha mas eu não estava ligando, no momento.

- Bem, chegou um homem na vila há dois anos, bem vestido, carregava uma mala com um 'M' bordado, parecia sério e rico. Procurava alguém que o levasse até a catedral.

- A mesma que estamos indo?

- Sim, mas nenhum dos guias estava disposto, meu pai não era explorador mas conhecia a região melhor que ninguém. O homem pagava bem então...

- Seu pai o levou até lá.

- Levou, mas não voltou.

- Sinto muito.

- Obrigado, amor - a frigideira fez um barulho característico quando o empanado tocou o óleo - a minha mãe ficou doente e morreu logo depois, deixou a hospedaria cheia de dividas então o credor a tomou e ainda fiquei devendo quase dois mil galeões.

- E qual a sua história com Charles?

- Ele vinha muito na hospedaria, nas férias quando eu estava em casa, ouvia ele contar as histórias sobre dragões.

- Ele gostava da sua comida?

- Ele não comia, quase tudo era feito de carne de dragão.

- O comércio dessa... iguaria, é crime.

- Eu sei mas vendia bem - ele tirou o bife da panela e o cercou com purê de batatas quentinho.

- Isso é dragão?

- Javali.

- Não importa, eu estou faminta - levei um pedaço da carne a boca e quase delirei com o sabor.

- Bom? - ele sabia a resposta, me olhava confiante, com um sorriso de canto encantador.

- E ele te contratou? Como se tornou legista?

- Bem, eu conhecia os cortes como ninguém.

- Que horror - cobri a boa ca cheia com a mão para falar - mas ao menos você pode pagar sua dívida.

- Charlie assumiu, nunca me contou sobre o que eu devia mas eu sou...

- Um bom legilimente.

- É - ele riu - Charlie fez um acordo com o novo proprietário, paga por mês.

- Isso deve incomodar você.

- Um pouco mas eu pego tudo o que me sobra do salário e coloco aos poucos nos bolsos da jaqueta dele.

- Isso é acolhedor de se ouvir.

- Pode ser - ele deu de ombros - mas Charlie acaba gastando tudo em cenouras pros cavalos.

Ele voltou a rir, a comida estava ótima e a cozinha acolhedora.

Mas durou pouco, o navio deu um tranco e as luzes piscaram algumas vezes, olhei para Mordaque e vi que ele tirava o avental com rapidez.

Um som alto de grito me fez tampar os ouvidos.

- O que é isso?

- Dragão. Estamos sendo atacados.

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