Garras

Capítulo 8 - Sob Ataque

Pov Moira

As luzes ainda piscavam a medida que o navio chacoalhava quando subi as escadas de volta ao convés, assim que a porta abriu fui atingida por uma tempestade intensa que me molhou dos pés á cabeça antes que eu conseguisse entender o que acontecia.

- Içar velas - a voz da capitã veio de algum lugar a frente.

Ouvi um som agudo cortando á chuva e um mastro veio da minha direita em alta velocidade.

- Moira - Mordaque agarrou minha cintura e me puxou para trás um miléssimo de segundo antes da vela me atingir - volte para dentro.

Voltar para dentro era a última coisa que eu faria, lutei contra o coldre na cintura á procura da minha varinha, senti algo passando pelos meus pés e notei que eu estava em cima da corda da vela que era puxada com rapidez.

- Difin... - a corda apertou o nó no meu tornozelo e eu caí de costas sendo arrastada pelo convés, senti os dedos de Mordaque passarem pelos meus em um tentativa falha de me segurar.

Minha perna foi levantada, eu estava sendo içada pela vela e subiria até o topo, na luta para me soltar eu só via os pés de Mordaque escorregarem no piso de madeira e gritos ensurdecedores de cima.

Um som de lâmina cortou o ar e eu caí cerca de um metro de volta ao chão, aos pés de Charles que puxava a espada que acabou ficando presa no mastro com o golpe.

Do chão pude ver o céu acima de nossas cabeças, estava limpo e estrelado, sem nuvens que eu pudesse ver, um dragão imenso passou por nossas cabeças incendiando o tecido da vela e então entendi.

Não estávamos em uma tempestade, o movimento das asas colossais estava movendo a água do mar, criando ondas que atingiam desde o chão até o topo o cesto da gávea.

- Mantenha o curso - a capitã gritava, eu ainda não conseguia vê-la mas atrás de mim e logo acima no tombadilho estava Einar, mesmo para um homem daquele tamanho a tarefa de segurar o leme parecia impossível.

O dragão passou outra vez, me levantei ainda agarrando a varinha, na porta que dava para o interior Dominic olhava embasbacado para fora.

- Charles, onde está a capitá?

- Na proa, o dragão danificou o mecanismo subaquático, ela esta tentando concertar.

- Não vamos submergir.

- Não temos escolha.

- É ilegal - Dominic tomou partido ao meu lado.

Olhei para o dragão que se levantou batendo as asas com toda a força. Atrás do leme, na parte mais alta havia um arpão de pesca.

- Vamos derruba-lo - era minha decisão.

- Não! - Charles gritou quase tão alto quanto o dragão que agora incendiava a segunda vela.

Eu não tinha tempo para temer o homem, ele era grande mas eu estava no exercício da função, no comando e era rápida.

- Dom, os canhões.

Corri em direção ao arpão, segurando onde podia para não cair, quase engatinhando os degraus para a parte mais alta do convés.

- Mordaque, atrás dele - Charles ordenou, o legista era maior e mais forte que Dom mas eu tinha que confiar nas habilidades de combate do meu assistente.

Alcancei o arpão, segurei nas empunhaduras e virei para cima, procurando o animal pelo visor, era uma mira incerta mas eu só precisava que ele parasse novamente.

- Moira, não faça isso - era o Weasley tentando me alcançar, a segunda vela caiu bloqueando o caminho entre ele e onde eu estava e respirei aliviada, usando todo meu poder de concentração na tarefa.

Mas fui surpreendida por uma pancada forte na lateral da cabeça que fez meu ouvido zumbir, caí soltando o arpão que passou por um tris do animal acima e acertou a parte mais á frente do navio onde Charles disse que a capitã estava.

Levei um segundo para perceber que havia sido atingida por um golpe de Einar que ainda mantinha o punho fechado, ele havia soltado o leme e o barco sacudia ainda mais agora.

- Vamos submergir - a voz da capitã se aproximava - para dentro.

Einar se afastou e pulou o parapeito caindo em um baque surdo no convés. O barco deu um tranco e inclinou para frente, escorreguei pelo piso e me choquei contra o parapeito, me segurei tentando me levantar bem a tempo de ver a capitã passar para dentro do navio, o mastro em chamas ainda bloqueava a passagem e o barco estava afundando.

Eu não podia me desesperar, eu devia pular o parapeito mas não teria onde me segurar e eu escorregaria até a proa que já estava sob a água.

- Moira, pula - era Charles, ele segurava em uma corda que parecia estar presa junto ao tombadilho onde eu estava, a cada segundo o barco inclinava mais, eu cairia direto na água se pulasse do parapeito - eu estou aqui, vou te segurar.

Nossos olhares se cruzaram e á luz vermelha do fogo seus olhos assumiam um azul profundo como o mar, eu confiei tão cegamente, passei as pernas pela madeira e me joguei, caí no piso do convés e escorreguei como havia previsto, rápido e sem controle.

Eu não conseguiria, passaria direto por Charles e cairia mas no último instante ele me alcançou segurando no meu pulso, agarrei a mão dele e o Weasley me puxou para cima. Segurei na corda e escalei até a porta mas foi Charles que pegou na maçaneta.

Ele me agarrou pela cintura e me puxou para dentro, a água vinha ameaçadora em nossa direção e ele fechou a porta no instante que seriámos engolidos pelo mar.

Me vi encostada contra o corrimão, o agarrando com as duas mãos nas costas, Charles estava tão perto quanto possível, seu peito encostando nos bicos dos meus seios, saltados pela água gelada que me molhou da cabeça aos pés, enquanto ele respirava pesadamente.

- Você - minha voz saiu em um sussurro - você me salvou.

- Não - percebi a raiva em sua voz com essa única palavra e levantei o rosto para ele - eu apenas impedi que morresse.

- É exatamente isso que salvar significa.

- Não, não é - ele falava entre os dentes, seu olhar parecia entrar na minha alma, minha respiração ficou mais pesada e minha cabeça começou a doer - salvar é o que tentei fazer com aquele dragão lá fora.

- A minha atitude foi correta, ele estava nos atacando.

- Ela, é uma fêmea que teve seu filhote morto.

- Por que ela nos seguiu?

- Talvez tenha me visto levar o filhote para a reserva. Ela não nos atacou de propósito.

- O protocolo diz...

- Que se dane seu protocolo - Charles levantou o punho e acertou a parede atrás de mim com toda força, minha cabeça latejou e doeu ainda mais - aquilo lá fora é a natureza, o dragão, o mar... é isso que tenho que salvar de pessoas como você, o que eu fiz te trazendo para dentro foi apenas gentileza.

Engoli em seco, cada célula do meu corpo vibrando com a intensidade da irá que ele direcionava á mim.

Charles se afastou e me encarou por alguns segundos antes de descer a escada, me deixando completamente sozinha.