Capítulo 15 - O Dragão Dourado

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Pov Moira

O som agudo do martelo batendo no metal estava transformando minha dor de cabeça em algo surreal, eu estava sentada em um tronco de árvore caído enquanto Charles tentava secar sua jaqueta na fogueira recém acesa.

- Pronto, agora o outro lado - Mordaque rodou a perna mecânica de Vivien sobre a pedra e continuou a martelar a fim de desamassá-la.

- Você não se incomoda, não é? - falei para o cachorro ao meu lado que deu um chiado ao perceber que eu o olhava - te invejo.

- Moira, sua barraca está pronta.

- Obrigada, Dom - me levantei depressa e passei por ele na entrada.

A barraca era imensa por dentro, três cômodos em azul royal e branco. Muito parecido com meus aposentos em Londres.

Me troquei, colocando um pijama em seda clara e chinelos de tecido. Absolutamente confortável e me sentei no sofá repassando as informações que Dominic havia recolhido nos últimos dias.

A entrada da barraca se abriu e por ela passou o cão de cabeça baixa, farejando todo o carpete por onde passava. Observei enquanto ele puxava, com os dentes, uma almofada de cima do sofá e deitava sobre ela.

- Com licença? - a entrada abriu novamente, dessa vez passou por ela um homem grande e sem camisa.

- Como se sente, Weasley?

- Muito bem, graças a você - ele segurava a camisa nas mãos na frente do corpo como se quisesse se esconder - podemos conversar?

Eu assenti e coloquei os papéis sobre a mesa de centro antes de apontar uma poltrona para ele.

- Eu vim agradecer pelo que fez, se atirar em um lago cheio de criaturas ferozes para salvar alguém que mal conhece... nem todos fariam.

- É o meu trabalho - dei de ombros mesmo que uma satisfação imensa palpite em meu peito - era só isso?

Ele não respondeu de imediato, seus olhos se concentraram nas próprias mãos torcendo a camisa entre os dedos. Em pensamento eu orava para ele colocar a camisa outra vez antes que meus olhares se tornassem assediadores.

- Eu estive pensando - ele começou com incerteza - porque as criaturas se tornaram tão hostis?

- Estavam famintas, Mordaque disse que elas caçam por aqui.

Ele riu baixo e balançou a cabeça lentamente.

- Sereias são vorazes, se estivessem com fome, não teríamos a menor chance.

- O que acha que pode ser?- Eu não sei, mas não é normal.

Essa era outra informação que eu precisava processar. O visitante misterioso, o pai de Bentley, os dragões mortos, o ataque a taverna, o livro do bardo.

Eram tantas coisas que pareciam estar interligadas e ao mesmo tempo não. Eu precisava encaixá-las.

Meus olhos pararam nos arquivos sobre a mesa de centro e uma pequena ponta cinza aparecia sob os papéis. Peguei a foto com cuidado, mostrava a catedral para onde estávamos indo e no topo, desenhado no vidro com cobre havia uma gravura a qual eu estava habituada.

Um arrepio passou pela minha espinha me fazendo estremecer.

- Moira? O que houve?

- Não é nada - disse enfiando a foto de volta no monte.

- Sei que não começamos bem - ele me encarava com a testa franzida parecia suplicar - mas estamos juntos nessa. Se tem algo pode me dizer.

- Eu tenho visto uma figura se repetir. No livro do bardo, no colar de Einar, na catedral. É um dragão com duas cabeças.

- O Dragão Dourado.

Ele disse como se fosse óbvio, mas eu mostrei minha total ignorância curvando os lábios para baixo e balançando a cabeça.

- É uma lenda - Charles continuou, eu apoiei os cotovelos nos joelhos ansiosa por algo que ligasse as coisas - diz que essa montanha é a cela da maior criatura que já andou sobre a terra, capaz de incendiar o mundo inteiro sem parar para descansar. Tão grande quanto a própria montanha, uma besta de duas cabeças que dorme sob o chão.

- E o que mais?

- Bem, reza a lenda que esse dragão pode ser controlado, um feitiço ritual que vai acordar o Dragão Dourado e dar ao domador total controle sobre o animal.

- Mais alguma coisa?

- Algo sobre um guardião. Sabe, alguém capaz de amar um animal com tanta intensidade que daria sua própria vida.

- Alguém como você - seus olhos brilharam com minha colocação - e qual o papel desse guardião?

- Impedir que a criatura acorde - ele respirou pesadamente - mas isso é só uma lenda.

O cão grunhiu e se ajeitou na almofada fazendo muito barulho.

- Vai deixar ele aqui?

- Ele não ouve, Weasley. É inútil pedir que saía.

- Posso levá-lo para fora.

- Não, deixe-o aí. Assim todos dormimos em pares.

Meu rosto começou a esquentar e precisei me levantar andando pela sala até o aparador onde me servi de uma dose de bebida.

"Concentre-se, Moira. Você está a trabalho, não importa onde Charles durma."

Mas era inútil tentar me convencer quando seu corpo sem camisa estava sentado na minha poltrona, a lembrança do momento no barco fazendo meus seios formigarem onde ele havia beijado.

- Sei que você pensa que dormi com Vivien na noite passada - sua voz quebrou o longo silêncio, seus passos se aproximando lentamente - mas somos amigos. Nada aconteceu.

- Isso não me cabe saber - minha voz era falha e ansiosa.

- Moira? - sua mão tocou meu ombro o que me fez virar bruscamente para encará-lo, agarrei o aparador nas minhas costas e pressionei minha lombar contra ele - você me pediu profissionalismo mas uma hora, quando acabar...

- Eu não aguentaria esperar acabar.

Seus olhos estavam tão fixos nos meus que quase me desafiavam a não piscar. Meu peito subia e descia ofegante.

- Moira?

Segurei em sua nuca o impedindo de sair a qualquer lugar, o beijei com desespero, minha língua violando sua boca áspera com ferocidade.

- Fique?

- Na barraca?

- Na minha cama.

Senti seu corpo estremecer e suas mãos seguraram minha cintura com firmeza. Toquei seus ombros deslizando pelos bíceps contraídos, voltei a beijá-lo enquanto Charles me segurava tentando falar, ao me afastar de sua boca ataquei seu pescoço com grandes chupadas estaladas.

- O que vai acontecer amanhã?

- Eu não sei - murmurei.

- Só preciso saber se consegue trabalhar ao meu lado com o mesmo empenho se fizermos isso.

Me endireitei e o encarei, tirando as mãos totalmente dele e assumindo uma postura ereta e confiável.

- Sim, Charles. eu consigo.

Ele sorriu quase fazendo meu coração parar, tentei alcançá-lo mas tive os pulsos segurados e prendidos com as mãos grandes contra o aparador.

- Está bem, auror. Mas vai ser do meu jeito.

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