Pov Moira
Charles me decepcionou a tal ponto que mal consegui olhar para ele. Além de ignorar minha autoridade como auror, havia traído a confiança que eu não dava a ninguém.
Me afastei o suficiente para não ser vista por ele, não sabia quando o dragão ia levantar ou o que ele faria com a montanha quando acontecesse mas tinha que resolver isso antes que tudo estivesse perdido.
- Vai sair, docinho? - a voz de Mordaque veio triste e arrastada.
- Como você está?
Ele abriu os braços para que eu o olhasse, sujo e ferido. Me aproximei colocando a mão sobre seu peito.
- Estou falando disso.
Mordaque segurou meu pulso mantendo minha mão junto ao seu corpo e sussurrou para mim.
- Me deixa ir com você - senti seu coração acelerar.
- Tem que cuidar do Charles.
- Vivien está com ele, ela daria a própria vida por Charlie. Mas eu posso te ajudar, o que quer fazer?
- Preciso achar Dominic.
- Não acredita que ele tenha feito tudo isso?
- Nem um pouco e não posso deixar ele lá. Dom tem apenas dezessete anos, como vou explicar aos pais dele que o perdi?
- Bem, eu vou te ajudar a achar ele e você me ajuda a tirar meu pai de lá.
- Temos um acordo - me afastei oferecendo a mão para um aperto e ele cuspiu na dele antes de me entregar.
Eu não pensei antes de fazer o mesmo e senti como se estivesse realmente selado.
Olhei em volta para ter certeza de que Charles não nos veria, Brutus se meteu entre as pernas de Bentley quase o fazendo cair.
- Não, você não vai. Já causou problemas demais.
- Você ama ele.
- É um bom cachorro. Devia ter conhecido em seus dias de glória.
- Mas têm razão, é melhor ele ficar.
Depois de uma luta para convencer Brutus a ficar com Charles, segui com Bentley até os arredores da catedral, estava afundada vários metros abaixo e parecia nada estável.
Usamos uma árvore próxima para nos esconder enquanto planejava um jeito de acessar a construção.
- Vamos demorar muito para descer.
- Não com uma tirolesa - saquei minha varinha apontando para qualquer canto no chão - incarcerous.
- Entendi - Mordaque pegou a corda e a amarrou em uma adaga que trazia na cintura - só queria ter a força de Charles.
Ele jogou a adaga em direção a catedral como uma lança e ela se prendeu entre a madeira de uma janela.
Mas faltava a outra ponta que amarramos em um galho alto da árvore para dar impulso. Bentley tirou o cinto da calça e ela desceu um pouco.
Antes de Charles, eu teria achado isso provocante ao ponto de acreditar ter minutos sobrando mas logo meus olhos voltaram para o rosto de Bentley.
- Está pronta? - eu assenti, passei o cinto pela corda e segurei as duas pontas - confia em mim, docinho?
- Com minha própria vida. Mas espere, acha que aguenta?
- Eu não, mas você... talvez. Devo contar até três?
- Vai me empurrar quando chegar no dois?
Ele riu, se eu ficasse pensando ia perder a coragem então corri e me joguei, o cinto arranhando na corda produzia um cheiro de couro queimado, a corda quase aguentou mas pouco antes que eu chegasse ao ponto seguro para pular, ela arrebentou fazendo com que eu balançasse e batesse contra a parede caindo no chão.
A dor foi indescritível, irradiando da minha costela fraturada para todos os ossos do meu corpo e levantar foi uma tarefa difícil.
- Você está bem? Moira?
- Estou.
- Eu vou descer pelas pedras.
Ele demoraria vários minutos, não dava para esperar. Passei pela porta caída, os bancos da catedral e o altar estavam em pedaços, assim como a entrada do corredor que levava á câmara Mortuária.
As poucas tochas ainda acesas iluminavam de forma pobre o local estreito, grandes montes de entulho se acumulavam, me obrigando a escalar e passar por estreitas aberturas próximo ao teto.
Imaginei como seria impossível para Mordaque passar por ali mas me convenci que ele estava em melhor estado para tirar as pedras do caminho.
Passando pela sala dos templários os vi se reerguendo, as pedras rolavam e se juntavam, formando pés e pernas lentamente, parei para escrever 'Cuidado' na parede.
A câmara estava acesa apesar da escuridão da noite, uma luz azul fraca que me atraía. Não me surpreendeu em nada.
As paredes rachadas suportando tochas que tinham suas luzes azuladas sugadas para o chão onde estava a lápide quebrada, os entornos das rachaduras em laranja vivo como lava.
- Sabe a temperatura necessária para derreter concreto, Srta. Scringeour?
Minha atenção foi para a figura encapuzada de costas para mim. Não que eu não o tivesse notado, aliás não me importei em fazer silêncio ou não ser vista.
- Olá, padrinho.
Ele se virou lentamente tirou sua túnica e levantou os olhos para mim. Limpo, bem vestido e de cabelo alinhado.
- Estava imaginando quando você descobriria.
- Bastou ligar os pontos. Os livros antigos jogados na sua sala do ministério perfeitamente arrumada, os artefatos históricos que sempre te facisnaram - não estava muito a fim de contar vantagem então fui breve - Aí cheguei a catedral e vi os vitrais sob a luz do dia criando padrões luminosos, os mesmos que vi no seu rosto quando te liguei pela chave de portal a primeira vez. Estava aqui, nesse local.
- Não me surpreende, escolhi você para ser seu tutor por um motivo. Sua inteligência.
- Mas sabe que foi um homem chucro e bruto que me deu a pista final? Quando Harold apontou para o meu pingente. A letra M do meu nome, ele reconheceu a grafia, da mala. Você usou uma mala minha para a expedição porque todas as suas tinham o símbolo do Ministério.
- Isso foi algo que não previ. Mas imaginei que ninguém faria a ligação, afinal, qualquer garota egocêntrica tem as iniciais bordadas em toda parte.
- Acho que não previu mais que isso, achou que Charles viria comigo, que seria fácil mata-lo.
- É o que acha?
- Também não previu que seu executor resistiria a maldição imperius, colocando fim a propria vida.
Ele riu e balançou a cabeça olhando para o corpo de metal no chão, mas não havia humor na sua voz.
- Ah, Moi-mô. Você está certa em achar que Harold estava sob a imperius mas ele não resistiu, a maldição foi tirada no momento exato. Não percebeu o traidor bem embaixo do seu nariz.
Então era isso, tudo estava planejado. Desde que Rycroft deu a missão a mim porque sabia me enganar até eu ter deixado Charles para ir sozinha até a catedral sozinha.
Um ronco veio acompanhado de um tremor no chão e as luzes azuis fraquejaram.
- O feitiço não vai segurar o Dragão por muito tempo - Philostrade sorriu abertamente - tem que ser agora.
Mas algo ainda não encaixava, meu padrinho era o mestre, ele teria que matar Charles pessoalmente para controlar o dragão.
Ouvi as pedras do corredor onde eu passei serem tiradas para abrir mais espaço e então eu percebi.
- Mordaque?!
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Garras
FanfictionCharles Weasley ajuda uma jovem auror a investigar estranhas mortes de dragões em uma região isolada e cheia de segredos.