04

43 10 21
                                    

Depois de meter a água para o banho de Toorou a aquecer, Ksana voltou a subir ao quarto.

- Muito bem, vamos tomar um banho sim? - Levantou com cuidado as mantas da cama, não sabia ao certo o quão sensível estava a pele do seu pai adotivo.

Mas de todas as vezes que algo lhe tocava Toorou queixava-se, embora nunca muito alto. Por isso ela precisava manter-se atenta a todos os sons, por mais pequenos que fossem.

- Preciso que me ajudes um pouco...- Embora não comesse como antes, Toorou tinha uma estrutura óssea forte.

Com cuidado Ksana puxou as pernas de Toorou para fora da cama tentando ser o mais rápida possível para que não o magoasse na estranha posição que o homem se encontrava agora deitado.

- Pronto, só mais um pouco e já estamos de pé. Eu prometo. - Subindo com um dos joelhos no colchão e outro pé entre as pernas de Toorou, colocou o braço cuidadosamente por de trás do pescoço e puxou-o para a frente, amparando o peso do corpo com a outra mão e pedido auxílio a perna no meio das de Toorou.

- Isso mesmo, cá vamos nos. - Ksana passou o braço por dentro dos de Toorou, segurando-o de lado, colocou o braço direito do homem sobre os seus ombros. - Podias ajudar-me um pouco desta vez?

A última vez que Toorou tomou banho Ksana deixara-o cair a porta do quarto, um ataque de epilepsia foi o suficiente para que Ksana perdesse o controlo da situação, já que tinha de andar por dois.

- Vamos, um paço de cada vez. - Ksana a cada pé que mexia, automatizava os motivos de Toorou.

- Ksa..na. - O seu nome fora dito de forma fraca, mas notória aos ouvidos apurados da jovem mulher.

- Estou aqui. Não vai acontecer nada. - Não era incomum Toorou a chamar de vez enquando, sempre que podia Ksana respondia-lhe.

O seu coração entristecia ao pensar na possibilidade de quando estava fora de casa, Toorou não ouvir resposta.

- Do. - Por vezes Toorou falava pequenas palavras, Ksana tentava junta-las, mas nunca davam em palavras alguma.

- Vamos lá, mais um paços e passamos a porta.

-To.- Passaram a porta, até a banheira era pouco mais de dez paços.

- Mais um pouco. Só mais um pouco de esforço. - Ksana já puxava Toorou com toda a força que tinha, conseguindo-o sentar num banquinho perto da banheira.

- Vou ter de te despir está bem? - Ksana sempre mantinha os boxers de Toorou vestidos, não se sentia confortável, e acreditava que Toorou não se sentisse também.

Todos os domingos, quando Ksana saia para fazer trabalhos extra, uma mulher vinha e lavava-o melhor, a única coisa que Ksana fazia era mesmo para o fazer sentir melhor consigo mesmo.

Ksana pedira que lhe cortassem parte da banheira, sendo mais fácil para Toorou se sentar na tábua que estava apoiada nas bordas da banheira.

- Vou abrir a torneira da água quente. - A canalização da casa era velha, Ksana mantinha a água quente nos canos e depois é que a abria, na torneira certa, para não desperdiçar.

Voltou a correr para perto de Toorou. Tirou-lhe a roupa, e abriu o chuveiro.

- Está morna. - Ksana olhava o rosto do pai adotivo enquanto o molhava, procurando quaisquer sinais de dor. Não demonstrava nada.

- Re. - Mais um som produzido por Toorou, Ksana ignorou.

Lavou o cabelo e o corpo de Toorou com muito cuidado, e por fim tirou toda a espuma. Pegando em dias toalhas e limpando-o.

- Vou buscar roupa lavada, acabei por me esquecer. Só um segundo.

Correu para o quarto, pegou numa túnica branca e levou-a o mais rapidamente possível de volta a Toorou, que com certeza estaria com frio.

- Ksa...na. - A mão de Toorou mexeu um pouco em direção a sua.

- Sim?. - Era raro, Ksana diria raríssimo que Toorou se mexesse.

A mão caiu-lhe de novo ao lado do corpo, um suspiro perlongado fez-se ouvir.

- Não estou chateada, estou só desanimada, não melhoras nem com nada. Honestamente já não sei o que fazer...só vou continuar a trabalhar e esforçar-me o máximo para conseguir o dinheiro suficiente.

Ksana terminou de vestir Toorou, levanto-o de volta para a cama, com mais um pouco de esforço.

- Ainda não sei o que vai ser o jantar. Vou ver se o senhor do mini mercado tem algo de verduras hoje. Faço uma sopa e temos restos de ontem no frigorifico. - Ksana fechou a janela, o quarto já tinha tido tempo de arejar. - Tenho de ir as compras, eu prometo que não demoro.

Ksana saiu de casa a correr, não lhe agradava deixar Toorou sozinho, ficava sempre amedrontada com a sua segurança. Ele dera-lhe uma casa e uma nova vida, e existiam dividas que nunca conseguiriam ser saudadas, só com a vida.

- Boa tarde senhor Toji. - Ksana cumprimentou o homem ao balcão, Toji estava enfiado com a cara no jornal, e só grunhira a passagem da jovem.

Encontrou verduras e algumas cenouras, colocou-as dentro de um saco, e deu uma volta rápida pelo pequeno espaço, vendo se necessitava de mais alguma coisa.

Tirou um chocolate, ninguém é de ferro...

- Desta vez pagas? - Ksana devia ao dono da loja, nunca conseguia pagar no dia, o dinheiro era escasso.

- Eu prometo que lhe pago amanhã...em principio consigo o dinheiro. Eu prometo. - Toji não parecia satisfeito. Mas apontou o preço do que Ksana levava e deixou-a ir. Felizmente.

Correu de volta a casa, o saco balançando rapidamente com os movimentos. Avistou a casa no meio de tantas outras, só que desta vez havia um homem parado na sombra da casa. Vestido com uma gabardina preta e botas altas.

No escuro em que o sujeito se escondia Ksana não conseguia dizer quem era.

Continuo a avançar, e quando viu uma maca sair de dentro de casa e um corpo em cima dela, o seu coração disparou. O saco com as verduras caiu no chão, e como uma flecha Ksana alcançou o homem na ombreira.

- Boa noite, Ksana. - Dottore cumprimentou-a.

•[Sunflower]• Childe x OcOnde histórias criam vida. Descubra agora