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- Cristin, a quantos dias estamos do ano novo? - Da janela entreaberta da sala da casa dos avós de Nicholai, Ksana conseguia ver a agitação das principais vias de Sheznaya, o grande mercado e palco dos festejos do novo ano era mesmo em frente.

- Faltam dois dias, sol. - O apelido de Ksana foi-lhe dado por Cristin depois de lhe cortar o cabelo loiro tão curto que quando estava despenteado pareciam raios de sol.

- Vou sair daqui a dois dias. - O tempo e os cuidados de Cristin e do avô de Nic deram-lhe força e motivação, mas também tempo para se organizar e pensar num plano de recuperar Toorou.

- Se é o que o teu coração te diz, sol. Vai em frente. - A avozinha de Nicholai já se havia cansado de tentar combater aquilo que chamara "Tempestade Ksana" .

A mulher a janela sorriu, continuando a observar as pessoas que por ali passavam, e dando uma olhada nos trabalhos de construção do palco onde Tsaritsa iria discursar.

- E Pierro. - Era comum que a Arconde e o 1° dos seus Mensageiros falassem assim que os fogos terminassem.

- Dizeste algo coisa? - Um senhor em cadeiras de rodas aproximou-se.

- Não não senhor D'ira. - Ksana acenou gentilmente e o avô de Nicholai.

Sentia saudades da sua antiga casa, mesmo que aqui tudo fosse bom e a comida fosse a melhor, sentia falta das dificuldades em alimentar, vestir, mover ou qualquer outra atividade com Toorou. Nem que fosse ouvi-lo dizer sílabas soltas.

Iria dar um jeito de ter isso de volta, e de ele voltar a ser o Toorou de sempre.

Por vezes via Fatusi a patrulhar a zona, mas nada invulgar, parecia que ela ou o seu desaparecimento não preocupava nem um pouco a Pierro. Isso agradava-lhe.

Os acontecimentos daquela noite já haviam tomado a forma e ordem correta, e ela sabia muito bem quem tinha de encontrar...mas enfrentar tal nível de poder sozinha não seria a melhor escolha.

Precisava de aliados, e sabia onde os encontrar. Várias pessoas opositoras dos Fatui juntava-se todos os anos nos festejos para protestar.

Normalmente eram pessoas a quem os Fatui haviam retirado algo ou alguém. E Ksana agora juntava-se a eles este ano.

Eles poderiam faze-la treinar e trabalhar sobre o frio gelado, mas tocar em quem ela amava...de forma alguma ela toleraria isso de novo...

O batente da porta fez suar um alarme dentro de Ksana.

- Vai lá para cima. - Cristin passou por ela em direção a porta, como em todas as vezes durante a passada semana Ksana subiu as escadas para o segundo andar silenciosamente.

Manteve-se alerta.

- Bom dia senhora D'ira. - A voz de um homem subiu as escadas através das correntes de vento.

- Bom dia Robin. - Ksana sorriu, então era Robin que agora fazia a rota do correio que antigamente Nic entregava. Isso levava-a a questionar, quem faria a sua?

- O que te trás aqui hoje? Já paguei as minhas contas, e o meu neto escreveu-me ontem. Assim como o meu filho. - Cristin comentou.

- Senhora D'ira...venho por este meio informar-lhe que o seu neto foi encontrado morto, com sinais de tortura e mutações.

Ksana tinha completa certeza que o som que ouviu a seguir dessas palavras havia sido Cristin a cair no chão, desulada.

A porta foi fechada, e mais nenhuma palavra foi proferida. Ksana desceu as escadas a correr, esperando ver Cristin na porta.

A mulher idosa não estava no chão, quem estava no chão era Nicholai. O mundo de Ksana começou a rodar, fazendo-a ficar tonta.

Os seus olhos apenas viam Nicholai a ser torturado por Dottore, os seus ouvidos ouviram os seus gritos, e sentia na pele os cortes profundos e as cozeduras com linha e agulha depois de partes de monstros serem-lhe pregadas. Junto de Nicholai uma menina loira olhava para ela. Levou um momento até perceber que era ela, ali parada, a olhar para tudo aquilo sem fazer nada.

•[Sunflower]• Childe x OcOnde histórias criam vida. Descubra agora