Toorou parecia morto naquela cama de lençóis brancos e perfumados. As mãos cruzadas em cima do peito e a pele branca deram a Ksana um sentimento de náuseas.
A sala onde se encontravam tinha um enorme vidro, e ela sabia que do outro lado se encontrava Ajax, a observa-la.
Aquela sala lembrava-lhe uma sala de interrogatório, se é que já estivera em alguma.
Não se atreveu a mover-se nos primeiros momentos, e muito menos a falar. Mesmo com aquela aparecia fantasmagórica, parecia dormir tranquilo.
- Ksa...na. - Era a primeira vez em muito tempo que ouvia o seu nome a ser dito daquela forma. Mas parecia-lhe mais audível.
Não tinha como Toorou saber da presença da jovem no quarto, os seus olhos estavam agora abertos mas encarando o teto, como se memórias passadas se refletissem na tinta branca acima dos seus olhos.
Ksana manteve-se em silêncio, encostada a porta, só observando a sala. Alguns medicamentos repousavam na mesa ao lado da cama, uns Ksana conhecia, eram os mais baratos conseguia comprá-los, ou outros ela nunca havia visto.
- Tsaritsa. - O nome da Arconde foi proferido sem qualquer dificuldade, num sopro apenas.
Uma sensação de formigamento percorreu a espinha de Ksana, fazendo-a retrair-se incomodada.
Aquele vidro escuro realmente incomodava-a, apenas de desejar ir até Toorou, qualquer movimento seu poderia ser visto como uma afronta. E mesmo não podendo falar com ele, queria pelo menos ficar mais um pouco. Só mais um bocadinho.
Fechou os olhos e imaginou-se no dia em que conhecera Toorou.
A neve era fria por baixo dos seus pés, mas tentava caminhar ao passo dos homens adultos, para pelo menos, os acompanhar e não os fazer parar a cada dez metros para ver se ela ainda os seguia.
- Anda daí criança! - Um dos homens parecia irritada com a falta de jeito para Ksana andar.
- Coitada. Deve estar com os pés gelados. Se tivesses mais bom senso....- Um homem de cabelo grisalho aproximou-se mas olhava para o homem com desdém.
Ele fora quem a trouxe até aqui, prometendo-lhe comida.
- Bem, vem aqui. - O homem voltou-lhe as costas e deu palmadinhas no seu próprio ombro.
Ksana subiu nas costas do homem, e quando deu por si o calor que emanava do seu casaco de pelo fora o suficiente para a aquecer e adormecer.
Acordou depois numa tenda, tapada com o casaco do homem. Conseguia ouvir o som de brasas a saltar, devia haver fogueira no exterior. Permaneceu deitada por mais um bocado, sentia falta dos seus pais, da sua vida anterior. Segurou a visão Cryo entre os dedos e assim que ouviu paços na entrada da tenda apressou-se a esconde-la dentro do bolso do seu próprio casaco.
- Acordada? - A voz sussurrou. Ksana fechou os olhos e fingiu.
O homem aproximou-se, colocou se sobre os joelhos e gentilmente sobrou para os olhos da menina, que os mexeu denunciando a sua mentira.
- Boa tentativa, mas quando estamos a dormir os nossos olhos não reagem ao vento. - Ouviu e viu agora o homem sentar-se ao seu lado. Cheirava a madeira queimada.
- Posso saber como te chamas?- Ksana sentou-se e cruzou as pernas, mas não respondeu.
- Eu sou Toorou. - Apresentou-se - Sou líder desta expedição, viemos até aqui mesmo por causa da tua aldeia, mas parece que chegamos tarde de mais. Eu, assim como todos os Fatui, e Tsaritsa, lamentamos a tua perda. - Os olhos cinzentos do homem demonstravam a veracidade dos seus pensamentos.
- Ksana. - O homem sorriu e acenou afirmativamente com a cabeça.
- Fica aqui, vou buscar algo para comeres, e falamos mais um pouco, se quiseres.
Ksana aguardou, e olhou a sua volta, havia outro saco cama como a dela no chão, está devia ser a tenda de Toorou. Uma carta repousava nesse saco cama, assim como uma pena com a ponta preta.
- Sabes ler? - Ao entrar Toorou viu Ksana bisbilhotar a carta. A mesma voltou ao lugar com um olhar culpado.
Toorou riu, entregando-lhe uma tigela de sopa de rabanetes quente.
- Na verdade não. - Ksana corou.
- É uma carta para Pierro. Um relatório de missão. Vou dizer que te encontramos, ao menos alguém sobreviveu.
Ksana assentiu triste. E começou a comer a sopa, era a primeira refeição quente em dias, talvez semanas.
- Tens uma visão não tens? - Toorou colocou a carta num envelope enquanto falava.
- Eu suponho que sim. Pelo menos pelo que ouvi dizer, a cerca de como elas se parecem. - Toorou devia tê-la visto quando a pegara ao colo de cima dos túmulos dos seus pais.
- Tambem tenho uma. - Afastou o casaco e um pingente vermelho brilhou com luz do sol que trespassava a tenda.
Ksana assentiu, e comeu o resto da sopa.
- Não falas muito pois não? - A menina encolheu os ombros e Toorou suspirou.
Aquele havia sido o único da sua nova vida, passou mais alguns dias e Toorou recebeu uma carta de Pierro de volta.
Agora fora da tenda Ksana aprendia como manejar uma espada.
- Ksana? -. A voz de Toorou fez-se ouvir no meio daquela quietude de neve.
- Sim? - perguntou limpando o suor da testa.
- Pierro quer que faça de ti um de nós. Um Fatui. Aceitas? Vens para a capital connosco, podes continuar a viver comigo mas na minha casa, tens escola e tudo o que quiseres lá. - Ksana segurou firmemente o cabo da espada, sentindo as mãos congelares.
- Toorou...eu devia ficar aqui, aqui é o meu lugar. Ficar com eles. - Olhou em direção ao caminho que levava a sua aldeia.
- Eles estão mortos. - O mesmo Fatui que vivia a importar a vida de Ksana, nem hoje lhe dava tréguas.
Como resposta a ousadia do homem, uma rajada de fogo voou na sua direção, direcionada do cajado de Toorou. O Fatui deve a meros segundos de não se consegue desviar.
- A conversa não é contigo, volta para o acampamento. Agora! - Toorou estava irritado.
- Ksana, pensa bem. Tens 3 dias.
Eles levantariam o acampamento nesse tempo e voltariam a capital.
Ksana acabou por ceder no segundo dia, com a promessa que todos os verões voltaria a aldeia, o que aconteceu durante alguns verões, mas depois Toorou adoeceu.
- A visita acabou. - Dottore sorriu quando empurrou a porta onde Ksana estava encostada.
- Espera. - Tirou de dentro do sutiã uma moeda. - Corta isto. - Encarou Dottore, mesmo que isso lhe desse ódio, mas as suas palavras dirigiram-se a Tartaglia.
Com uma faça a moeda foi dividida em dois.
Caminhando até Toorou, viu que o mesmo agora dormia. Suspirou de alívio.
Abriu-lhe a mão, colocando metade da moeda.
- Eu venho te buscar, der por onde der. Só preciso de arranjar mais umas coisas. Eu prometo. - Sentiu a palma da sua mão e a moeda dentro dela aquecerem.
Passou por Dottore a sair da sala, e apenas por um momento não cedeu a sua ira. Não queria piorar a situação para Toorou.
- Agora vamos para Liyue. - Como anteriormente Tartaglia puxou-a.
- Eu sei andar Idiota. - Ksana sacudiu o braço e libertou-se de Tartaglia.
- Ah pensei que ver o Dottore te faria tremer as pernas. - Tartaglia riu
- Childe* - Ksana resmungou, e acelerou o passo.
* Referência não só ao nome do personagem como a tradução da palavra do inglês para o português ( Criança)
VOCÊ ESTÁ LENDO
•[Sunflower]• Childe x Oc
FanfictionKsana é uma jovem recruta dos Fatui. Adotada por um Fatui quando os seus pais morreram, espera agora conseguir agradecer-lhe por tudo. Porém o seu pai adotivo, Toorou, encontra-se em estado grave, com um cancro misterioso. O objetivo da jovem mulhe...