11_ As apimentadas

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Alguns dias se passaram desde que conheci os personagens de um dos meus livros favoritos. Alguns dias se passaram desde que eles tem convivido comigo me fazendo amar ainda mais cada um deles. Alguns dias se passaram desde a última vez que me senti solitária. Sempre me perguntei como seria ter amigos e agora eu tinha a resposta: era incrível.

Hoje era domingo. A semana havia passado bem rápido, levando em conta que eu os havia conhecido na segunda. Na terça tivemos a aula de yôga de manhã, na quarta eles passaram o dia inteiro na praia, na quinta passaram a maior parte do tempo na piscina da pousada, na sexta saíram a noite e voltaram quase quatro da manhã, eu não tinha ido com eles porque preferi ficar em casa lendo a tristeza em forma de livro que comprei na livraria. No sábado eles levantaram depois das duas da tarde e ficaram na praia. Enfim... Eles eram agitados demais para eu sempre acompanha-los sempre. Mas, as vezes até que era divertido.

Eles também foram dormir tarde ontem conversando perto da piscina e agora, quase uma da tarde, ainda não tinham levantado. Eu havia acabado de colocar o almoço nas mesas da pousada quando ouvi o som de um chinelo ser arrastado preguiçosamente pelo chão.

ㅡ Bom dia. ㅡ Gabriel bocejou passando por entre as mesas. Sorri com sua expressão de sono e pelo fato de ainda estar vestindo pijama. Um pijama de moletom leve dos Simpsons.

ㅡ Bom dia. ㅡ Ri virando-me para ele. ㅡ Eu acho que ainda sei os nomes de todos os personagens.

Gabriel me olhou confuso, até que pareceu se lembrar de que roupa usava. Ele olhou para baixo, olhou para mim, olhou para baixo novamente e logo depois deu com os ombros se sentando numa das cadeiras.

ㅡ Eu não lembro nem do nome do principal. ㅡ Ele passou a mão na cabeça. Parei de sorrir na hora e cruzei os braços.

ㅡ Que isso, Gabriel? Que absurdo! Espero que esteja falando isso porque está com sono. ㅡ Ele me encarou parecendo sem saber o que dizer.

ㅡ Er... É. Claro. ㅡ Assentiu. ㅡ É claro que eu sei o nome deles. Sei até o nome do cachorro. ㅡ Arqueei uma sobrancelha. ㅡ Ta, eu não sei. Mas, quem sabe o nome do cachorro?

ㅡ Ajudante de papai noel. ㅡ Respondi continuando com os braços cruzados, mas agora sorrindo.

ㅡ Eu nunca ia lembrar de um nome desses. ㅡ Ele se levantou e esticou os braços. ㅡ Se eu assisti dois episódios desse desenho é muito. Quantas temporadas tem?

ㅡ 34, eu acho. ㅡ Ele arregalou os olhos. ㅡ Acho um absurdo você não ter assistido pelo menos 29.  ㅡ Observei-o pegar um prato sobre a mesa e começar a colocar sua comida.

Gabriel riu de meu comentário e começou a olhar pela mesa procurando por algo. Notei que eu havia esquecido de colocar o pegador de arroz.

ㅡ Eu vou lá buscar. ㅡ Disse já indo em direção a cozinha.

ㅡ Que absurdo você esquecer o pegador de arroz. ㅡ Encarei-o com uma careta tocando a maçaneta da porta. Ele apenas sorriu e cruzou os braços esperando que eu buscasse o utensílio. Devolvi o seu sorriso e entrei na cozinha.

Abri uma das gavetas do armário puxando o pegador de arroz, mas parei antes de cruzar a porta. Me peguei sorrindo. Sorrindo porque conversar com Gabriel era fácil. Por muitos anos sofri por não conseguir dialogar direito com as pessoas. Eu, especificamente, evitada falar com as pessoas porque nunca me senti interessante. O assunto morria logo, o clima ficava estranho e eu não via a hora de chegar em casa e me trancar no quarto. Eu tinha vergonha de continuar a falar e acabar falando uma besteira, acabar soando estranha. Meu medo de me auto sabotar me fazia preferir ficar quieta. Mas... Não é um peso falar com Gabriel. É... Fácil. Eu não me sinto desinteressante. É até... Legal.

As Ondas do Amor Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora