15_ O que está acontecendo comigo?

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A segunda-feira se iniciou e com ela a minha segunda semana em Saquarema. Admito que ela foi bem diferente do que eu imaginei que seria. Óbvio! Quando que eu imaginaria que os personagens de um livro que eu amei ler estariam na mesma pousada que eu??

Quando cheguei nessa cidade na semana passada, já idealizei toda a minha rotina. Estaria sozinha na maior parte do tempo, trabalharia na pousada e teria o resto do dia para me preparar para enfrentar, em breve, a universidade. Porém, tudo que eu não fiquei foi sozinha.

Ainda era manhã e eu estava sentada na areia da praia. Nem sei o que deu em mim para acordar tão cedo e simplesmente ir a praia sozinha. Acho que eu só queria ouvir o som das ondas e esquecer que essa era a semana do ano que eu menos gostava.

Sei que, talvez, a data do meu aniversário não devesse mexer tanto comigo, mas quando essa data é esquecida por quase todos a sua volta, incluindo sua mãe, desde os dez anos, isso acaba se tornando um motivo válido para a repudia.

Esse ano pensei que meu dia passaria em branco, afinal, não teria amigos ou conhecidos aqui, meu tio certamente não se lembra da data do meu aniversário, e o único que sempre me lembrava era o Facebook, app que não utilizo já tem muito tempo. Tinha esperança de que até eu me esquecesse, mas agora Gabriel sabia, e me presentearia...

ㅡ Calma, Marina. ㅡ Engoli a frustração. ㅡ Não é pra tanto, nada de ruim vai acontecer. ㅡ Falei comigo mesma. A frustração do meu aniversário era baseada nas expectativas que eu criava, como eu já não tinha nenhuma, não tinha como me decepcionar mais uma vez.

Assenti comigo mesma me sentindo segura de meu pensamento.

Observei o livro fechado e terminado ao meu lado. Eu o tinha terminado essa manhã e já estava em abstinência. Não faria mal comprar outro, certo? Ler nunca é demais, como eu sempre digo para mim mesma quando quero uma desculpa para comprar livros compulsivamente.

Me levantei da areia limpei os graus presos no meu short e saí da praia. Ainda era bem cedo e o pessoal não tinha acordado, chegaram bem tarde, como de costume. Tentei não fazer barulho.

Me troquei, peguei uma ecobag, minha carteira, meu celular e saí do quarto. Me assustei quando vi Gabriel saindo da porta de seu quarto também arrumado.

ㅡ Que susto... ㅡ Tentei não falar alto.

ㅡ Sou tão feio assim? ㅡ Não, você não é. Nem um pouco.

Vai sair também? ㅡ Segui o corredor ao seu lado.

ㅡ Tenho que comprar umas coisas básicas que estamos precisando... ㅡ Ele ficou em silêncio parecendo tentar se lembrar. ㅡ Desodorante, pilhas, um carregador portátil e um chinelo de dedos, porque o Pedro perdeu o meu na praia ontem. ㅡ Descemos as escadas. ㅡ E você?

ㅡ Livros. ㅡ Dei com os ombros. Gabriel sorriu.

Saímos da pousada e caminhamos lado a lado pela calçada da praia.

ㅡ Essas coisas são tão importantes para você ter acordado tão cedo para compra-las? ㅡ Tentei ajeitar o meu cabelo que era jogado contra meu rosto frequentemente pelo vento que vinha do mar.

ㅡ Na verdade, não. É só que eu dormi cedo ontem e agora não conseguia mais dormir. Sem contar que o Pedro estava roncando igual uma descarga de privada. ㅡ Soltei uma gargalhada. ㅡ E você acredita que o Maicão canta dormindo?

ㅡ Mentira! É sério? ㅡ O encarei enquanto ainda ria.

ㅡ Aham. Acordei ouvindo alguém falar alguma coisa, quando olhei... Maicão cantando Você não sabe o que é amor do Luan Santana. Quase que esganei ele com o travesseiro. ㅡ Atravessamos a rua para entrar no centro comercial da cidade.

ㅡ Viver com vocês deve ser uma aventura. ㅡ Sorri imaginando.

ㅡ Bem... ㅡ Ele parou na esquina. Dali era possível ver uma loja de sapatos, onde ele certamente compraria o seu chinelo, mas também era possível ver a livraria, que ficava na outra direção. ㅡ Nós vamos juntos em cada lugar ou nos separamos aqui? ㅡ Não sei o motivo daquela pergunta ter mexido tanto comigo. De repente, não quis me separar dele. Não quis que ele se afastasse e muito menos que nos separassemos ali. E, tipo, isso era bizarro vindo de mim! Eu sou anti social! Meu maior desejo é que as pessoas vão embora para que eu fique só.

ㅡ Acho melhor irmos juntos. ㅡ Eu disse aquela frase com tanta naturalidade que me espantei comigo mesma. Eu realmente gostava de estar com ele.

ㅡ Tudo bem. ㅡ Disse ao sorrir com a minha resposta.

Se ele sorriu, significa que também queria estar comigo, certo? Ou pelo menos que não se incomoda com a minha presença. Detesto sentir que estou incomodando as pessoas.

ㅡ Vamos à sua livraria primeiro. ㅡ Ele indicou a livraria e seguimos em sua direção. Admito que sorri meio sem jeito quando vi que ele decidiu priorizar minha compra repentina de manuscritos.

Estávamos prestes a atravessar a rua quando um carro, bem apressado, passou por nós. Na hora do susto, Gabriel parou repentinamente e esticou o braço em minha frente para que eu não ultrapassasse.

Me assustei na hora, mas esqueci do que rolou no instante que Gabriel procurou minha mão com a sua e a pegou.

ㅡ Cara maluco... ㅡ Ele resmungou segurando minha mão. Eu não o respondi, pois estava encarando nossas mãos juntas. A sua era tão maior comparada à minha.

Ele me puxou atravessando a rua. Quando pisamos na calçada, sua mão deixou a minha.

Acho que nunca senti um vazio tão grande.

ㅡ Ta tudo bem? ㅡ Encarei seu rosto.

ㅡ Sim. ㅡ Respondi de imediato tentando disfarçar o fato de ele ter pego na minha mão ter me deixado tão atônita. Comecei a sorrir para não parecer estranha, mas parei de olha-lo quando senti minhas bochechas ficarem quentes.

O que estava acontecendo comigo??

Não olhei para Gabriel de novo, apenas voltei a andar quando ele o fez. Chegamos à livraria e eu deixei esses pensamentos de lado. Não tem nada que me faça esquecer qualquer coisa tão rápido quanto uma livraria.

Entrei no lugar e tomei a frente. Comecei a olhar os vários livros e comentar sobre alguns enquanto Gabriel apenas me seguia e me escutava. Eu falei sobre cada livro que li e ele simplesmente ouviu tudo sem parecer estar entediado!

Acabei escolhendo um, mas fiquei um bom tempo apenas admirando a capa e seus detalhes. Só percebi que estava sorrindo feito uma boba para um livro quando percebi Gabriel me olhando. Ele estava apoiado numa das estantes. Seus braços estavam cruzados e ele apenas sorria para mim.

ㅡ Que foi? ㅡ Voltei a sentir minhas bochechas corarem.

ㅡ É legal ver esses seus momentos. Você diz que é tímida, então me sinto privilegiado por ver como você é. Por ver os seus momentos de surto por um livro e entusiasmo. Por ver os momentos particulares da Marina. ㅡ Suas palavras fizeram o meu coração acelerar tanto que pude ouvi-lo bater.

•••
Continua...

As Ondas do Amor Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora