16_ Ele comprou os meus livros??

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Posso dizer com firmeza que minha parte favorita, depois do primeiro beijo, de um livro de romance, é o momento que os personagens começam a se apaixonar. Eu nunca me apaixonei na vida, então sempre que lia a personagem dizer que seu coração acelerava, que suas mãos suavam, que as pernas ficavam bambas, eu sorria feito uma tola imaginando como seria sentir isso.

Sentir isso de repente enquanto olhava para Gabriel me fez arregalar os olhos e virar de costas. Eu não estaria me apaixonando, estaria? Eu mal conheço ele, apesar de ter lido sobre sua vida, literalmente. Isso não estava acontecendo agora, não podia estar. Não estou pronta para sentir isso!

Se eu já fico gaguejando na frente de pessoas que nem conheço, imagina da pessoa que eu me apaixonar? Não, isso não pode acontecer agora. Eu pareço um bicho do mato, que tipo de cara gostaria de mim assim??

ㅡ Você... Está bem? ㅡ Gabriel deu um passo a frente parecendo confuso com a minha expressão. Sua aproximação fez o meu coração acelerar de novo. Encarei os seus olhos, olhos tão bonitos... Como eu poderia não me sentir atraída por ele? Me peguei olhando para sua boca. Eu encarei sua boca. Encarei tempo demais. Ele percebeu!

Larguei o livro na estante.

ㅡ Vou procurar outro. ㅡ Saí praticamente correndo de perto dele e me escondi por entre outras estantes, onde me certifiquei de que ele não poderia me ver.

Soltei o ar que estava segurando e tentei regular minha respiração. Meu coração estava tão acelerado que pude me imaginar tendo um infarto ali mesmo.

Morrer numa livraria... Seria uma morte linda.

Me esgueirei para fora das estantes e observei o Gabriel de longe. Ele estava no mesmo lugar que antes, mas estava observando um livro. Distraído demais para olhar na minha direção. Distraido demais para me permitir observa-lo bem.

Senti um nervosismo. Sabe aquele nervosismo de quando você vai encarar algo novo? Entrar numa nova escola? Conhecer novas pessoas? Não sei se todo mundo sente isso, as vezes pessoas extrovertidas não sentem ( eu acho essas pessoas incríveis, tipo super heróis ) mas eu sinto, e muito! E... Eu senti aquilo olhando para Gabriel. Senti um nervosismo imenso, como se estivesse prestes a encarar algo totalmente novo.

Ok, respira Marina. Você saiu de perto dele igual uma maluca, não pode agir assim, o que ele vai pensar de você?

Meu próprio intelecto me repreendeu e eu assenti obedecendo. Puxei um livro totalmente aleatório que estava atrás de mim na estante e voltei para perto de Gabriel como se nada tivesse acontecido.

ㅡ Encontrou outro? ㅡ Ele perguntou com naturalidade. Sua calma e serenidade me fizeram pensar se ele não se sentia da mesma forma que eu. Certamente, não. Ele não parecia nem um pouco atraído por mim. Eu quase morri perto dele, mas ele tem agido comigo da maneira mais normal possível.

ㅡ Sim, é... ㅡ Virei a capa do livro para mim. ㅡ Como amar como as tartarugas. ㅡ Li em voz alta. Minha careta foi exatamente igual a dele.

ㅡ É... Então, tudo bem. ㅡ Ele riu parecendo meio confuso. ㅡ Não vai levar esse? ㅡ Mostrou a capa do que ele estava segurando, livro que eu tinha tido um surto a uns segundos porque estava muito ansiosa para ler.

ㅡ Ah... ㅡ Encarei o livro em minhas mãos. Escolher o que eu realmente queria ou fingir demência e ficar com o livro das tartarugas para não parecer estranha? Ter corrido até o outro lado da livraria para pegar um livro que eu nem vou levar? ㅡ Não tenho dinheiro suficiente pros dois, então vou ficar apenas com esse.

ㅡ Isso não é problema. ㅡ Ele balançou a cabeça e pegou o livro das minhas mão.

ㅡ Han? ㅡ Fiz uma careta quando ele virou as costas e seguiu na direção do caixa segurando o livro que eu queria e o das tartarugas.

Gabriel pagou pelos livros.

Ele pagou pelos meus livros!

Saímos da livraria e ele me entregou os livros.

ㅡ Agora... ㅡ Ele olhou de um lado para o outro. ㅡ Vamos comprar meu chinelo. ㅡ E seguiu pela calçada esperando que eu fizesse o mesmo, contudo, me senti colada naquele chão.

Se ele olhasse para trás, me veria o encarando com uma expressão totalmente chocada. Ele comprou os meus livros! Ninguém nunca comprou livros para mim, a não ser o meu pai como forma de recompensar a sua falta de presença.

Gabriel percebeu que eu não o estava acompanhando e olhou para trás.

ㅡ O que foi? ㅡ Ele se virou para mim. ㅡ Quer mais algum livro?

ㅡ Não! ㅡ Respondi de imediato. Se ele comprasse mais algum eu sentiria que o estava extorquindo. ㅡ Eu só... Nada. ㅡ Corri um pouco para conseguir chegar até ele.

Gabriel sorriu para mim assim que parei em sua frente, mas não consegui devolver o sorriso. Estava ocupada demais admirando o dele.

Nós dois rodamos o centro da cidade para comprar tudo o que ele precisava, quando terminamos, ele sugeriu que parássemos na lanchonete Marisco. Sentei-me num dos bancos de frente para o balcão, mas ele não se sentou.

ㅡ Preciso trocar esse dinheiro, só tenho nota alta. ㅡ Deixou suas sacolas no banco do meu lado. ㅡ Eu já voltou. Pode ir pedindo, eu quero... ㅡ Encarou o cardápio colado a parede. ㅡ Um Kibe.

ㅡ Ok. ㅡ Assenti.

Gabriel saiu de perto de mim e eu pedi o seu lanche e o meu. Estava folheando o livro das tartarugas quando alguém sentou do meu outro lado.

ㅡ Hoje eu não te derrubei. ㅡ O rapaz falou. Olhei em sua direção e me surpreendi quando o reconheci. Era o guarda-vidas que joguei no chão.

ㅡ Ah... ㅡ Quase cai da cadeira de vergonha. Pensei que não o veria nunca mais e não me lembraria daquele dia. ㅡ Quer dizer... Oi. ㅡ Forcei um sorriso. Ele riu.

ㅡ Tudo bem? ㅡ Puxou um dos cardápios e começou a olha-lo. Demorei um pouco para respondê-lo, então o mesmo me fitou ainda com o cardápio em mãos.

ㅡ Sim. ㅡ Respondi brevemente. E esse era meu tipo de diálogo com as pessoas. É um porre ser tímida a esse ponto. Engraçado que quando fico inventando fanfics na minha cabeça antes de dormir, falo igual uma tagarela nos meus diálogos imaginários.

ㅡ Esse livro é muito bom. ㅡ Apontou para o livro em minhas mãos. Dessa vez eu reagi de uma maneira sincera, pois fiz uma careta. Pensei que ninguém na face da terra conhecia aquele livro.

ㅡ Sério? ㅡ Franzi o cenho.

ㅡ É, o nome é curioso, mas você entende bem no final. ㅡ Ele sorriu assentindo. ㅡ Eu sou fascinado por ler livros que ninguém da nada. Geralmente, são os que mais me surpreendem.

ㅡ Mesmo? Deve... Deve ser muito legal. ㅡ Nunca parei para pensar nisso. Talvez eu devesse dar uma chance ao livro das tartarugas.

ㅡ Quando terminar, e se um dia nos encontrarmos novamente, me diz o que achou. Tenho 96% de certeza de que você vai se surpreender.

ㅡ Ok. ㅡ Sorri assentindo.

ㅡ Consegui. ㅡ Gabriel apareceu. Seus olhos passaram por mim até focar no tal rapaz, que não sei o nome. ㅡ Tudo bem? ㅡ Olhou para mim e logo depois para o rapaz.

ㅡ Sim. ㅡ Concordei com a cabeça.

ㅡ Tudo bem? Eu sou o Vitor. ㅡ O rapaz, que agora sei que se chama Vitor, estendeu a mão para Gabriel.

ㅡ Gabriel. ㅡ Se cumprimentaram.

ㅡ Ele é guarda-vidas que eu joguei no chão na praia. ㅡ Expliquei.

ㅡ É um prazer. ㅡ Gabriel se sentou ao meu lado. Nossos lanches foram colocados em nossa frente e Vitor pediu algo para ele. Não escutei, pois estava encarando a capa do livro. Estava com certa... Expectativa. Deixei um sorriso escapar. Amava ficar empolgada para ler uma nova história.

•••
Continua...

As Ondas do Amor Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora