Um Acaso por Acaso

Capítulo 1: 8B

Wednesday estava em mais uma tentativa falha de adormecer por pelo menos mais uma hora. Chegara por volta das cinco em casa e ainda não era nem dez da manhã quando foi acordada por barulhos que pareciam vir do apartamento da frente. Ela precisava dormir um pouco mais, pois sabia que a festa que a aguardava mais tarde também terminaria tarde. Além do mais, quando dormia pouco, Wednesday ficava rabugenta; mas precisaria forçar simpatia se quisesse animar a boate que a contratara aquela noite como DJ.

Ela não gostava de se gabar, mas sabia que era uma das melhores DJ's da região; e as pessoas também notavam isso, pois sua agenda estava lotada pelo resto da semana.

A garota colocou o travesseiro sobre o rosto como se aquilo fosse abafar os barulhos externos. Funcionou por uns instantes, mas quando finalmente pensou que cairia no sono novamente, sentiu um peso sobre seu corpo e uma lambida áspera em sua bochecha. Aquilo a fez rir, mas também a fez reclamar.

- Nero! Você sabe que a mamãe precisa descansar, não sabe? - Ela falou e em seguida retirou o travesseiro do rosto encarando os olhos amarelados do gato de pelo preto; o felino ignorou completamente o que ela dissera e soltou um miado baixo - Qual o problema? 

Nero pulou de cima dela em direção ao chão e saindo do quarto em seguida. Wednesday sabia bem o que aquilo queria dizer.

Relutante, ela levantou da cama e foi em direção a cozinha, onde o gato já a aguardava.

- Eu daria qualquer coisa para que você mesmo colocasse sua ração quando estivesse com fome.

Ela abriu o armário e quando pegou o pacote de ração, o gato ronronou em resposta. 

- Você está sempre com fome, impressionante. - disse enquanto despejava a comida no pote do gato.

Seu foco foi embora dali quando ela ouviu uma voz feminina do lado de fora:

- Cuidado com isso! Minha louça inteira está dentro dessa caixa. - A voz dissera.

Tomada pela curiosidade, Wednesday aproximou-se da porta de entrada de seu apartamento e ficou na ponta dos pés para espiar pelo olho mágico o que acontecia no 8B.

Viu alguns homens entrarem com caixas e mais caixas e outros carregando móveis. De relance, observou uma moça que estava de costas parecendo dizer onde cada coisa deveria ficar. Tinha cabelo loiro e curto e parecia estar impaciente com algo.

Ela teria ficado mais tempo observando se não tivesse ouvido seu celular vibrar repetidas vezes em cima de sua mesinha de centro. Caminhou até lá e pegou o aparelho lendo as mensagens que Tyler mandara.

" - Pronta pra hoje?" 

" - Ouvi dizer que vai ser open bar!!!"

" - Yoko, Bianca e Divina também estarão lá. Eugene furou mais uma vez"

" - Parece que vão levar uma amiga também"

" - Fica esperta, Addams. Se a mina for gata, saiba que vou marcar território"

Wednesday apenas riu das mensagens que seu amigo mandara, especialmente da última. 

Todos sabiam que Tyler era apaixonado por Wednesday, e eles até chegaram a se beijar uma vez quando a garota estava chapada demais para pensar em algo. Ela se arrependia daquilo pois não queria que ele criasse expectativas sobre algo que jamais ocorreria novamente e também porque o garoto era quase um irmão para ela.

Animada, ela o respondeu dizendo que daria o seu melhor naquela festa e que tudo que precisava era mesmo de um open bar.

O barulho do lado de fora de seu apartamento havia cessado e ela agradeceu aos céus por isso. Certificou-se que Nero ainda tinha ração suficiente em seu pote e retornou para o quarto onde se jogou em sua cama, adormecendo minutos depois.

*

No apartamento da frente, havia uma Enid sem saber por onde começar a arrumar as coisas. Caixas e mais caixas espalhadas pelo chão para ela organizar tudo em seu devido lugar. A garota sabia que não teria tempo para mais nada pelo resto da semana e sua atenção seria dedicada a arrumar tudo. Mesmo assim, ela não recusara o convite de Yoko para ir a uma boate. Yoko mencionara algo sobre conhecer a DJ responsável por animar a festa e garantiu que a diversão era certa.

E, bem, Enid teria tempo para conseguir organizar tudo. Não voltaria a trabalhar até a inauguração de seu estúdio fotográfico, o Black Photograph. Seu estúdio era sua conquista mais recente e ela estava orgulhosa de onde havia chegado sem receber muito apoio dos pais.

Fotografia era sua vida. Capturar os momentos das pessoas era o seu refúgio. Entretanto, sua mãe sempre reclamava e dizia que a filha precisava de um emprego de verdade e que hora ou outra, a fotografia a deixaria na mão. 

Enid, por outro lado, sabia que não era bem assim. Estava em sua melhor fase financeira: havia comprado um carro fazia menos de três meses, se mudara finalmente para um lugar só seu e agora possuía seu próprio estúdio fotográfico. E tudo isso ela conseguira com o seu talento como fotógrafa. 

Apesar da pouca idade, seu talento era notório e sempre era contratada para fotografar casamentos, batizados, aniversários e até mesmo eventos da cidade. 

Seu maior desafio agora era morar só. Seu pai apoiara quando ela informou sobre a decisão de sair de casa. Ele estava feliz e orgulhoso por ela conseguir conquistar tudo apenas com seu esforço e dedicação.

Sua mãe, por outro lado, a julgou como incapaz de sobreviver apenas da fotografia e achava que em menos de um mês morando só, os bombeiros precisariam ser chamados por ela ter esquecido algo no fogo.

Mas, sinceramente? Enid pouco se importava com as baboseiras que sua mãe falava. Estava ocupada demais vivendo sua vida e queria que só por um momento, sua mãe fizesse o mesmo.